BRASÍLIA/SÃO PAULO, 6 Mar (Reuters) - O Banco Central manteve nesta quarta-feira, em decisão unânime, a Selic em 7,25 por cento ao ano, mas deixou a porta aberta para a elevação dos juros no futuro, ao retirar a indicação de que a taxa ficaria em níveis baixos por um período "suficientemente prolongado".
Essa foi a terceira vez seguida que o Copom manteve a taxa básica de juros, depois de uma sequência de dez cortes, e a decisão veio em linha com as expectativas do mercado.
"O Comitê irá acompanhar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária", disse o Comitê de Política Monetária (Copom) em comunicado conciso divulgado após a reunião.
Pesquisa da Reuters mostrou na semana passada que todos os 56 economistas consultados esperavam manutenção da Selic, mas uma maioria acreditava que o BC iria parar de prever a taxa baixa por período "suficientemente prolongado".
"Veio dentro do que o mercado já tinha precificado... Ele mostrou o que a gente chama de 'data dependent': a próxima decisão vai estar totalmente condicionada aos dados", afirmou o economista-chefe do Santander, Mauricio Molan.
Uma das maiores expectativas dos agentes econômicos era sobre a expressão por um "período de tempo suficientemente prolongado" no comunicado desta quarta-feira, utilizada nas três reuniões anteriores, para indicar o intervalo em que a Selic ficaria estável.
"O BC deixou a porta aberta para subir os juros já em abril, dependendo de como vai evoluir a inflação até a próxima reunião... Por enquanto, ainda trabalhamos com previsão de alta (da Selic) em julho, mas ainda vou reavaliar isso. Claramente aumentaram muito as chances de alta já em abril", afirmou o estrategista-chefe do banco WestLB, Luciano Rostagno.
O BC também não deu detalhes no comunicado desta quarta-feira sobre suas perspectivas para inflação, recuperação da atividade econômica e cenário externo.
VOLTA DO APERTO
Nas últimas semanas, cresceram as apostas no mercado futuro de juros de que a Selic será elevada em breve, diante das preocupações cada vez maiores com a inflação. Nesta quarta-feira, a maioria das apostam indicava que a alta ocorreria no próximo encontro, em meados de abril.
Para Molan, do Santander, com a decisão de agora, a tendência é de que suba um pouco a parte curta da curva de juros.
A inflação começou 2013 acelerando, sobretudo por conta dos preços dos alimentos, levando o presidente do BC, Alexandre Tombini, a indicar que a política seria ajustada caso fosse necessário.
Nas últimas semanas, no entanto, a inflação vem demonstrando sinais de arrefecimento, com diversos indicadores perdendo fôlego, como o IGP-M, cuja alta em fevereiro ficou em 0,29 por cento, depois de ter subido 0,34 por cento no mês anterior.
O IPCA de fevereiro será conhecido na sexta-feira e, segundo pesquisa Reuters, deve ter alta de 0,49 por cento, acumulando 6,20 por cento em 12 meses.
Dentro do governo, há a avaliação de que a Selic não precisa ser elevada neste ano porque a inflação vai perder força a partir do segundo semestre. Mas, mesmo que haja um aumento, a expectativa é que a taxa continue em patamares baixos.
O último ciclo de afrouxamento monetário começou em agosto de 2011, quando a Selic estava em 12,50 por cento, e acabou em outubro passado, quando chegou à mínima histórica.
CRESCIMENTO AINDA FRACO
O governo brasileiro vive um dilema neste momento, com a inflação ainda em níveis elevados --há avaliações de que o IPCA em 12 meses poderá ultrapassar o teto da meta deste ano, de 6,5 por cento, neste semestre-- e a economia patinando. A expectativa é que a economia cresça cerca de 3 por cento este ano, depois de registrar o crescimento pífio de 0,9 por cento em 2012.
"A decisão de manter a Selic reflete preocupação com o fraco desempenho da economia. Entretanto, o BC já deixou claro seu desconforto com a alta da inflação", afirmou o analista sênior de economia internacional da consultoria Oxford Analytica, Eduardo Plastino.
Ele ressaltou que qualquer decisão de política monetária tomada nos primeiros meses de 2013 terá impacto sobre a economia real apenas perto do fim do ano.
"Assim, a expectativa de inflação futura importa mais do que o último IPCA e seus componentes", acrescentou.
O mercado, segundo última pesquisa Focus do BC, prevê que o IPCA fechará este ano a 5,70 por cento.
Fonte: Reuters Brasil
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