Uma importante autoridade da União Europeia sinalizou ontem seu apoio ao afrouxamento da austeridade na Europa, no que poderia ser uma significativa ruptura para os países que estão lutando para atingir difíceis metas orçamentárias em meio a uma persistente fragilidade econômica.
Em discurso, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, disse que a política de austeridade perseguida pela UE nos últimos anos não tem mais o suporte público necessário para dar certo.
"Embora eu ache que essa política é fundamentalmente correta, acho que ela atingiu o seu limite", disse Barroso. "Para ser bem-sucedida, uma política não tem apenas que ser elaborada corretamente, ela precisa ter um mínimo de apoio político e social."
O comentário de Barroso é o mais recente de uma série de declarações públicas que indicam uma mudança na política econômica europeia em curso. Ele também coincide com a divulgação de novos dados que mostram que alguns dos países da zona do euro com os programas de austeridade mais rígidos estão sendo os com pior desempenho em seus esforços de diminuir os déficits.
Na semana passada, o Fundo Monetário Internacional afirmou que o bloco deve recuar na questão da austeridade, enquanto uma série de governos fora da UE tem feito o mesmo apelo, argumentando que o aperto de cintos está impedindo a recuperação da economia mundial e poderia acabar sendo autodestrutivo.
O apoio a essa política entre os economistas também sofreu um golpe. Um estudo publicado na semana passada por três economistas da Universidade de Massachusetts, nos Estados Unidos, encontrou falhas básicas em um estudo influente de 2010, dos economistas americanos Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff, que afirma que altos índices de dívida governamental prejudicam o crescimento econômico.
Em seu discurso, Barroso deu a entender que poderia ser dado a alguns países um prazo mais longo para que eles ajustem seus déficits de acordo com as regras da UE, que o limitam a 3% do produto interno bruto.
"Mesmo que a política de correção do déficit esteja fundamentalmente correta, nós podemos sempre discutir pequenos ajustes em seu ritmo", disse. Ele destacou, porém, que os ministros da Fazenda da UE teriam que concordar com qualquer mudança nos cronogramas.
O ministro da Fazenda da Espanha, Luis de Guindos, disse no domingo que seu novo plano orçamentário, que deve ser apresentado no fim desta semana, vai enfatizar o crescimento econômico e reduzir a pressão dos cortes de gastos.
"O que vamos fazer agora é alcançar um melhor equilíbrio entre a redução do déficit e o crescimento econômico", disse Guindos.
A França também está apelando à Comissão Europeia para obter uma extensão do prazo para atingir suas metas.
A economia da zona do euro recuou por cinco trimestres seguidos até o fim de 2012, com a austeridade contribuindo para a redução dos gastos das famílias e das empresas e o aumento da taxa de desemprego, que atingiu o recorde de 12%.
Os números oficiais do primeiro trimestre de 2013 serão divulgados em 15 de maio e a maioria dos economistas acredita que eles indicarão o sexto recuo trimestral consecutivo.
No entanto, há alguns sinais preliminares de que o pior pode ter ficado para trás.
Consumidores nos 17 países que adotam a moeda única se tornaram menos pessimistas em abril com relação às suas perspectivas, uma revelação surpreendente na esteira do confuso resgate do Chipre.
A Comissão Europeia informou ontem a que a estimativa preliminar para a sua avaliação da confiança do consumidor subiu de -23,5 pontos para -22,3 pontos.
Dados divulgados pelo instituto de estatísticas da UE ontem mostram que alguns dos programas de austeridade seguidos pelos governos da zona do euro conseguiram diminuir a diferença entre suas receitas e despesas em 2012.
Mas países que começaram o ano com amplas disparidades entre despesas e receitas e seguiram os mais agressivos programas de austeridade estavam entre os que conseguiram reduzir menos seus déficits.
Existiam grandes diferenças na situação orçamentária individual dos integrantes da UE. A Alemanha tinha um pequeno superávit, enquanto o déficit da Espanha aumentou de 9,4% para 10,6% do PIB, o maior da zona do euro.
No entanto, esse aumento reflete em grande parte o custo de resgatar os bancos do país. Excluindo-se esses custos, o déficit espanhol ficou em 7,1% do PIB, abaixo dos 9,1% de 2011.
"Nós não podemos adotar um modelo único para os países europeus", disse Barroso.
Ele elogiou a Irlanda. "É um programa doloroso", disse, "mas está funcionando." A Irlanda conseguiu emitir normalmente títulos de dívida nos mercados no mês passado pela primeira vez desde o resgate de 2010.
A Irlanda, diferentemente alguns de seus pares na zona do euro, continua convencida que a austeridade funciona. Em resposta aos comentários de Barroso, o ministro da Fazenda da Irlanda disse que o governo vai manter sua meta de reduzir o déficit orçamentário para menos de 3% do PIB em 2015.
"O ajuste das finanças públicas vai melhorar as perspectivas de crescimento econômico, nos permitir voltar completamente aos mercados e, assim, dar apoio a um ambiente de criação de emprego", disse um porta-voz do ministério.
É provável que o Chipre seja o quinto membro da zona do euro a receber empréstimos de resgate e seu déficit orçamentário ficou inalterado em 6,3% do PIB em 2012, um pouco acima das estimativas anteriores.
Na Eslovênia, que já informou que não precisa de um pacote de socorro para auxiliar no resgate de seus bancos em dificuldades, o déficit caiu de 6,4% em 2011 para 4%. O instituto de estatísticas do país tinha previamente estimado um déficit de 3,7% do PIB.
Fonte: The Wall Street Journal
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