O Japão e a União Europeia aceitaram ontem iniciar as negociações sobre um acordo de livre comércio, medida que segue a recente decisão de Tóquio de se juntar às discussões para um pacto de livre comércio no Pacífico, liderado pelos Estados Unidos, à medida que as economias desenvolvidas, travadas por problemas fiscais, olham para outros mercados como fontes de crescimento.
O anúncio veio num momento em que ambos, Japão e UE, tentam estimular suas economias, que estão lutando contra crises fiscais, problemas estruturais e o envelhecimento da população.
As negociações também ocorrem em meio à agitação financeira no Chipre e à crise econômica na Europa. Autoridades japonesas disseram que estão olhando para além das fragilidades econômicas na Europa e tentando fortalecer parcerias com os países europeus desenvolvidos para acelerar as reformas estruturais no Japão e conjuntamente expandir nos mercados emergentes.
"Queremos começar as negociações no próximo mês, com a expectativa de uma conclusão rápida", disse o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe. Autoridades comerciais do Japão disseram que esperam concluir as negociações em cerca de dois anos. O Japão deve começar a discutir também tratados de livre comércio com a China e a Coreia do Sul ainda esta semana.
A rápida sucessão de negociações de comércio representa em parte um esforço do Japão para alcançar a Coreia do Sul, uma grande rival em termos econômicos, que já possui acordos com a UE e os EUA e que está rapidamente superando o Japão em áreas como a de eletrônicos.
Na lista de desejos do Japão está o fim das tarifas da UE de 14% sobre eletrônicos e de 10% sobre automóveis. Ambas deixam os exportadores japoneses com significativa desvantagem em relação aos rivais coreanos.
O Japão também espera que um acordo comercial atraia mais empresas europeias para o país e estimule a economia doméstica, à medida que a situação fiscal do Japão se torna cada vez mais limitada devido à sua enorme dívida soberana.
A Europa é forte em áreas nas quais o Japão enfrenta sérios desafios, como o fornecimento de energia elétrica após o acidente com a usina nuclear de Fukushima Daiichi, em 2011. As 27 nações da UE também possuem estreitos laços com regiões onde o Japão tem interesse de se expandir, como a Ásia e a África.
"Um tratado de livre comércio com a Europa não visa apenas expandir o comércio bilateral, mas promover parcerias entre empresas individuais em outros mercados", disse Junichi Sugawara, analista comercial do instituto de pesquisa japonês Mizuho.
Essas são as primeiras negociações do gênero para o Japão com uma grande economia industrializada e acredita-se que elas enfrentem muitos obstáculos em áreas sensíveis. As negociações estavam previstas para terem começado em 2011; o atraso é um indicativo de quão contenciosos são esses pactos comerciais tanto no Japão como na UE. A UE quer que o Japão abra seus mercados de vinho e queijo, um convite à oposição dos agricultores japoneses. Enquanto isso, a Alemanha é cautelosa com relação a um acordo de livre comércio que pode significar uma inundação de carros japoneses no seu mercado.
A UE é o quarto maior mercado para as exportações japonesas após a China, a Associação de Nações do Sudeste Asiático e os EUA, com uma participação de mais de 10%.
O lançamento de negociações de livre comércio ocorre após a UE concordar, no mês passado, a começar uma negociação similar com os EUA. O Japão anunciou, separadamente, sua intenção de participar de discussões de uma iniciativa de livre comércio liderada pelos EUA chamado Parceria Transpacífico. Espera-se amplamente que juntas, essas negociações definam padrões globais de comércio e de investimento em meio à contínua divisão entre países desenvolvidos e em desenvolvimento sobre regras de comércio.
Na verdade, muitas das exigências da UE para o Japão são parecidas às dos EUA. Tanto os EUA como a UE argumentam que o processo de aprovação do Japão para remédios e equipamentos médicos é muito oneroso e deve se equiparar aos padrões internacionais.
Eles também argumentam que os padrões de tecnologia do Japão restringem injustamente o acesso ao mercado de veículos japonês. Argumentam ainda que o Japan Post, sistema postal do país, se beneficia de vantagens injustas por ser estatal.
A UE está encorajando o Japão a abrir as compras do governo, apontando para uma participação majoritária de fornecedores japoneses no mercado de material circulante.
"O acordo que temos em mente é abrangente, abordando barreiras tarifárias e não-tarifárias, compras do governo, direitos de propriedade intelectual e aproximação regulatória", disse o comissário de comércio da UE, Karel De Gucht.
Fonte: The Wall Street Journal
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