Desindustrialização não é consenso entre analistas. Mas a retomada do setor é ponto determinante para o crescimento da economia.
A queda da participação da indústria da transformação no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro vem desde a década de 1980 – de uma média de 33% das riquezas para 16%, nos últimos dez anos. O fato, somado ao avanço do setor de serviços para quase 70% do PIB em 2012, evidenciaria o fenômeno da desindustrialização, um processo normal de transição de base econômica em um país, não fossem algumas particularidades brasileiras. Para analistas, o Brasil não está preparado para ser “desindustrializado”, e continuará a crescer a passos de tartaruga se não trocar o modelo de incentivo ao consumo interno pelo de investimento e desenvolvimento da indústria.
A principal particularidade que diferencia a desindustrialização brasileira do padrão descrito nos livros de Economia, segundo Gilmar Mendes Lourenço, economista e diretor-presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), está no fato de a indústria do país não ter completado o terceiro estágio de sua evolução – aquele em que a atividade fica baseada no uso de insumos petroquímicos e na manufatura e com alto nível de conhecimento tecnológico próprio.
Parte desse descompasso, conforme o economista e professor da USP de Ribeirão Preto Luciano Nakabashi, teria começado nas décadas de 1980 e 1990, com o colapso do modelo de substituição de importações – a tentativa de se produzir tudo no Brasil. Esse processo teria colaborado para “inchar” a indústria brasileira no período, tornando-a excessivamente grande em relação ao PIB e pouco competitiva externamente – o que também ajuda a explicar o seu retrocesso anos mais tarde.
A outra parte do descompasso vem de fatores que ajudaram a formar a nova classe média brasileira nos últimos anos e que tomam o sentido oposto ao adotado por outros emergentes de maior sucesso, especialmente os asiáticos: valorização cambial, infraestrutura precária, alta carga de impostos e uma renda sustentada no aumento do consumo e do salário mínimo, sem grande melhora na produtividade.
Valor agregado
O papel da indústria é importante porque ela ainda é o setor da economia com maior poder de encadeamento – de trazer o restante da economia consigo – e de gerar produtos e emprego de maior valor agregado a partir de uma base concreta: conhecimento e produção tecnológica. O crescente setor de serviços tem gerado, por enquanto, uma base de emprego pouco qualificada e de baixa remuneração.
Foco
Mais que a necessidade de se fazer as reformas estruturais necessárias, especialmente a tributária, e de se promover os investimentos públicos e privados, os analistas sugerem que é preciso focar. “Não podemos querer produzir todos os bens industriais no Brasil. Temos de focar em alguns segmentos mais dinâmicos para que sejamos competitivos internacionalmente nestes. Ou seja, a política de conteúdo nacional [adotada hoje] é uma estratégia que acaba tornando nossa indústria menos competitiva”, opina Nakabashi.
2013 será melhor, mas sem bonança
A maioria das expectativas indica que, após a retração de 2012, a indústria nacional terá um ano melhor em 2013. Analistas dizem que a maioria dos segmentos já ajustou estoques e os investimentos devem ser retomados.
Mas isso não quer dizer que o ano será de bonança. Para o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a perspectiva é de crescimento modesto, em torno de 2,5%.
Isso porque os números recentes de produção e emprego industrial não animam. Os dois indicadores têm se mostrado descolados um do outro. De dezembro para janeiro, a apuração mensal do IBGE mostra que o número de ocupados na indústria ficou estável, ante uma expansão de 2,5% da produção.
“Se ele [o emprego] se mostrou mais resistente no passado, quando a produção recuava fortemente, agora que a atividade industrial dá sinais de alguma recuperação não se vê uma reação do emprego no mesmo sentido”, afirmou o Iedi em relatório recente. Para o instituto, esse movimento deve ser tomado como uma indicação de que a indústria está longe de ter entrado numa trajetória de franca recuperação.
Produtividade
O diretor-presidente do Ipardes, Gilmar Mendes Lourenço, é ainda mais incisivo. Para ele, como a maior parte dos postos de trabalho criados entre 2000 e 2010 foi absorvida pela faixa de remuneração de até dois salários mínimos, com larga presença do setor de serviços – que paga, em média, salários 30% inferiores aos da indústria –, “a nação está condenada a ver minguar a sua produtividade e o seu potencial de geração de renda”.
Efeitos
Setor têxtil é o que mais sofre no Paraná
O cenário difícil de alta carga tributária e falta de infraestrutura, combinado à enxurrada de produtos asiáticos baratos que desembarcam por aqui, acertou em cheio a indústria têxtil brasileira e em especial a do Paraná, que tem o segundo maior polo do ramo no país.
Pelos dados da Fiep, a federação das indústrias, o gênero é o que sofreu a maior regressão nas vendas nos últimos dez anos. Elas caíram 73%, com a maior parte das empresas desistindo do comércio exterior. O número contrasta com nichos como o de veículos automotores e alimentos e bebidas, que avançaram bastante no mesmo período – 119% e 79%, respectivamente.
A indústria têxtil também tem um dos menores índices de uso da capacidade instalada do estado: 50%.
No início do mês, o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Aguinaldo Diniz Filho, disse que a desoneração da folha de pagamento do setor – adotada em abril de 2012, dentro do programa Brasil Maior – não conseguiu reverter o cenário. Cerca de 7 mil pessoas teriam sido demitidas em 2012, ante 16 mil no ano anterior.
O setor busca mais desonerações e outras formas de valorizar sua produção. Um dos exemplos é o Paraná Bussiness Collection (PBC), que, em uma ação coordenada, realizou duas edições no ano passado para apresentar a moda produzida aqui.
Fonte: Gazeta do Povo
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