A ideia de que a indústria americana está prestes a renascer está em toda parte hoje em dia — exceto nos números.
É verdade que a produção industrial cresceu duas vezes mais rápido que a economia como um todo na atual recuperação econômica e que os fabricantes estão novamente criando empregos. Mas os economistas consideram esses ganhos muito pequenos em relação ao que foi perdido nos anos anteriores para indicar um pleno renascimento. As fábricas diminuíram tanto que, pela lógica, é inevitável haver alguns ganhos.
"Simplesmente não há provas estatísticas de uma ampla recuperação neste momento", diz Daniel Meckstroth, economista-chefe da Aliança Industrial para a Produtividade e Inovação, um grupo de Arlington, no Estado americano de Virgínia, que representa grandes fabricantes dos Estados Unidos.
Meckstroth diz que os dados que refletem fatores mais profundos no setor continuam a dar sinais de alerta. Considere os fechamentos de fábricas. Nos últimos 13 anos, a taxa de desativação de fábricas vem diminuindo. Isso é bom. O problema é que o ritmo das aberturas vem caindo ainda mais rápido. Resumindo, as fábricas americanas estão morrendo mais depressa do que nascendo.
Sem dúvida, muitos fabricantes americanos estão se saindo melhor agora do que há algum tempo. Isso é visível na contratação. As fábricas criaram mais de 500.000 empregos desde o início de 2010 e um relatório do Instituto de Gestão de Fornecimento, divulgado na segunda-feira, mostrou que o setor de manufatura continuou se expandindo em março. Mas esses ganhos não se comparam ao buraco profundo criado durante a recessão e pouco antes dela: as fábricas americanas perderam quase 5,7 milhões de postos de trabalho entre 2000 e 2010.
Há muitas razões para se fechar uma fábrica. Às vezes uma empresa encerra as operações para poder ganhar eficiência e se modernizar — consolidando-as em menos lugares e geralmente aumentando a produção no processo. Isso é bom para a economia, pois reflete uma produtividade crescente — a capacidade de produzir mais com menos, que é crucial para a elevação do nível de vida ao longo do tempo. Mas os fechamentos podem custar empregos no curto prazo e indicam que as indústrias estão longe de uma fase vibrante.
Monitorar o nascimento e a morte das fábricas "não é um indicador perfeito", diz Meckstroth. "Mas é o dado mais atual que temos — e ele não mostra nenhum renascimento."
O déficit comercial do país em produtos manufaturados, que continua teimosamente grande, é outro mau sinal. Se as fábricas americanas tivessem recuperado sua vantagem competitiva, faria sentido para elas estarem vendendo mais no exterior e no mercado doméstico, reduzindo o desequilíbrio. Mas isso não vem acontecendo.
Outra maneira de medir a competitividade é analisar a proporção de importados nas vendas de produtos manufaturados nos EUA. Aí se inclui de tudo, desde produtos acabados, como um liquidificador, até autopeças usadas pelas montadoras americanas para fabricar veículos. Um setor industrial recuperado deveria estar aumentando sua participação no mercado interno, mas isso também não está acontecendo, pelo menos não até agora.
Meckstroth estima que, em 2012, as importações responderam por quase 40% dos bens industriais consumidos nos EUA — um pouco mais que em 2011. De fato, depois de ter caído um pouco durante a recessão, a participação das importações vem crescendo há anos. O índice era de apenas 9% em 1967, quando o governo começou a calculá-lo.
Muitos dizem que a queda nos custos da energia, causada pelo boom do gás natural no país, vai ajudar a recuperação do setor industrial. Mas o preço do gás natural é apenas um dos fatores que as empresas consideram ao decidir onde vão instalar uma nova unidade.
Jan Hatzius, economista do banco Goldman Sachs GS +0.76% disse num recente relatório de análise que "o aumento da produtividade, os custos trabalhistas reduzidos, o baixo preço da energia e os aumentos de custos no exterior vêm tornando os EUA um lugar muito mais atraente para a produção, especialmente em termos relativos". Mas ele também não vê nenhuma evidência de que haja uma ampla revitalização em andamento.
"O aumento da produtividade mensurada tem sido forte", escreveu ele, "mas o desempenho das exportações americanas, que pode ser considerado um indicador mais confiável da competitividade, continua medíocre, na melhor das hipóteses."
Alguns especialistas insistem que a recuperação é recente demais para aparecer nos números. Outros apontam para casos bem conhecidos de empresas que trouxeram empregos de volta do exterior como prova de que a maré virou.
Enquanto isso, muitos fabricantes americanos dizem que entre as maiores barreiras ao renascimento da indústria estão fatores como o custo do seguro-saúde e as regras cada vez mais numerosas, que encarecem a expansão das operações no país.
Fonte: The Wall Street Journal
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