A China dá início esta semana à reunião no Parlamento que irá revelar as nomeações finais para uma mudança de liderança que só ocorre a cada dez anos. O evento fornecerá também algumas indicações da disposição do novo governo em lidar com os crescentes problemas sociais, econômicos e ambientais que muitos membros do Partido Comunista temem estar erodindo seu poder.
Xi Jinping, que substituiu Hu Jintao como líder do Partido Comunista e chefe militar no início do processo de sucessão, em novembro, irá assumir seu terceiro cargo formal como presidente de Estado durante a reunião da Assembleia Popular Nacional, que começa hoje e deve durar cerca de dez dias.
Li Keqiang, que ocupa o segundo lugar na hierarquia do Partido Comunista, deve suceder Wen Jiabao como primeiro-ministro e líder principal da segunda maior economia do mundo. Ele responderá perguntas de repórteres locais e internacionais pela primeira vez nessa posição, durante a coletiva de imprensa a ser realizada após a reunião do Parlamento.
Espera-se também que os cerca de 3.000 membros do Parlamento aprovem a fusão de alguns ministérios, a meta de crescimento de 7,5% para o produto interno bruto este ano, um substancial aumento no orçamento militar e nomeações para dezenas de postos de liderança no governo, de acordo com analistas e diplomatas. No domingo, haverá uma reunião paralela de um corpo consultivo do Parlamento.
Xi agiu rapidamente para consolidar o apoio das Forças Armadas, destacando a prontidão para o combate em visita a unidades militares e assumindo diretamente o controle sobre a escalada das operações militares e civis relacionadas à disputa das ilhas controladas pelo Japão no Mar da China Oriental.
Ao fazer isso, dizem os analistas, ele está se distinguindo de Hu, que era popularmente visto como fraco e sem carisma.
Numa outra mudança importante, Zhang Gaoli, um dos sete membros do Comitê Permanente do Politburo do Partido Comunista — a cúpula do partido — deve se tornar vice-premiê executivo e uma figura influente na nova equipe econômica, de acordo com uma pessoa do partido a par do assunto.
Essa pessoa também disse que se esperava que o sucessor de Xi como vice-presidente fosse Li Yuanchao, o atual chefe do forte Departamento de Organização do partido e que tem liderado experimentos de reformas limitadas na organização, mas que ficou de fora do novo Comitê Permanente do Politburo. A promoção de Li para uma posição que normalmente garante um assento no Comitê Permanente vai aumentar seu prestígio internacional e torná-lo um forte concorrente para subir ao órgão de liderança máxima do governo, em 2017.
Também espera-se que Wang Yang, outra pessoa com histórico de mudanças econômicas e políticas relativamente liberais e que não obteve um posto no Comitê Permanente ano passado, se junte à equipe econômica como vice-premiê.
A reunião do Parlamento será um indicador inicial do compromisso dos novos líderes de levar adiante amplas mudanças na economia da China sobre as quais Hu e Wen falaram por anos, mas pouco fizeram para realizar: reformar a economia para que ela dependa mais da demanda doméstica e menos das exportações e dos investimentos de capital intensivo na indústria.
Desde novembro, Xi fez crescerem as expectativas de ajustes com a uma série de declarações veementes sobre corrupção e desperdícios do governo, e também ao usar sua primeira viagem oficial para ir à cidade de Shenzhen, no sul, onde o ex-líder Deng Xiaoping relançou notoriamente as reformas econômicas em 1992, após a agitação política de três anos antes.
Mas o novo líder deu até agora poucos detalhes sobre a sua agenda de mudanças econômicas ou como ele pretende lidar com outras questões que cada vez mais preocupam o público — principalmente a grave poluição do ar, do solo e da água e o crescente abuso de poder dentro do partido, que ganhou destaque no ano passado com o escândalo envolvendo o extravagante Bo Xilai.
Uma mudança importante que o Parlamento deve aprovar é um plano para agilizar o Conselho de Estado — ou gabinete ministerial — ao, entre outras coisas, fundir o Ministério de Ferrovias com o Ministério de Transportes, decisão que estaria ligada ao acidente com um trem de alta de velocidade em 2011.
Agências que monitoram a segurança alimentar — outra grande preocupação pública — também devem ser fundidas. Além disso, deve aumentar o poder da Administração Oceânica do Estado, a agência responsável pela patrulha marítima em torno das ilhas em disputa no Mar do Sul da China e no Mar da China Oriental, de acordo com acadêmicos chineses familiarizados com os planos.
Espera-se que a reestruturação seja menos agressiva do que o plano inicial.
No fronte econômico, analistas anteveem propostas específicas que possam elevar a renda dos chineses das classes mais baixas, ingrediente essencial para reequilibrar a economia.
Essas propostas podem incluir a diminuição de restrições que tornam difíceis para os migrantes obter pensões e educação para os filhos, através do aumento do pagamento de dividendos das empresas estatais e do uso desse dinheiro para pagamentos da previdência social, assim como da mudança da política fiscal, para que os distritos dependam menos da receita vinda da venda de terras confiscadas dos agricultores.
Fonte: The Wall Street Journal
Nenhum comentário:
Postar um comentário