Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

sábado, 17 de novembro de 2012

Unidades de pesquisa do MCTI triplicam pedidos de patentes


As instituições de pesquisa integrantes do sistema do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) triplicaram o número de depósitos de patentes no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI/MDIC) nos últimos anos. A quantidade de pedidos passou de 52 (entre 2000 e 2005) para 161 (entre 2006 e 2011). As inovações geradas pelas unidades envolvem desde uma farinha integral até uma placa de titânio para cirurgia veterinária, passando por um medicamento contra o câncer, um instrumento de astronomia e métodos para purificação de água, aproveitamento de serragem, transformação de resíduos sólidos em composto orgânico e fabricação de ácido acético. 
O aumento resulta das novas legislações e políticas públicas adotadas nos últimos anos para estimular a inovação no Brasil, como as leis de Inovação (10.973/2004) e do Bem (11.196/2005). Um dos eixos referente à primeira legislação é exatamente o estímulo à participação das instituições científicas e tecnológicas (ICTs) – entre elas, universidades e unidades de pesquisa.

Na avaliação do subsecretário de Coordenação das Unidades de Pesquisa do MCTI, Arquimedes Ciloni, o ambiente legal criado, o maior investimento na área, o incentivo e a criação de empresas e de instituições de ciência e tecnologia em setores intensivos em tecnologia possibilitaram os avanços recentes. “Propiciaram condições para que se pudesse testemunhar esse aumento progressivo”, afirma. “As unidades de pesquisa estão fazendo a sua parte no esforço do país em prol da inovação. Isso significa que estamos no caminho certo.”

Para fazer frente aos desafios da inovação, Ciloni conta que o ministério passou a realizar constantes discussões e workshops com as unidades de pesquisa para debater as medidas necessárias para a proteção das criações desenvolvidas. A partir da Lei de Inovação, também foram introduzidos nos denominados termos de compromisso de gestão (TCGs) – assinados anualmente pelos diretores dessas instituições e pelo ministro – indicadores de avaliação referentes ao desenvolvimento de processos e técnicas e ao registro de patentes.

Dentre as ações previstas nesse marco legal está, também, a criação de núcleos de inovação tecnológica (NITs). As áreas de inovação e de propriedade intelectual das unidades do MCTI foram organizadas em arranjos regionais de NITs. Essa iniciativa foi reforçada no Plano de Ação de Ciência, Tecnologia e Inovação (Pacti 2007-2010), que incluiu, entre suas metas, a implantação desses arranjos. Quatro se encontram em operação, envolvendo institutos de pesquisa internos e externos ao MCTI.

O Arranjo NIT Rio compreende as unidades de pesquisa do MCTI localizadas no Rio de Janeiro: CBPF, Cetem, Impa, INT, LNCC, ON e Mast. O Arranjo NIT Mantiqueira, no estado de São Paulo, reúne CTI, Inpe, LNA e ABTlus (ligados ao ministério), FVE/Univap e Centro Von Braun, entre outras instituições. Participam do Arranjo NIT Amazônia Oriental, no Pará: MPEG (do MCTI), Ufpa, Uepa, CPatu/Embrapa, Cesupa e Cefet-PA (quanto aos estados, Amapá e Tocantins também fazem parte). O Arranjo NIT Amazônia Ocidental, que abrange os estados do Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima, reúne Inpa, Instituto Mamirauá (ligados à pasta federal), UEA, Fucapi, FPF, Fundação de Medicina Tropical/Fiocruz – Manaus, Embrapa-RR, Suframa, Ifam, Ufam, UFRR, Unir, Ufac, CBA, Cide e Sesi.

Amazônia

Pertencente ao Arranjo NIT Amazônia Ocidental, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) se destacou pelo crescimento no número de patentes depositadas no INPI, que passou de sete (entre 2000 e 2005) para 52 (entre 2006 e 2011). No total, o instituto tem 71 produtos e mais quatro processos de transferência de tecnologia para empresas, entre eles o da farinha de pupunha integral e um produto compreendendo extrato de gengibre-amargo (Zingiber zerumbet). A substância possui propriedades terapêuticas e farmacológicas, podendo ser utilizada contra células neoplásicas, tumores malignos comuns em pacientes com câncer.

No fim de outubro, o instituto assinou um acordo de transferência de tecnologia de um purificador de água para a empresa Hightech Componentes da Amazônia. O processo Água Box, desenvolvido pelo pesquisador Roland Ernest Vetter e testado dentro das instalações do Inpa desde 2008, está instalado em cinco comunidades indígenas próximas ao rio Juruá, no Amazonas. A pesquisa testou a desinfecção por meio de radiação ultravioleta tipo C.

No Arranjo NIT Amazônia Oriental, a ação foi iniciada em 2008, tendo como uma de suas preocupações estabelecer projetos de pesquisa com povos e populações da região, tendo como algumas de suas metas Implantar a base de dados online de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) e prospectar pelo menos 30 tecnologias das ICTs que compõem o arranjo.

