Os novos líderes do Banco do Japão cumpriram a promessa de reformar radicalmente sua política monetária, lançando ontem um novo programa de relaxamento tão agressivo que surpreendeu os mercados, fazendo o iene despencar em relação ao dólar e derrubando os juros de renda fixa para mínimos históricos.
Enquanto políticas anteriores haviam visado sobretudo o congestionado sistema bancário japonês, este é um experimento arriscado para mudar a mentalidade e o comportamento de todos os envolvidos: consumidores, empresas e investidores. O grau de sucesso só ficará claro nos próximos meses.
"Esta é uma dimensão inteiramente nova de relaxamento monetário, tanto em termos de quantidade como de qualidade", disse o novo presidente do BOJ, Haruhiko Kuroda, numa coletiva de imprensa, apontando para uma série de cartazes, um deles com um gráfico mostrando a base monetária do país subindo como um foguete e outro com os objetivos do banco, de dobrar sua carteira de títulos de dívida para alcançar a meta de 2% de inflação em dois anos.
A mensagem faz parte de uma reforma essencial para o banco central japonês que, sob a chefia do presidente anterior, Masaaki Shirakawa, era mais conhecido por agir com cautela e tomar iniciativas minuciosamente estudadas, descritas com todos os seus prós e contras. Os críticos diziam que essa abordagem era tímida e confusa demais para o público.
O efeito sobre os mercados financeiros foi imediato: o rendimento dos títulos de dívida do governo com vencimento em dez anos teve a maior queda diária em quase uma d, atingindo um mínimo histórico de 0,425%. O índice Nikkei 225 fechou o dia em alta de 2,2%, enquanto o dólar saltou três ienes. No pregão da tarde em Nova York, o dólar subiu para 96,12 ienes, ante 92,9 ienes pouco antes do anúncio.
Operadores disseram que o volume de compra de títulos públicos foi uma surpresa, assim como a adoção explícita, pela primeira vez, de uma meta para ampliar a base monetária. Ela mede a moeda em circulação e os depósitos no banco central e deve dobrar em dois anos.
"Eu daria ao BOJ uma nota 100 em uma escala de 1 a 100 — na verdade, daria 120", disse Dai Sato, operador do Mizuho Corporate Bank. "Em todos os aspectos, o BOJ superou as nossas expectativas", disse ele.
O primeiro-ministro Shinzo Abe, que assumiu o poder em dezembro com uma plataforma que pedia mais ação do banco central, também foi efusivo sobre os novos diretores do BOJ nomeados por ele. "Eles fizeram um trabalho brilhante ao atender as expectativas de todos", disse Abe em um programa de televisão após a decisão do banco central.
O relaxamento monetário do banco central é apenas uma das "três flechas" da plataforma de política econômica de Abe, que visa tirar o Japão da sua longa recessão, pacote que já foi apelidado de "Abenômica". Além de favorecer uma política monetária mais flexível, o primeiro-ministro já aumentou os gastos públicos e seu governo está agora elaborando um pacote de reformas estruturais, que vão de acordos de livre comércio à desregulamentação, destinado a elevar o potencial de crescimento de longo prazo da economia japonesa.
Ao especificar uma data para cumprir a meta, o BOJ respondeu às críticas de que uma meta sem prazo não tem nenhum valor. O banco informou que irá aumentar sua base monetária em até 70 trilhões de ienes (cerca de US$ 730 bilhões) por ano, até alcançar sua meta de inflação de 2%.
Mas a nova política também traz grandes riscos. A compra de títulos públicos pelo BOJ procura reduzir artificialmente os juros, principalmente os de prazo mais longo, que continuam relativamente altos. Isso incentiva os investidores, muitos deles bancos e outras instituições financeiras, a preferir outros ativos, como ações, imóveis ou empréstimos. Também reduz os juros de longo prazo que são referência para empréstimos imobiliários ou para empresas, incentivando, em teoria, pessoas e empresas a buscarem financiamentos para gastar.
Mas estimular os mercados pode deixar alguns setores da economia crescendo muito mais rápido que outros. Os preços podem subir antes que os salários os acompanhem — algo que os japoneses apelidaram de "inflação ruim". Isso pode acabar deprimindo a economia.
Os exportadores japoneses comemoraram a queda do iene, que aumenta os lucros no exterior quando convertidos em moeda local e ajuda os produtos japoneses a serem mais competitivos. Mas uma onda de relaxamento monetário poderia enfraquecer o iene a níveis prejudiciais, elevando o custo das importações, como combustíveis e commodities. E um rápido influxo de dinheiro pode elevar muito o preço dos títulos, ações e imóveis.
"Os riscos de inflação ruim e enfraquecimento ruim do iene no futuro, ou de grandes flutuações nos ativos, aumentaram", alerta Kenji Sakaguchi, diretor de investimentos da Prudential Investment Management Japan Co., que administra 11,6 trilhões de ienes.
Fonte: The Wall Street Journal
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