Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Uma fórmula para aumentar a liquidez sem ampliar os riscos

Já se passaram quase cinco anos desde o colapso do banco de investimentos Bear Stearns, o primeiro dominó a cair na crise financeira de 2008. Hoje está claramente visível que havia excesso de tomada de risco e de crédito, principalmente por parte das grandes empresas financeiras. A economia mundial ainda está sofrendo as consequências.

Ninguém com bom senso gostaria de voltar aos exageros de meados dos anos 2000. Crédito demais pode ser perigoso para a saúde da economia, mas pouco crédito também é prejudicial. Investimentos promissores estão carentes de recursos. Consumidores não podem obter financiamentos para imóveis ou educação. O crescimento está mais lento.

Mas, então, quanto crédito é suficiente?

Os bancos se queixam de que o excesso de regulação do pós-crise e a persistência das baixas taxas de juros os desencorajam a emprestar. Analistas e reguladores, escaldados pelas lembranças do pânico, temem que imprudentes tomadas de risco estejam voltando a alguns setores do mercado.

Como parte da economia mundial, o montante global de dívida, tanto privada como pública, e o de ações atingiu seu pico em 2007, despencou e agora voltou aos níveis de 2000, de acordo com os dados de 183 países compilados pelo Instituto Global da McKinsey.

Por esse indicador, o volume financeiro cresceu a uma taxa anual de cerca de 8% nos anos 90 e no início dos 2000. Uma grande parte desse crescimento — mais de um terço — veio da própria alavancagem de grandes recursos em apostas mais arriscadas.

Em 2007, os empréstimos das instituições financeiras tinham crescido para cinco vezes os títulos de dívida emitidos por outras empresas e superavam até mesmo o mercado de títulos da dívida pública, estima a McKinsey num resumo das finanças mundiais a ser divulgado hoje.

O valor social desses recursos financeiros não é alimentar os cassinos de Wall Street ou enriquecer os operadores ou sócios dos fundos de hedge. Ao contrário, é empregar a poupança mundial em investimentos que deem retorno no futuro.

Mas apenas um quarto do aumento nas finanças mundiais entre 1995 e 2007 foi para famílias e organizações não financeiras. O resto foi para grandes firmas financeiras ou governos, alguns dos quais direcionaram os recursos, de fato, para infraestrutura, educação e outros investimentos.

Aí veio a crise. Desde então, o volume financeiro disponível no mundo subiu menos de 2% ao ano e muito desse crescimento é resultado de empréstimos tomados por governos para proteger a economia mundial das conseqüências da crise.

Bancos de países ricos recuaram. Os europeus estão cada vez mais relutantes em conceder empréstimos além das suas fronteiras. O nervosismo com relação à manutenção do euro e à estabilidade de governos nacionais reverteu uma década de integração financeira. Nos mercados emergentes, o crescimento nos mercados de ações e títulos de dívida — que vinha sendo visto como um sinal animador de maturidade financeira — em grande parte se estagnou.

Ao mesmo tempo, há sinais de que as grandes finanças não estão mais em retirada. Um deles é a volta das imensas aquisições de empresas financiadas por dívidas e a crescente demanda por títulos de dívida de alto risco.

E agora?

Como seria de se esperar de uma empresa de consultoria, a McKinsey oferece dois cenários.

No primeiro, as tendências recentes persistem e o total de ativos financeiros como proporção da economia mundial permanece estável ou até diminui ligeiramente. Nós temos menos coisas ruins, mas também menos coisas boas. A determinação dos governos para completar a reforma da estrutura regulatória financeira enfraquece e os bancos ficam sufocados por regras nacionais redundantes e inconsistentes. Os fluxos de recursos entre países se mantém abaixo dos níveis pré-crise. Mercados emergentes encolhem, mercados não desenvolvidos ficam paralisados.

Uma repetição da crise financeira de 2008 é menos provável. Mas um aperto no crédito atinge as empresas que precisam de financiamento para crescer e de investimentos em infraestrutura, pesquisa e educação que trariam benefícios no futuro; a economia mundial continua a crescer muito lentamente.

No segundo cenário, nós obtemos mais das boas finanças e menos das ruins. Os governos do mundo concluem a estrutura regulatória para evitar os piores excessos do passado recente. Eles se certificam de que os bancos estão bem capitalizados, mas não indispostos a tomar riscos sensatos. Eles calculam como fechar, ao invés de socorrer, bancos internacionais que se tornem problemáticos. Eles deixam os bancos ficarem grandes o suficiente para atender a corporações multinacionais, mas não tão grandes a ponto de colocar todo o sistema em risco. Eles protegem economias nacionais sem estabelecer barreiras à concorrência ou ao saudável fluxo de capital entre países.

A energia inovadora de engenheiros financeiros é desviada para a criação de novas e melhores formas de direcionar o crédito para pequenas e médias empresas e consumidores de mercados emergentes.

Fora dos Estados Unidos, os mercados de títulos de dívida crescem, reduzindo a proporção de financiamentos que ocorrem por meio dos grandes bancos. Barreiras anacrônicas que impedem os fundos de pensão e outros investidores institucionais de investir no exterior são desmanteladas. O investimento direto estrangeiro floresce, disseminando as inovações que ajudam a melhorar as vidas das pessoas.

Esta é uma era de ambivalência com relação à finanças — e por uma boa razão. Elas quase nos destruíram. Mas nós não podemos prosperar sem elas.

É como a piada que Woody Allen conta ao final de "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa".

"Um cara entra no consultório de um psiquiatra e diz: 'Doutor, o meu irmão é louco! Ele pensa que é uma galinha.' Aí o médico fala: 'Por que você não o traz aqui?' Então o cara responde: 'Eu traria, mas eu preciso dos ovos.'"
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Fonte: The Wall Street Journal

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