Os aliados ocidentais da Autoridade Palestina estão se debatendo para trazer estabilidade financeira a um governo debilitado por uma ajuda internacional insuficiente e pelas sanções israelenses. À véspera da visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, à Cisjordânia, as autoridades palestinas esperam garantir mais ajuda americana.
No mês passado, o governo Obama liberou centenas de milhões de dólares em ajuda ao governo do presidente Mahmoud Abbas que tinham sido congeladas pelo Congresso. Mas isso não resolverá o crônico déficit fiscal que deixou a Autoridade Palestina com uma dívida de pelo menos US$ 2 bilhões.
O Fundo Monetário Internacional, em uma avaliação preparada para uma reunião de doadores internacionais na terça-feira em Bruxelas, alertou que a situação da economia palestina se tornou "muito mais precária" nos últimos seis meses. As autoridades palestinas alertam que os problemas econômicos — que têm feito com que o governo constantemente pague com atraso os salários de seus 150.000 funcionários — podem alimentar uma nova revolta contra Israel.
O Secretário de Estado dos EUA, John Kerry, tem falado com os países europeus e do Oriente Médio sobre ajuda à Palestina, disse sexta-feira passada a porta-voz do Departamento de Estado, Victoria Nuland, "porque uma Autoridade Palestina economicamente viável é do interesse não só dos próprios palestinos, mas da segurança e da paz na região".
A Autoridade Palestina já enfrentou esse tipo de crise no passado e Israel e os países doadores sempre entraram em cena com contribuições paliativas para garantir que o governo de Abbas permanecesse solvente. Mas o pagamento dos salários vem sendo errático desde junho e, embora a Autoridade Palestina tenha pago os salários de fevereiro na última segunda-feira, a data do pagamento de março continua incerta.
Tumultos em setembro e fevereiro levaram Israel a transferir dinheiro para sustentar o governo palestino. Os manifestantes tinham como alvo Abbas e o primeiro-ministro palestino, Salam Fayyad. Kadoura Fares, uma autoridade do Fatah, o partido de Abbas, e ex-ministro do gabinete palestino, alertou que problemas econômicos podem levar a um novo levante popular.
"No começo, as pessoas ficarão descontentes com as autoridades, mas depois elas vão descobrir que o problema não é com as autoridades, é com a ocupação", disse ele.
Como consequência da ajuda insuficiente dos governos árabes e ocidentais à Autoridade Palestina desde 2011, o FMI projeta um rombo financeiro entre US$ 400 milhões e US$ 700 milhões para este ano.
Israel tem repetidamente atrasado a transferência mensal de US$ 100 milhões em taxas alfandegárias e impostos sobre vendas como medida punitiva desde que Abbas conseguiu, em novembro, que a Organização das Nações Unidas reconhecesse a Palestina como um Estado observador não-membro. Nos últimos meses, Israel tem transferido dinheiro em tempos de agitação para amparar o governo da Palestina.
A política do recentemente empossado governo de Israel ainda tem de ser definida, disse uma alta autoridade israelense.
Para cobrir os custos durante o aperto de caixa, a Autoridade Palestina vem tomando mais empréstimos dos bancos palestinos — devendo a eles agora US$ 1,4 bilhão e criando o risco de minar a estabilidade da economia, segundo o FMI. A dívida do governo com o setor privado palestino também está pesando na economia.
"A crise de liquidez se aprofundou e as finanças públicas estão agora numa marcha insustentável", disse o relatório do FMI, que também advertiu os palestinos com relação a gastos excessivos. "Se deixadas sem controle, algumas dessas tendências acabarão fazendo com que alguns questionem a legitimidade da Autoridade Palestina e comprometendo sua capacidade de governar eficazmente."
Comerciantes no centro de Ramallah dizem que as pessoas estão cortando despesas maiores, como casamentos e reformas de imóveis, e gastando menos com alimentos e corte de cabelo. Existe uma preocupação com relação ao impacto da crise fiscal e do atraso dos salários particularmente no moral dos policiais palestinos, que têm ajudado a estabilizar a Cisjordânia em cooperação com Israel.
No orçamento dos EUA para 2012, foram alocados US$ 496 milhões em ajuda à Autoridade Palestina, incluindo US$ 200 milhões em assistência direta para o orçamento e fundos adicionais para os serviços de segurança. Pelos menos US$ 200 milhões estão reservados no orçamento de 2013.
A maioria dos fundos foi retida pela oposição no Congresso devido ao reconhecimento da Palestina pela ONU e às negociações de reconciliação de Abbas com o Hamas. Mas, nas últimas semanas, o governo liberou a maioria dos fundos. Cerca de US$ 200 milhões foram transferidos e US$ 495 milhões adicionais estão prestes a ser pagos, disse um funcionário do Departamento de Estado.
Fonte: The Wall Street Journal
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