A rede é coordenada pelo Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG). A coordenadora regional, Graça Ferraz, pondera que, embora a unidade do MCTI não possua perfil marcadamente tecnológico, sua liderança na região tem propiciado avanços significativos. Gerou, desde 2011, o depósito de três patentes, entre elas, a de um processo de transformação de resíduos sólidos em composto orgânico, objetivando seu uso como terra preta nova. O invento – que comporta tanto uso doméstico quanto aplicação em aterro industrial sem a geração de gás metano – está em consonância com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que prevê a eliminação dos lixões em todo o país.

“A ação do Arranjo NIT Amazônia Oriental tem ressoado em outras ICTs que não possuíam NIT e nem patentes e, hoje, estão com núcleo implantado, patentes depositadas ou em processo de redação”, ressalta Graça. A coordenadora cita os exemplos da Universidade Federal Rural da Amazônia, no Pará, com uma patente, e da Universidade Federal do Tocantins, com três, e lembra a instalação de NITs em outras instituições.

Novas tecnologias

O Instituto Nacional de Tecnologia (INT), do Arranjo NIT Rio, também teve desempenho significativo, aumentando o número de depósitos de patentes de sete para 38, no mesmo período (comparação entre 2000-2005 e 2006-2011). A responsável pela área de Inovação e Prospecção Tecnológica do INT, Telma de Oliveira, atribui esse volume de proteção de novas tecnologias à estrutura que se criou para dar suporte à inovação.

O núcleo, por sua vez, internamente, começou a dar o estímulo necessário à proteção das criações, licenciamentos, inovação e outras formas de transferência de tecnologia. "Os próprios inventores – tecnologistas e pesquisadores do INT – passaram a buscar mais a proteção de suas criações, motivados inclusive pelos benefícios propiciados pela Lei da Inovação", ressalta Telma.

O processo de obtenção de ácido acético a partir de etanol foi um dos trabalhos contemplados pelo Prêmio Inventor Petrobras 2012. Importante intermediário químico, o ácido é usado na síntese de substâncias empregadas pelas indústrias têxteis, farmacêuticas, alimentícias, de tintas e vernizes e de diversos outros setores industriais. A pesquisa, que gerou pedido de patente em 2011, foi realizada pelos pesquisadores Lucia Gorenstin Appel, Alexandre Barros Gaspar, Sonia Letichevsky e Priscila da Costa Zonetti, do Laboratório de Catálise do INT.

Em relação às transferências de tecnologia, Telma de Oliveira conta que o instituto e o Centro de Tecnologia Mineral (Cetem) celebraram um contrato para a exploração da patente intitulada “Processo de separação de sólidos finos e seu uso em argamassas para a construção civil”, que deu origem à fábrica Argamil, inaugurada em junho de 2008, no município de Santo Antônio de Pádua.

O principal fator motivador para o projeto foi a aplicação da legislação ambiental, que acarretava multas às serralherias pela Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (Feema) e outros órgãos reguladores, em virtude do pó fino proveniente da serragem das rochas ornamentais levado para o solo e para mananciais pela água utilizada no processo.

Ainda no que concerne às tecnologias geradas pelo INT, desde 2011 o instituto licencia um conjunto de programas computacionais para planejamento e controle da produção de peças do vestuário. Em 2012, firmou mais um contrato para a exploração de quatro desenhos industriais com a empresa Brinqueteria Mamulengo. Os produtos compõem um conjunto de material pedagógico para utilização em escolas, principalmente, crianças com autismo.

Recentemente, o Observatório Nacional (ON) depositou seu primeiro pedido de registro de patente na área de astronomia. Trata-se de um heliômetro anular, um telescópio refletor desenvolvido para medir o diâmetro solar com alta precisão.

As instituições do Arranjo NIT Mantiqueira também apresentaram evolução. O Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI) aumentou em seis vezes a quantidade de depósitos de patentes, na comparação de 2000-2005 para 2006-2011, passando de dois para 12 pedidos no período. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) também avançou de cinco para oito depósitos.

Entre as patentes depositadas com o auxílio do NIT Mantiqueira estão duas do CTI: um aparelho que mede o nível da água para aplicação no monitoramento de rios, lagos, bacias marítimas e correlatos; e uma placa em titânio para promover osteossíntese (intervenção cirúrgica que tem por finalidade reunir fragmentos ósseos) em casos de fratura em mandíbula de cães. O núcleo possui outras 20 invenções com processo em andamento para depósito e também auxiliou no registro de 21 marcas, 12 softwares e um direito autoral. Grande parte das tecnologias com possibilidade de comercialização está apresentada na vitrine tecnológica do site da rede.

Para a analista em Ciência e Tecnologia Isabel Campos, da Scup, os resultados obtidos com a experiência dos arranjos regionais de NITs das unidades de pesquisa do MCTI indicam a importância de se continuar investindo no treinamento de recursos humanos, condição indispensável para se atingir os níveis de desenvolvimento desejados. “O fortalecimento dos arranjos ainda requer uma maior intensificação com o setor empresarial para viabilizar a transferência de tecnologia”, acrescenta.

Fonte: MCTI

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