Os americanos estão saindo da força de trabalho em números sem precedentes. Mas a tendência está mais ligada à aposentadoria dos chamados "baby boomers", pessoas nascidas entre o fim da Segunda Guerra e o início dos anos 60, do que com candidatos a emprego frustrados que desistem de tentar se recolocar no mercado.
A parcela da população dos Estados Unidos que estava trabalhando ou procurando emprego em março atingiu seu nível mais baixo desde 1979. A medida, chamada de taxa de participação, atualmente está em 63,3%, abaixo dos 66% de quando a recessão começou. Isso representa quase 7 milhões de trabalhadores que estão agora "faltando" na força de trabalho.
Os dados de emprego de abril, que serão divulgados na sexta-feira, provavelmente não vão repetir a queda histórica de março, quando a força de trabalho diminuiu em quase meio milhão de pessoas. Mas eles também não deverão mostrar uma grande melhora. A tendência da taxa de participação tem sido de queda tanto nos tempos de recessão quanto de recuperação, continuando a recuar mesmo com a melhora de outras medidas econômicas de bem-estar.
O recuo da taxa de participação levanta dois temores principais entre os economistas. O primeiro é que ele poderia sugerir que o mercado de trabalho está ainda mais fraco do que parece. A taxa de desemprego, por exemplo, caiu para 7,6% em março, o menor nível desde o final de 2008. Mas o dado só inclui pessoas que estão ativamente procurando emprego. Se fossem adicionados os milhões que deixaram a força de trabalho, a taxa de desemprego seria de 11,4%.
O segundo temor é que, se os trabalhadores desempregados estão desistindo de procurar emprego, eles podem se afastar tanto do mercado de trabalho que provavelmente não voltarão mesmo quando as contratações recomeçarem. Eles recorrerão a seguros de invalidez — 8,9 milhões de americanos estavam recebendo pagamentos do governo por invalidez em março, acima dos 7,1 milhões quando a recessão começou — ou a outros benefícios do governo, solicitações antecipadas de aposentadoria ou empregos na economia informal. Isso poderia criar problemas estruturais mais profundos que podem persistir muito tempo após a recuperação da economia.
Uma análise mais profunda dos números sugere que ambos os temores, embora reais, podem ser exagerados.
Por um lado, a taxa de participação já vinha caindo muito antes da recessão e esse recuo poderia quase certamente ter continuado mesmo se a crise nunca tivesse ocorrido. A principal razão é demográfica: os americanos tendem a trabalhar muito mais entre os 25 anos e os 54 anos do que quando são mais novos ou mais velhos. Mas com o envelhecimento dos "baby boomers" e muitos dos seus filhos com pelo menos 16 anos, mas ainda não no auge da sua vida profissional, são os grupos mais novos e mais velhos da população em idade de trabalhar que estão crescendo mais rápido. Feitos os ajustes para a mudança da população, o número dos que estão "faltando" na força de trabalho cai para cerca de 4,3 milhões.
Além disso, embora a população jovem represente a maior parte da população em idade de trabalhar, ela está se tornando menos disponível. Isso, em parte, é resultado do aumento do número de jovens em universidades e da queda das taxas de emprego entre os estudantes do ensino médio. Ambas são tendências de longo prazo que provavelmente se intensificaram com a recessão, à medida que os jovens seguiram para as universidades para, em parte, escapar de um mercado de trabalho cruel e os empregadores preferiram contratar funcionários mais experientes em vez de adolescentes.
Sem dúvida, muitos desses jovens de 20 e poucos anos preferiam estar trabalhando, mas eles não estão esperando sentados o mercado de trabalho se recuperar. Todos, com exceção de cerca de 350.000 jovens que fazem parte da força de trabalho que desapareceu pelos dados atuais, são estudantes em tempo integral.
Finalmente, a crise financeira e a recessão — juntamente com tendências de longo prazo, como melhora da expectativa de vida — têm levado muitos americanos mais velhos a adiar a aposentadoria, apesar de uma parcela muito menor deles estar trabalhando do que as pessoas que estão no auge da vida profissional. Isso acrescenta cerca de 1,2 milhão de trabalhadores mais velhos, o que compensa parte do declínio entre outros grupos etários.
Juntando tudo, verifica-se que faltam cerca de 3 milhões de pessoas na força de trabalho, gente que não está estudando nem está aposentada. Esse número ainda é significativo: se somarmos esses trabalhadores à lista de desempregados, a taxa de desemprego saltaria para 9,3%. Mas ele sugere que a taxa de participação não tem só a ver com a economia fraca.
Ray Stone, economista da Stone & McCarthy Research Associates em Princeton, no Estado de Nova Jersey, observa que o número de trabalhadores "desmotivados" — aqueles que pararam de procurar emprego porque não acreditam que existam vagas disponíveis — tem na verdade diminuído nos últimos dois anos.
"A percepção geral é que a taxa de participação na força de trabalho está caindo porque um monte de trabalhadores desempregados está ficando desanimado e desistindo", disse Stone. "Isso é [uma visão] muito simplista."
Mas mesmo que os trabalhadores não estejam desistindo, a queda na força de trabalho ainda é significativa. Muitos americanos mais velhos estão se aposentando com muito menos economias do que tinham planejado. Muito mais jovens estão assumindo enormes dívidas para continuar os estudos.
E ainda que o número oficial de trabalhadores desmotivados para continuar procurando emprego esteja caindo, o número dos que estão fora do mercado de trabalho por outras razões, como cuidar dos filhos, tem crescido. Stone argumenta que isso pode ser um sinal de que as vagas disponíveis não pagam o bastante para cobrir os custos de escolas infantis — uma possibilidade amparada por outras indicações de que muitas das vagas criadas durante a recuperação da economia oferecem baixos salários ou são para meio período.
Na verdade, o foco na força de trabalho pode esconder o que de fato está faltando na economia: empregos. Em quase quatro anos de recuperação, os EUA ainda empregam cerca de três milhões de pessoas a menos do que quando a recessão começou, em dezembro de 2007. Quase 12 milhões de pessoas continuam desempregadas, 40% delas por mais de seis meses.
Essas pessoas não saíram da força de trabalho, mas elas ainda estão muito longe de arrumar um emprego.
Fonte: The Wall Street Journal
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