Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Abismo fiscal pode alterar política monetária do BC


Mesmo sendo os próprios Estados Unidos o epicentro do problema, investidores ainda veem no dólar americano um dos maiores porto seguros do mundo financeiro.

Os analistas de mercado evitam sequer trabalhar com um cenário no qual os políticos dos Estados Unidos não chegarão a um acordo sobre o abismo fiscal, uma vez que tal cenário tem ares catastróficos, que levará a economia americana à recessão em 2013.

Entretanto, mesmo com a maior economia do mundo em frangalhos, a tendência é que nos momentos em que a aversão ao risco estiver em níveis estratosféricos, os investidores voltem a correr atrás dos dólares.

"A gente viu isso acontecer em 2008, e acredito que se repetiria", diz João Pedro Brugger, da Leme Investimentos.

Apesar da alta probabilidade do fato ocorrer, o especialista admite que o movimento poderia ser caracterizado como "irracional", já que os investidores iriam buscar segurança em ativos lastreados à praça financeira mais conturbada do momento.

"O mundo ainda vê o dólar como o ativo mais seguro, mais líquido. É instintiva essa ação", afirma Alcides Leite, professor de economia da Trevisan Escola de Negócios.

Caso venhamos a vivenciar esses dias sombrios, o real perderá valor, com um menor poder de compra dos produtos importados, o que pressionaria a inflação, e poderia levar o Banco Central (BC) a rever seu desejo de manter a taxa Selic inalterada durante o ano que vem.

Além da própria procura natural por mais dólares em momentos de crise, a professora do curso de administração da ESPM, Cristina Helena Pinto de Mello, lembra que o abismo diminuirá as despesas dos americanos, e seu nível de importações, com reflexos diretos sobre as exportações brasileiras.

"Não acredito que essa situação vai ocorrer, mas se de fato tivermos o abismo fiscal, assistiremos a uma recessão sem precedentes", pondera a acadêmica.

O drama que se vê prevê com o abismo, nota a professora, praticamente força os políticos americanos a uma negociação.

Fica até mesmo difícil de diferenciar com precisão se o problema vivido hoje nos Estados Unidos é político ou econômico, pontua Cristina.

"Acho bastante difícil conseguir identificar o quem vem primeiro. A desaceleração no crescimento americano é causado por ausência de inovações, novas tecnologias, que levaram os Estados Unidos a importar mais do que exportar há mais de uma década", diz a professora.

"Embora o problema tenha origem na crise financeira de 2008, a solução não foi alcançada ainda por razões meramente políticas", opina Alcides Leite, da Trevisan.

A prioridade do partido republicano ao obter a maioria na Câmara, recorda o professor, era lutar para que Obama não tivesse um segundo mandato.

"Não dá mais pra seguir na mesma estratégia que já foi derrotada. Persistir nesse caminho é um desgaste maior para o partido", afere o especialista.

Mesmo em um cenário no qual um acordo chegue a ser alcançado entre os congressistas americanos, o objetivo do BC brasileiro de manter a Selic inalterada talvez tenha dificuldades de ser obtido.

Os analistas do Bank of America Merrill Lynch, David Baker e Alejo Costa, destacam que, caso o abismo fiscal seja evitado, a demanda externa por bens domésticos tende a crescer no primeiro semestre de 2013, assim como os preços de tais produtos.

Um aumento de 1% no crescimento global, calculam os especialistas, deve ter como consequência uma expansão das exportações na mesma intensidade, e contribuir com 0,2 ponto percentual ao Produto Interno Bruto (PIB) do país no primeiro semestre.

Com base nessas projeções, os analistas do Bank of America Merrill Lynch avaliam que o impacto seria pequeno nos índices de inflação, mas ressaltam que, em um ambiente no qual as expectativas para os preços já estão em alta, qualquer ruído pode ter reflexos indesejados.

Fonte: Brasil Econômico

Nenhum comentário:

Postar um comentário