Queda de 23% na produção do cereal não provoca desabastecimento, mas obriga o país a recorrer ao mercado internacional.
A redução de 27% na área do trigo no Paraná e a quebra de 15% na safra esperada no Rio Grande do Sul – por uma sequência de seca, granizo, geada e enxurrada – não geram desabastecimento, mas o país já está pagando mais caro pelos derivados do cereal. E terá de consumir panetones, pães e massas fabricados a partir de grãos argentinos na virada deste ano. Os estoques dos moinhos foram reforçados com importações recordes, o que garantiu a oferta de farinha mas não evitou alta de até 25% nesses alimentos em relação a 2011.
A safra nacional caiu 10% em relação ao volume esperado e 22,9% na comparação com a colheita de um ano atrás, limitando-se a 4,46 milhões de toneladas, conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Esse volume não cobre metade do consumo do país, que deve se manter em 10,4 milhões de toneladas, estima o governo federal.
O quadro se agrava porque foi registrada exportação de 1 milhão de toneladas de trigo da Região Sul (responsável por 95% da produção), num ano em que o mercado internacional demonstrou maior interesse pelo cereal brasileiro. Agora, o país está tendo de buscar complemento lá fora e o volume importado deve ser recorde: 7 milhões de toneladas. Metade da safra brasileira ainda não foi vendida, mas, principalmente no Rio Grande do Sul, boa parte da produção não alcança a qualidade exigida pela indústria.
Mesmo o Paraná, que colheu trigo de melhor qualidade e produz 2 milhões de toneladas, importou volume recorde de 526 mil toneladas de janeiro a setembro, aponta Hugo Godinho, técnico da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab). “É um volume expressivo. A redução de área no Paraná e no Brasil certamente colaborou para esse aumento.”
O presidente do Sindicato da Indústria do Trigo do Paraná (Sinditrigo), Marcelo Vosnika, relata que a queda de volume e qualidade na safra do Rio Grande do Sul ainda não atingiu o setor. “O fato ainda é recente, não foi discutido”, pontua.
“O Brasil sempre importou cerca de 50% do seu consumo. Com a redução na área plantada e a quebra em algumas regiões, esse volume deverá aumentar”, afirma Vilson Felipe Borgmann, presidente do Sindicato da Indústria da Panificação e Confeitaria do Paraná (Sipcep). Por enquanto, ele descarta desabastecimento. Mas o fato de a Argentina – principal fornecedor brasileiro – enfrentar quebra até maior tende a alavancar os preços, prevê.
Com cereal tarifado, farinha subirá mais
O trigo que o Brasil está importando agora vem praticamente todo da Argentina. Ano que vem, a indústria terá de buscar grãos fora do Mercosul, pagando Tarifa Externa Comum (TEC) de 10%. A TEC já foi suspensa em 2008, quando também faltou cereal, mas por enquanto essa bandeira não foi levantada pelos moinhos.
A Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) diz que ainda não faz nenhuma articulação nesse sentido. No Paraná, Marcelo Vosnika, que preside o Sindicato da Indústria do Trigo (Sinditrigo), também sustenta que o setor não discute a questão. “Por enquanto isso não é necessário no Paraná, pois há trigo disponível para se comercializar”, afirma, referendo-se ao cereal que os produtores mantêm armazenado.
Vosnika sustenta que, caso a isenção seja necessária, o assunto deverá ser discutido, mas apenas em 2013, a partir de março, quando a entressafra brasileira poderá comprimir a oferta do cereal. Os produtores que alcançaram boa qualidade estão adiando a venda de trigo e contando com nova alta nos preços.
A saca com 60 quilos passou de R$ 24,20 para R$ 34 em um ano, conforme o histórico de preços do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab). Essa alta de 40% ainda não foi totalmente repassada para a farinha. O quilo da farinha especial passou da casa de R$ 1,70 para a de R$ 1,90 no estado. As panificadoras relatam altas de mais de 20%, apontando reajustes de 8% somente neste mês.
Fonte: Gazeta do Povo
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