A última vez que a autoridade monetária brasileira elevou a taxa Selic havia sido em agosto de 2011.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), dado o "nível elevado da inflação e a dispersão de aumento de preços", optou por elevar a taxa básica de juros, a Selic, em 0,25 ponto percentual nesta quarta-feira (17/4), para 7,50% ao ano.
A última alta na taxa havia sido em agosto de 2011.
A decisão foi dividida, com dois votos a favor da manutenção da taxa, e seis a favor do aumento na Selic.
"O Comitê avalia que o nível elevado da inflação e a dispersão de aumentos de preços, entre outros fatores, contribuem para que a inflação mostre resistência e ensejam uma resposta da política monetária", diz o breve comunicado divulgado junto à decisão do colegiado.
Para Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global, os membros do Copom optaram por uma alteração gradualista.
"Se derem 0,5 ponto percentual de aumento se comprometem na segunda vez dar novamente os 0,5 p.p. Caso o aumento seja de 0,25 p.p. este deve ser o ritmo do aperto monetário", afirma Velho.
O comunicado emitido pela Copom após a reunião ainda ponderou que incertezas internas e, principalmente, externas "cercam o cenário prospectivo para a inflação e recomendam que a política monetária seja administrada com cautela".
Alan Oliveira, analista financeiro da Futurainvest, considera que a mudança já era aguardada pelos agentes do mercado financeiro em função dos rumores que indicavam a necessidade de elevação da taxa básica de juros.
"Como esperado, o resultado não foi unânime. A postura dos membros foi conservadora. A elevação pode ter ocorrido apenas em função da pressão externa".
Diante da possibilidade de redução do índice de preços, Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos, acredita que ainda há espaço para mais dois cortes consecutivos de 0,25 pontos. Para ele, a postura dos integrantes do Copom sinaliza que há desconforto com o nível da inflação, mas o conservadorismo e a cautela podem prevalecer nas próximas reuniões.
Repercussão
As associações, em sua maioria, já consideravam a possibilidade de elevação como certa. A dúvida, porém, era se a decisão seria gradualista ou mais ousada. Segundo a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), a postura do órgão regulador serve para recuperar a confiança do mercado quanto à sua capacidade de controlar a alta nos preços. Ainda assim, avalia que outros caminhos poderiam ter sido considerados, como a retomada dos investimentos públicos, direcionamento de gastos e mudanças nas metas de inflação para números mais realistas.
A Fecomercio ainda acredita que a elevação pode atrapalhar a retomada do crescimento, já que o aumento da taxa Selic não influencia nos preços dos alimentos e serviços, que são os itens que causaram pressão inflacionária de maneira mais expressiva. "A medida também torna-se um foco do mercado neste momento porque houve desaceleração no desenvolvimento da economia brasileira em fevereiro e essa mudança poderia trazer uma retração ainda maior na atividade interna", explica a FecomercioSP.
Rogério Amato, presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp), avalia que o Copom procurou sinalizar de maneira gradual a sua disposição em atuar para conter a alta da inflação.
Para Amato, a ata da reunião pode trazer sinais sobre o movimento futuro das taxas de juros. " De qualquer forma, parece indispensável que o governo procure utilizar a política fiscal como instrumento adicional para o controle da inflação, para evitar que o Banco Central seja obrigado a apertar a política monetária", pontua o especialista.
O aumento da Selic, segundo a Firjan, era previsível, porém poderia ter sido evitado caso houvesse uma política fiscal que aliviasse a pressão sobre os preços.
"Importante destacar, contudo, que a contribuição que pode ser dada pela política fiscal é necessária, mas não suficiente. A combinação de inflação persistentemente elevada e baixo crescimento do PIB também está relacionada aos chamados gargalos estruturais, que resultam em baixa produtividade e elevados custos de produção para as empresas brasileiras".
Neste sentido, a Firjan acredita que a política econômica tem duas frentes a serem desenvolvidas. Além do aprofundamento da agenda de competitividade, com foco na redução do chamado "custo Brasil", é preciso estabelecer o aumento do superávit primário, pautado em redução dos gastos correntes do governo.
Fonte: Brasil Econômico
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