Por Paulo Rabello de Castro*
Após mais um rally das bolsas mundiais no primeiro bimestre, reação eufórica que já se vem tornando uma "tradição" de ano novo, o sentimento dos mercados recuou para a "normalidade" da ciclotimia do " risk-on/risk-off" que vem sendo a marca registrada da Grande Recessão desde 2008. Estamos no quinto ano do desajuste prolongado.
E o FMI, ente multilateral encarregado de inventar uma lógica para tantos desequilíbrios da economia mundial acaba de rever suas projeções - como sempre, para baixo - sobre o crescimento do PIB este ano.
O FMI agora projeta 3,3% de variação do PIB mundial em 2013, contra os 3,5% da rodada anterior. Puxando para baixo a nova projeção estão vários emergentes, o que é novidade, entre eles a China, esta sim, fator de maior preocupação.
O crescimento do Brasil em 2013 também foi rebaixado nesta rodada, de 3,5% para 3%, o que não é mais surpresa.
O FMI continua no seu papel de "sofismar para frente", ou seja, no futuro próximo (2014) tudo estará bem melhor. Há cinco anos o sofisma se repete. O FMI é uma entidade velha e desatualizada para o novo mundo de riscos escondidos que vivemos.
As leituras do FMI sobre o estado da economia são, em geral, com o espelho retrovisor, adaptando previsões em função de fatos consumados. Dai os erros sucessivo de previsão e a propensão continuada a enxergar o futuro com lente cor de rosa. Sobre a China, o otimismo é contido mas evidente.
Mesmo com o desempenho de 7,7% da economia chinesa no passado primeiro trimestre, apontando um desaquecimento gradual ao longo do ano, o FMI mantém a projeção de 8% para todo o ano, o que implica esperar melhoria nos trimestres subsequentes.
Os próprios chineses não estão tão esperançosos. Xi Jiping, novo homem forte, faz um discurso diferente, indicando mudança de rumo e menor ritmo na frenética trajetória de investimentos do país. Os chineses estão preocupados com 2013.
O endividamento acumulado em suas empresas e governos locais é assustador. O governo central começa a ver a hora de ser obrigado a absorver parte das dívidas escondidas de baixo do tapete.
O caráter limitado das ondas tsunâmicas de liquidez em segurar o desempenho dos países maduros vai ficando evidente, mesmo com a adesão recente do Japão, por exemplo, cujo anúncio de duplicação da sua base monetária em dois anos representa o mais novo experimento de chuva de dinheiro barato para tentar reanimar a economia local.
Autoridades chinesas têm criticado os ciclos de afrouxamento monetário dos países ricos ao afirmar o óbvio: se impressão de papel moeda fosse solução bastaria investir em gráficas e sair produzindo dinheiro à vontade.
A taxa de câmbio dos países emergentes se aprecia e refreia a economia produtiva nesses países. A América Latina teve sua projeção de PIB também revista para baixo, em 0,3 ponto percentual, por esse exato motivo.
Agora o FMI prevê que a região cresça 3,4%, mesmo número projetado para o México, enquanto o Brasil segue no destaque negativo, correndo tanto por baixo da média regional quanto da média mundial (3,3%).
Nosso país segue trabalhando para sustentar o emprego e a demanda no resto do mundo com um crescente conteúdo de importações em sua matriz de oferta interna.
*Paulo Rabello de Castro é presidente do conselho de economia da Fecomercio e do Lide Economia
Fonte: Brasil Econômico
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