A postura fiscal pouco austera do governo leva agentes a apostarem em aumento agressivo dos juros no longo prazo.
A desoneração dos produtos que compõem a cesta básica, anunciada na noite da última sexta-feira (8/3) em cadeia nacional pela presidente Dilma Rousseff, levou a curva de juros futuros da BM&FBovespa para baixo na ponta curta, mas para cima na extremidade oposta.
A leitura dos agentes financeiros é a de que o governo seguirá com a política de desonerações no curto prazo, para evitar que uma elevação da taxa Selic estrangule a retomada ainda tímida da atividade.
No entanto, essa política fiscal, fatalmente expansionista, em algum momento vai gerar pressão nos preços, até porque suas premissas incorporam efeitos pontuais na economia, que não atacam a inflação estrutural e disseminada que temos hoje, calcada no setor de serviços, mais precisamente no lado da oferta que não consegue crescer.
Justamente essa atuação que tem caracterizado o governo recentemente, de anunciar soluções paliativas conforme se aproximam perigosamente os limites previamente estabelecidos - leia-se metas de inflação e de superávit -, que potencializa a desconfiança dos investidores.
Mais negociado, com giro de R$ 30,637 bilhões, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2014 caía de 7,91% para 7,84%, enquanto o para janeiro de 2015 descia de 8,60% para 8,55%, com volume de R$ 18,972 bilhões.
Por outro lado, o DI para janeiro de 2016 subia de 8,99% para 9,00% (R$ 3,334 bilhões), e o para janeiro de 2017 avançava de 9,20% para 9,24% (R$ 7,341 bilhões).
"A ponta longa sobe pelo fato da política fiscal não ser contracionista como deveria", diz Paulo Nepomuceno, estrategista de renda fixa da Coinvalores.
Além disso, o leilão de compra de dólares realizado hoje pelo Banco Central (BC), destaca o especialista, deixa claro que o câmbio não vai ser usado para ajudar no controle da inflação, e evidencia a necessidade do aperto monetário, se não agora em menor magnitude, mais à frente em tamanho maior.
"Não vai ser 0,25 ou 0,50 ponto percentual que vai mudar o quadro inflacionário para reduzir a demanda", pondera Waldir Kiel Júnior, economista da Hencorp Commcor.
A leitura do governo, segundo tal ótica, seria a de que, se a opção for por uma alta na Selic agora, o ajuste terá de ser em magnitude excessiva para que os objetivos sejam alcançados, então o melhor a ser feito é seguir com as medidas "alternativas", que pelo menos não impactam negativamente o crescimento do PIB.
Se o governo parece não saber exatamente o que fazer no momento, no aguardo de divulgações futuras para então se decidir, a divisão de opiniões entre os agentes de mercado não é pequena.
No Focus, os economistas consultados pelo BC agora preveem um aumento de 0,75 ponto percentual na Selic até dezembro próximo, ante a expectativa da semana anterior pela estabilidade dos juros no período.
"Na eventual hipótese de um aperto monetário em 2013, o BC promoverá três ajustes consecutivos na Selic, de 50 pontos-base cada, o que elevaria a taxa referencial de juros a 8,75% a.a. até a reunião do Copom em julho", fala Flávio Combat, da Concórdia, explicitando a falta de convergência entre as apostas de mercado.
Fonte: Brasil Econômico
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