Embora a alta dos custos trabalhistas tenha empurrado a fabricação de camisetas, jeans e produtos similares para fora da China, o país tem sido capaz de minimizar a perda ao ampliar a produção de itens mais sofisticados.
E em nenhum outro lugar isto está demonstrado melhor do que na ponte que liga as cidades americanas de San Francisco e Oakland, a chamada Bay Bridge, na Califórnia.
Quando a cada noite a chave é virada para exibir o show artístico de luzes, a eletricidade passa por meio de complexos equipamentos produzidos pela fábrica de Gary Hua, que não fica muito longe de Xangai.
Fundada há seis anos, a empresa dele emprega 1.000 funcionários e fabricou em 2012 três milhões de fontes de alimentação para diodos emissores de luz, conhecidos como LEDs, de alta eficiência. A companhia, a Inventronics Inc., espera dobrar sua produção este ano e exportar mais de 50% dela.
A Inventronics exemplifica a migração da China para a fabricação de produtos mais sofisticados, que está alimentando o crescimento das exportações do país. A China tem aumentado as exportações de indústrias tão variadas como computadores, peças de automóveis, lâmpadas de alta tecnologia e equipamentos cirúrgicos ópticos, de acordo com análise feita pelo The Wall Street Journal com base nos dados de comércio da China, da União Europeia e dos Estados Unidos.
Economistas do banco HSBC HSBA.LN +0.50% estimam que a participação da China nas exportações globais subiu para 11% no ano passado — contra 9% antes da crise financeira de 2008 e cerca de 5% na virada do milênio. As exportações chinesas cresceram 8% em 2012, enquanto o comércio mundial avançou apenas 1,6%, segundo o Instituto Holandês para Análise de Políticas Econômicas.
O número de empregos na China em indústrias de alto valor agregado, como a de equipamentos elétricos e de comunicações, vem subindo desde 2008 e hoje supera o de empregos gerados pelos produtos têxteis, vestuário e couro, diz o economista Louis Kuijs, do Royal Bank of Scotland RBS.LN -0.42% .
Nos últimos dois anos, as exportações da China para os EUA de eletrônicos de alta tecnologia, peças de automóveis e aparelhos ópticos cresceram 24%, para US$ 129 bilhões, enquanto as exportações de roupas e calçados avançaram apenas 5%, para US$ 47 bilhões. Isso fez com que a participação da China no déficit comercial dos EUA aumentasse em US$ 20 bilhões no ano passado, para o valor recorde de US$ 315 bilhões, segundo análise do governo americano.
Uma parcela do que está marcado "made in China" foi projetada em outros lugares e montada com peças de diferentes origens, o que deixa os dados um pouco confusos. Os chips usados pelos equipamentos de LED da Inventronics, por exemplo, são dos EUA. Mas as exportações da China contêm um percentual crescente de materiais que foram feitos no próprio país, de acordo com a Organização Mundial do Comércio e a Organização para a Cooperação Econômica.
Hua, de 48 anos, morou nos EUA e voltou para a China em 1999. Em 2007, ele criou a Inventronics, estabelecendo a sede da empresa em Hangzhou, a cerca de 180 quilômetros de Xangai, para ter acesso a uma base de engenheiros altamente qualificada e para que a fábrica ficasse próxima dos fornecedores. Isso ajuda a Inventronics a desenvolver novos produtos rapidamente e a adaptá-los às especificações dos seus clientes.
"Essa é uma das grandes vantagens de estar na China", diz Gua.
A mão de obra qualificada, o grande mercado doméstico e a rede de fornecedores viraram fatores importantes que o aumento de salários ou a valorização do yuan, que tornam as exportações chinesas menos competitivas, não conseguirão sufocar tão cedo. E o crescente mercado de consumo da China significa que, se por um lado os custos mais altos tornam as exportações menos rentáveis, por outro os fabricantes podem vender mais produtos em casa.
A China também se beneficia na comparação entre a alta dos custos trabalhistas e de materiais no Sudeste Asiático e na América Latina, diz Kuijs, do RBS.
A empresa Talaris, do Reino Unido, que fabrica máquinas de contagem de dinheiro usadas por bancos, transferiu no ano passado a sua produção da Suécia para a China, onde emprega 1.000 trabalhadores no período de pico. A medida reduziu o custo de produção de cada equipamento em mais de 25%.
"Você tem uma concentração de fornecedores que está se tornando cada vez mais forte e mais competitiva", diz o diretor-presidente da Talaris, Paul Adams.
Cerca de 90% do valor de uma máquina feita pela Talaris é fabricado dentro da China. Adams diz que as peças representam 80% do custo de cada uma, com a mão de obra e as despesas gerais respondendo pelos 20% restantes.
Empresários fora da China se queixam que o governo chinês dá vantagens injustas para as empresas do país através de subsídios, financiamento barato e controle do câmbio. Alguns dizem que, embora a China conquiste uma fatia maior do comércio global, ela não está ganhando terreno tão rápido como no passado e que o crescimento dos lucros está desacelerando.
"Quando a China esgotar sua habilidade de desperdiçar a poupança interna, as pessoas não ficarão mais tão impressionadas com o tamanho do país", diz Diana Choyleva, economista para a China da empresa de pesquisa Lombard Street Research.
Fonte: The Wall Street Journal
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