A proposta da Comissão Europeia de "reindustrializar a Europa" virou tema de debate entre empresários da região. A ideia é aumentar a participação da indústria na produção econômica do continente, dos 15,6% de hoje para 20% até 2020.
Alguns executivos que participaram ontem da Cúpula Europeia de Negócios, porém, consideram a meta pouco mais que uma vaga esperança. Para eles, o verdadeiro desafio é evitar que a desindustrialização se intensifique.
O problema enfrentado pelo setor manufatureiro da Europa vai além do fato de que seus mercados domésticos, como demonstram os dados econômicos desta semana, estão atolados na maior recessão desde a Segunda Guerra Mundial. O problema é que muitas empresas estão sob fogo cruzado da concorrência.
Por um lado, a indústria europeia é desafiada pelo setor manufatureiro dos Estados Unidos, revitalizado pela queda dos custos de energia, graças em grande parte à exploração bem-sucedida de gás de xisto. Por outro, há os formidáveis exportadores chineses, sustentados por crédito abundante e barato do governo e insumos de baixo custo.
As tensões comerciais entre a União Europeia e a China aumentaram nas últimas semanas com a decisão da Comissão Europeia, o braço executivo da UE, de impor tarifas pesadas sobre as importações de painéis solares chineses e de fazer uma investigação antitruste das fornecedoras de equipamentos de rede Huawei Technologies Co. e ZTE Corp. 000063.SZ +1.37%
Embora exista um debate sobre a sensatez de se confrontar a China, alguns executivos pelo menos acreditam que, com o tempo, o país vai se tornar um concorrente mais convencional, uma vez que responda a processos por concorrência desleal. Mas quando o assunto é energia, as empresas europeias se veem diante de um dilema real. Elas pagam preços que estão entre os mais elevados do mundo no setor e o mercado unificado de energia da UE — que, segundo seus defensores, poderia dar um verdadeiro impulso à produtividade da Europa — é pouco mais que uma aspiração.
Ao mesmo tempo, os esforços do continente para reduzir as emissões de carbono são vistos mais como prejudiciais para a competitividade das empresas europeias. De acordo com a PBL, Agência de Avaliação Ambiental da Holanda, a UE foi responsável em 2011 por apenas 11% das emissões de dióxido de carbono, enquanto a China respondeu por 29% e os EUA, por 16%.
Apesar de parte da recente queda poder ser explicada pela recessão, alguns empresários argumentam que os números mostram que a UE pode fazer muito pouco para contribuir com novas reduções das emissões de carbono. Os grandes ganhos estão em outras regiões.
De fato, eles dizem que os altos preços dos combustíveis estão incentivando o fechamento na Europa de usinas de intenso consumo energético — como a produção de aço e alumínio — substituídas por importações de indústrias no exterior que às vezes são menos eficientes em termos energéticos. Este processo, conhecido como fuga de carbono, pode aumentar as emissões globais de carbono já que plantas eficientes na Europa estão sendo fechadas em favor de usinas menos eficientes em outras regiões. A confusa política da UE para a segurança energética, emissões de carbono e fontes de energia renováveis tem gerado um aumento do consumo de carvão na Europa em detrimento do menos poluente gás natural, diz Helge Lund, diretor-presidente da norueguesa Statoil STL.OS -1.15% ASA.
Para alguns, a ideia de reindustrializar a Europa soa um tanto antiquada. Pascal Lamy, o líder em fim de mandato da Organização Mundial do Comércio, disse durante a cúpula que os serviços estão cada vez mais incorporados na cadeia produtiva. "A linha que separa bens e serviços está cada vez mais tênue", disse.
No entanto, alguns executivos salientam que as economias que protegeram sua base industrial, principalmente a Alemanha, são as que têm sido mais resistentes à recessão no continente. Cada emprego industrial sustenta dois no setor de serviços, diz Jürgen Thurmann, presidente da Business Europe, um grupo de lobby empresarial europeu.
A notícia não é de todo ruim. Leif Johansson, presidente do conselho da Ericsson e também da Mesa Redonda de Industrialistas Europeus, disse que as reformas econômicas em algumas partes do sul da Europa estão começando a dar frutos. O receio menor de um colapso do euro também vai encorajar investimentos que vinham sendo adiados, disse.
Fonte: The Wall Street Journal
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