Dados no curtíssimo prazo serão determinantes para o Copom decidir elevar ou não a Selic em abril.
Os dados sobre inflação no curtíssimo prazo irão determinar se o Banco Central irá ceder aos apelos de agentes do mercado financeiro, que defendem uma alta da taxa Selic já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), ou se a decisão será postergada para o mês de maio. O encontro está marcado para os dias 16 e 17 de abril.
A alta disseminada dos preços está presente na economia desde o ano passado. No entanto, a partir de agora, ela passa a ter maior peso na formação dos índices de inflação para o ano que vem, o que reforça a atenção em cima desses dados.
No acumulado de 12 meses, a inflação medida pelo IPCA já bate no teto da meta, que é de 6,5%. No entanto, se ultrapassar muito esse teto, as projeções para 2014 começarão a ser revistas para cima, e é com isso que o BC está preocupado.
Para o vice-presidente da SulAmérica Investimentos, Marcelo Melo, o ciclo de alta dos juros deve ter início na reunião de maio, fazendo com que a Selic suba de 7,25% ao ano para 8,5% até o final do ano.
No entanto, caso a inflação de março venha acima do esperado, o início desse ciclo pode ser antecipado para a próxima semana - a projeção do mercado é que o IPCA de março, que será conhecido hoje, ficará em 0,5%. "Se ocorrer uma surpresa negativa, aumenta a expectativa para uma alta já em abril", diz.
O executivo reforça que o BC está trabalhando com um horizonte mais longo, uma vez que resta pouca coisa a fazer em relação à inflação de 2013. "O BC está de olho em qualquer pressão inflacionária ou sobre o mercado de trabalho."
Para o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luiz Otávio Leal, o BC irá analisar os dados de curto prazo e, como base nesses fatores irá tomar a decisão sobre aumentar os juros.
Por enquanto, a expectativa é de uma alta apenas em maio. A instituição trabalha com cenário de elevação em que, em dezembro, a Selic estará em 8,5% ao ano.
Nessa análise, o PIB do primeiro trimestre, que será divulgado na decisão da reunião de maio, também terá um peso relevante. "Esperando um PIB em torno de 1%. Se ficar muito abaixo disso, há uma possibilidade não desprezível do BC manter os juros mais um pouco", avalia.
Mas a tarefa pode não ser tão fácil assim para o BC. Tatiana Pinheiro, economista do Santander, avalia que a Selic será mantida em 7,25% até o final do ano. "Mas concordamos que tem crescido a expectativa de alguns ciclos de aperto monetário. O cenário é bastante complicado e não podemos olhar só um indicador", avalia.
Na avaliação de Felipe Queiroz, economista da Austin Ratings, a autoridade monetária ainda se divide entre os dilemas de controlar a inflação ou estimular a economia. Por isso, ele acredita que um IPCA de março acima do consenso ainda não será o necessário para uma alta da Selic.
"A inflação não decorre da demanda em si e, sim, na oferta. Os preços tem se elevado no grupo de serviços, se alterar os juros vai ter impacto maior sobre a indústria do que sobre preço dos serviços que é quem de fato pressiona o índice neste momento", afirma.
Para ele, a taxa de desemprego em baixa e os salários aumentando acima do nível de produtividade fazem com que as pessoas ganhem mais, o que consequentemente aumenta o consumo por serviços, que é um segmento com uma capacidade restrita.
"Alterando ou não os juros não vai aumentar o número de vagas no estacionamento", brinca.
Queiroz lembra que o grande problema da economia brasileira atualmente é não crescer e, consequentemente não conseguir atender sua demanda. De acordo com o economista, a preferência é que se tenha uma taxa básica de juros estável para que se tenha um nível de investimento produtivo maior. "Acreditamos que a Selic tende a se manter estável".
A projeção da Austin é de que, se houver reajuste, só a partir de setembro, com duas altas consecutivas 0,25 ponto percentual, com a Selic encerrando o ano a 7,75% ao ano.
O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, avalia que a inflação se encontra em seu pico de alta e, salvo choques que não tem como serem previstos, vai desacelerar nos próximos meses, até pela alta base de comparação do segundo semestre de 2012.
"As projeções sugerem que a inflação em 12 meses tende a cair, ou não subir muito mais. Hoje vai ser o pior dos mundos para o BC, mas tudo indica que vai melhorar", diz Perfeito sobre a divulgação de hoje do IPCA.
Os últimos dados de preços, com uma resiliência maior que a esperada, levaram os agentes a trazer a projeção para a Selic de 7,25% para 8,5% e um IPCA de 5,70% no ano - embora em 12 meses fique acima em alguns meses.
No entanto, no mês passado, a projeção do IPCA estava nos mesmos 5,70% de hoje apesar do prognóstico para a Selic ser 7,25%. Ou seja, há realmente a perspectiva de que a inflação deve desacelerar, a despeito de alterações nos juros.
Fonte: Brasil Econômico
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