Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

sábado, 6 de julho de 2013

Salto na produção dos EUA deixa petróleo menos volátil

O aumento da produção petrolífera na América do Norte promete reforçar a segurança energética dos Estados Unidos, mas já está proporcionando um benefício mais global: a estabilidade nos preços do petróleo.

Entre os beneficiários estão os legisladores em Washington, que podem se preocupar menos com o impacto das suas decisões sobre o mercado.

Em 15 de janeiro, a operadora de um oleoduto no Mar do Norte desligou o sistema após um vazamento, cessando a produção de nove plataformas marítimas. No passado, uma interrupção assim podia fazer disparar os preços do petróleo. Mas naquele dia os preços até caíram um pouco.

O preço do petróleo tem se mantido notavelmente estável em relação ao ano passado em vista de uma longa lista de interrupções de fornecimento, desde roubo de petróleo na Nigéria até a guerra civil na Síria. A razão, em grande parte, é que há uma nova e abundante oferta de petróleo extraído na América do Norte protegendo os mercados. Isso vem "moderando" o efeito das recentes interrupções sobre os mercados, diz Adam Sieminski, autoridade da Administração de Informações sobre Energia dos EUA (EIA, na sigla em inglês).

A nova oferta ainda não está abaixando os preços, e não há consenso entre os economistas se isso acontecerá ou não. Mas ela já está agindo como amortecedor numa cadeia de suprimentos global que injeta 88 milhões de barris de petróleo no mercado consumidor a cada dia.

Além de firmar o preço do combustível e facilitar as previsões orçamentárias, a estabilidade fornece uma nova vantagem geopolítica para os EUA. Num exemplo, em 2012 Washington conseguiu aprovar novas e severas sanções econômicas contra o Irã, para neutralizar suas ambições nucleares. As sanções dos EUA e da União Europeia reduziram as exportações de petróleo iranianas em cerca de um milhão de barris por dia no ano passado, segundo a EIA. Mas a queda teve pouco impacto duradouro sobre os preços — algo praticamente impensável alguns anos atrás, diz John Hannah, assessor de segurança nacional no segundo mandato de George W. Bush.

Maiores estoques e produção global, incluindo os do maior produtor mundial, a Arábia Saudita, ajudaram a moderar a reação do mercado à perda dos barris iranianos. Mas a nova produção das reservas de xisto dos EUA e das areias betuminosas do Canadá forneceu uma proteção extra contra interrupções de produção em várias regiões do mundo.

No fim da década de 90 os preços do petróleo começaram uma longa alta, à medida que a demanda superava o aumento da produção. Apesar de que os preços caíram durante a crise financeira de 2008, logo recomeçaram a subir. A escassez quase perpétua condicionou os mercados a esperar saltos nos preços após interrupções no fornecimento, mesmo mínimas. Esse efeito começa a afrouxar, com o barril de petróleo de referência dos EUA se movendo numa faixa relativamente estreita, entre cerca de US$ 90 e US$ 100 o barril.

Grandes interrupções ainda podem influenciar os preços. O barril de petróleo americano de referência superou a marca de US$ 100 o barril ontem, em parte devido às preocupações com a oferta do Oriente Médio gerada pela crise política e intervenção militar no Egito.
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Ainda assim, no ano passado a volatilidade foi a mais baixa desde pelo menos 2000 para os preços do petróleo de referência nos EUA e na Europa, segundo uma análise feita pelo The Wall Street Journal e revista por Craig Pirrong, professor da Universidade de Houston que estuda o preço das commodities. Até agora este ano a volatilidade dos preços diminuiu mais ainda. A flutuação diária é mais ou menos a metade do que ocorria no início dos anos 2000, disse Pirrong.

A América do Norte aumentou em cerca de 1,8 milhão de barris sua produção diária de petróleo nos últimos dois anos. A Agência Internacional de Energia, sediada em Paris, prevê que o continente como um todo vai acrescentar mais 3,9 milhões de barris à produção diária mundial até 2018.

Nos EUA o crescimento se deve sobretudo a novos métodos de perfuração para extrair petróleo aprisionado em camadas de xisto e outras rochas. No Canadá há uma explosão de novos investimentos na extração de petróleo pesado de depósitos de areia de quartzo. A produção mexicana tem ficado basicamente inalterada.

A nova produção norte-americana reduziu as importações dos EUA dos países membros da Opep, deixando estes com mais capacidade ociosa de reserva. Economistas do Barclays BARC.LN -0.41% PLC calculam que a capacidade ociosa mundial gira em torno de 2,7 milhões de barris diários, bem superior à marca de 1,5 milhão de barris de um ano atrás.

Alguns acontecimentos podem mudar esse quadro. Se os preços do petróleo começarem a cair, como alguns economistas preveem, os membros da da Organização dos Países Exportadores de Petróleo terão menos incentivo para fazer os investimentos necessários para manter tanta capacidade não utilizada de prontidão. Alternativamente, se uma recuperação na atividade econômica dos grandes países consumidores aumentar a demanda, isso poderia reduzir as novas reservas mundiais.

Também há questões econômicas e geológicas na alta do petróleo norte-americano. O custo da extração nos campos mais produtivos do país é incerto e varia muito. Se o custo for alto, de modo geral, os produtores precisarão de preços mundiais mais elevados para justificar a continuidade das perfurações. Além disso, os poços de petróleo de xisto dos EUA tendem a esgotar-se rapidamente, levantando questões sobre a sustentabilidade do recente aumento da produção.

Fonte: The Wall Street Journal

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