Japão, China e Coreia do Sul estão se preparando para iniciar negociações preliminares sobre um tratado de livre de comércio entre os três países, disseram pessoas a par do assunto. A iniciativa pretende interromper a acentuada deterioração nas relações econômicas, principalmente entre Japão e China, devido a disputas territoriais.
"Os três países estão explorando várias possibilidades, inclusive uma reunião dos três ministros do Comércio" em Phnom Penh, no Camboja, em 19 ou 20 de novembro, disse na sexta-feira o ministro do Comércio do Japão, Yukio Edano. Uma autoridade do comércio japonês disse que a reunião, se de fato acontecer, iria produzir um acordo para começar a negociação de um tratado.
Os ministros do Comércio dos três países devem ir lá para participar de uma reunião patrocinada pela Associação de Nações do Sudeste Asiático.
O início das negociações seria visto como um sinal de que a abordagem mais gradual de integração econômica regional defendida pela China e pela Ansea pode estar encontrando mais apoio do que a liberalização mais radical pregada pelos Estados Unidos sob a chamada Parceria Trans-Pacífica, uma iniciativa que as principais economias asiáticas ainda não abraçaram.
Não está claro se o começo das conversas tripartites representaria uma genuína reviravolta nas relações sino-japonesas. Os especialistas acreditam que a iniciativa seria conduzida com discrição para não provocar uma revolta política na China, onde ainda persiste o ressentimento contra o Japão por causa da nacionalização por este de um grupo de ilhas no Mar da China Oriental que a China também reivindica.
Uma porta-voz do governo sul-coreano disse que os países estão organizando uma reunião dos três ministros do Comércio no Camboja. Um funcionário do departamento de comunicações do ministério do Comércio chinês não quis comentar sobre as supostas negociações.
Espera-se que o fórum regional seja palco de negociações separadas sobre tratados de livre comércio entre os dez membros da Ansea mais Japão, China, Coreia, Austrália e Nova Zelândia.
"Seria mais fácil para a China justificar conversas com o Japão no contexto da Ansea, pois ambos [os países] são membros da iniciativa de tratados de livre comércio patrocinada pela Ansea", disse Jian Min Jin, um estudioso do Instituto de Pesquisa Fujitsu, em Tóquio.
"O tratado de livre comércio tripartite é um projeto de longo prazo", acrescentou Jin. No curto prazo, "o ambiente de hostilidades não deve mudar significativamente", disse ele.
Um advogado que trabalha em Pequim e representa o Ministério do Comércio da China com frequência disse que conversas discretas são possíveis mesmo num período de tensão política.
"Pode ser um pouco difícil lidar com as negociações sobre a zona de livre comércio. Mas a tendência geral [de abrir o comércio com o Japão] provavelmente vai continuar", disse o advogado, acrescentando que situações como essa sempre ocorrem com os Estados Unidos, "mas a China continua trabalhando nos problemas do comércio".
O primeiro-ministro do Japão, Yoshihiko Noda, também deve comparecer à reunião da Ansea, embora não se espere nenhuma cúpula com China e Coreia, disseram pessoas a par do assunto. A China deve ser representada pelo premiê Wen Jiabao nas reuniões da Ansea.
Ao não realizar reuniões de cúpula, o Japão e a China poderiam evitar os problemas territoriais e se concentrar nos econômicos.
O Ministério das Relações Exteriores do Japão está amenizando o significado político das possíveis negociações sobre um tratado de livre comércio tripartite. As preparações para o início das conversas estão em andamento apesar dos conflitos territoriais, disse Naoko Saiki, secretária de imprensa do vice-ministro. "Houve um acordo de cúpula para que as negociações se materializem até o fim do ano", disse ela.
Noda, Wen e o presidente coreano, Lee Myung-bak, concordaram em maio em lançar as negociações sobre o tratado de livre comércio até o fim do ano, mas em algum ponto se pensou que elas tinham sido efetivamente canceladas, em vista da áspera disputa entre Japão e China.
A disputa gira em torno de minúsculas ilhas no Mar da China Oriental, chamadas Senkaku, no Japão, e Diaoyu, na China. Elas estão sob controle japonês desde o final do século XIX, mas a China reivindica a soberania delas, argumentando que o Japão tomou-as depois da guerra entre os dois países em 1894 e 95.
O conflito se acirrou este ano depois que ativistas de Hong Kong aportaram em uma das ilhas, em agosto, e depois que o Japão nacionalizou as principais ilhas sendo disputadas, em setembro. A decisão provocou uma onda de protestos contra o Japão e vandalismos contra propriedades de japoneses na China.
As exportações do Japão para a China em setembro diminuíram 14% ante um ano atrás e devem cair mais.
Autoridades japonesas disseram que sinais de mudança começaram a surgir na China na semana passada, quando o ministro do Comércio da China, Chen Deming, manifestou preocupação com a piora das relações com o Japão.
"O comércio entre China e Japão foi severamente prejudicado, resultando numa queda tanto nas exportações da China para o Japão quanto do Japão para a China", Chen disse numa entrevista coletiva durante o congresso do Partido Comunista. "Não queremos essa situação."
Fonte: The Wall Street Journal
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