Em entrevista ao Correio, Luiz Gonzaga Belluzzo ressaltou que baixar os índices na paulada teria efeito negativo muito forte na economia. IPCA registrou hoje inflação de 0,47 % em março.
No almoço que teve com a presidente Dilma Rousseff, na última segunda-feira em Brasília, e do qual também participaram outros economistas renomados, Luiz Gonzaga Belluzzo expôs a opinião de que o Banco Central (BC) não deve ceder às pressões para subir os juros na medida para atingir o centro da meta de inflação. "Baixar os índices na paulada teria efeito negativo muito forte na economia", comentou ele nessa entrevista ao Correio.
A presidente Dilma pediu ao senhor e aos seus colegas conselhos sobre como o BC deveria reagir à persistência da inflação?
Fomos convidados para avaliar questões de longo prazo, especificamente sobre a proposta de criação de um fundo de reserva dos membros do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), debatido na última reunião do grupo, na cidade sulafricana de Durban. É claro que o comportamento das taxas domésticas de inflação, a necessidade de proteger e estimular a indústria, em dificuldades há 30 anos, e o cenário internacional foram avaliados. Temo que a obsessão de analistas e da imprensa em cobrar uma alta de juros tenha virado uma doença, um samba de nota só, uma visão de prazo curtíssimo.
Mas o senhor não acha que a evolução do IPCA e as respostas dadas pelo BC não geram ainda mais incertezas para o cenário futuro?
Prefiro avaliar a política econômica pelas perspectivas estruturais e de longo prazo, considerando todas as variáveis. É verdade que a economia está crescendo pouco e isso é um problema. Mas as perspectivas mais amplas não são tão ruins. Embora sejamos um país grande e complexo, estamos sujeitos ao contexto internacional, que não é bom. Pela primeira vez, começamos a ter uma noção do que está acontecendo aqui e que respostas estão sendo adotadas. O mais importante é lembrar que, desde a instituição do regime de metas, o Banco Central tem tido dificuldade em atingir a meta. Cada responsável à época tem a sua justificativa, como choque de oferta e cenário externo.
Isso significa que domar a inflação continua sendo um desafio além da política de juros do BC?
Sim. Mesmo após a instituição do câmbio flexível, do maior controle fiscal e das metas da autoridade monetária, que garantem a estabilidade econômica, a inflação também mostra-se resistente. A média dos últimos 15 anos, de 5,8%, deixa claro que os índices ainda são influenciados por um resquício de indexação que não permite quedas maiores. É óbvio que não voltaremos a ter números inflacionários como os dos anos 1980. Mas a indexação formal e informal dos preços se faz presente. Todo começo de ano, por exemplo, há pressões, com choques nos preços de hortifrútis. O vilão da vez é o tomate. Mas sempre há um sistema estabelecido de formação de preços seguindo uma lógica na qual há grande resistência dos agentes econômicos em mudar. Todos querem indexar pela maior taxa.
Então não seria o caso de o BC mexer na meta de inflação, ajustando ela à realidade?
Não concordo, pois acabaria gerando uma expectativa mais negativa. O que o Banco Central tem feito de forma acertada é deixar claro que vai continuar caminhando em direção à meta anual de inflação usando dos instrumentos que tem. A convergência ocorrerá de vez quando, mas o importante é manter o compromisso de procurá-la. Por outro lado, colocar a meta na paulada provocaria uma desaceleração muito forte na economia. Isso não é bom para ninguém, sobretudo tendo hoje uma atividade já tão baixa. A situação atual é bem diferente da que vive quando estava no governo, quando os preços se orientavam pela correção monetária, formando uma catraca com salários. É pena que alguns colegas meus leiam tão pouco e fazem análises que levam muitos a embarcar em equívocos.
Fonte: Correio Braziliense
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