Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Com Índia no retrovisor, Brasil retoma posto de maior exportador de carne


O Brasil retomou no último ano o posto de maior exportador mundial de carne, mas vem ganhando a concorrência cada vez mais forte de um país com pouca tradição no setor: a Índia.
Dados compilados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos mostram que o Brasil exportou no ano passado 1,52 milhão de toneladas de carne, retomando o posto de maior exportador que havia perdido em 2011 para a Austrália, cujas exportações no ano passado ficaram em 1,41 milhão de toneladas.

A novidade na compilação do órgão americano é o crescimento acelerado da Índia, que exportou no ano passado 4 mil toneladas a mais de carne que a Austrália e se colocou na segunda posição do ranking de exportadores.
Para este ano, a previsão é de que a Índia assuma a liderança, com exportações estimadas em 1,7 milhão de toneladas, contra 1,6 milhão do Brasil e 1,47 milhão da Austrália.
Apesar disso, levantamentos feitos pela BBC Brasil indicam que a ascensão da Índia no mercado de exportação de carnes não vem afetando a lucratividade do setor no Brasil.
Segundo a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne), os exportadores brasileiros bateram o recorde de receita no ano passado, com US$ 5,77 bilhões, superando em 6,8% o recorde anterior, estabelecido em 2008 – apesar de uma redução no volume em relação ao pico registrado em 2007, com 1,62 milhão de tonelada.
Dados do Ministério do Comércio da Índia mostram que as exportações de carne do país no ano fiscal de 2011-2012 (de abril a abril) geraram uma receita de US$ 2,9 bilhões. Nos seis primeiros meses do último ano fiscal, a receita foi de US$ 1,4 milhão. O governo indiano não tem os dados de receita compilados pelo ano do calendário, de janeiro a dezembro.
A produção total indiana é de menos da metade da produção brasileira, mas como o mercado interno no país é bastante reduzido, a maior parte dessa produção é destinada à exportação.

'Não vale a pena competir'

"A ascensão da Índia não preocupa os produtores brasileiros, porque os dois países não competem pelos mesmos mercados", disse à BBC Brasil o diretor-executivo da Abiec, Fernando Sampaio.
A quase totalidade das exportações indianas é de carne de búfalo, considerada de menor qualidade. As vacas são consideradas sagradas no país e têm o abate proibido, mas os búfalos não têm a mesma proteção legal.
Sampaio observa que a Índia exporta principalmente carne processada para embutidos, vendida primordialmente para países muçulmanos no Oriente Médio e na Ásia.
"O Brasil não atende o mesmo mercado que a Índia por causa do preço. Mesmo se quiséssemos competir nesses mercados, não valeria a pena", observa o executivo da Abiec. "Não queremos vender a carne pela metade do preço só para poder competir com a Índia."
Segundo ele, mesmo com o crescimento das vendas indianas, os maiores competidores da carne brasileira no exterior continuam sendo a Austrália e os Estados Unidos (quarto maior exportador, com 1,1 milhão de toneladas em 2012).
Ele aponta mercados consumidores de produtos de alto valor, como Japão, Coreia do Sul e União Europeia, como principal objetivo para os exportadores brasileiros.
Ao contrário das exportações brasileiras, que no último ano cresceram também 13,8% em volume em relação ao ano anterior, as exportações australianas e americanas mostram uma tendência de estabilização nos últimos anos, por conta de limitações para a produção interna.
Tanto a Austrália quanto os Estados Unidos sofreram nos últimos anos com secas prolongadas em áreas de criação de gado e outros problemas que limitaram o crescimento da produção, como a alta dos preços da ração animal e a restrição do espaço para pasto.
"Ao contrário dos nossos principais concorrentes, que não têm mais para onde crescer, o Brasil tem espaço, tem água, tem capacidade de ampliação da indústria sobrando", afirma Sampaio.
"Com o aumento previsto da demanda mundial, o Brasil tem mais capacidade para sair ganhando", diz.

Fonte: BBC Brasil


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