A "vigilância" prevaleceu sobre a "cautela" e o Copom cumpriu ontem o que prometera ao elevar a Selic de 8% para 8,50%.
A "vigilância" prevaleceu sobre a "cautela" e o Copom do Banco Central cumpriu ontem o que prometera ao elevar a Selic de 8% para 8,50%.
Ao não alterar o comunicado expedido no final da reunião anterior - "Dando prosseguimento ao ajuste da taxa básica de juros, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 8,50% ao ano, sem viés.
OComitê avalia que essa decisão contribuirá para colocar a inflação em declínio e assegurar que essa tendência persista no próximo ano" -, manteve a sinalização de que fará mais uma alta de 0,50 ponto no próximo encontro, dia 28 de agosto.
Se a atual gestão do BC fosse desenvolvimentista, teria suspendido temporariamente o ciclo de alta que começou em abril para avaliar melhor a situação.
Afinal, os índices de inflação corrente estão vindo abaixo das expectativas. E os de atividade, piores do que se pensava. E já abalam o trunfo eleitoral do pleno emprego. Depois de a produção industrial ter caído 2% em maio, os empresários foram logo dispensando trabalhadores, tanto é que o emprego industrial recuou 0,5% no mesmo mês. Isso revela descrença em retomada futura.
Está acontecendo alguma coisa com a economia, e a "cautela" deveria prevalecer sobre a "vigilância". O cenário mudou radicalmente nos últimos dias. Não se trata mais de dar uma paulada na Selic para atacar, com um golpe seco e isolado, as expectativas inflacionárias negativas, e atrair com urgência capitais de portfólio para segurar o dólar.
As expectativas inflacionárias já murcharam diante da atividade débil e os investimentos externos de carteira não voltarão enquanto o Federal Reserve (Fed) persistir dividido sobre o momento mais adequado para o início da normalização monetária nos EUA.
A decisão de ontem do Copom lembra muito outra - histórica, por seu equívoco - tomada no dia 10 de setembro de 2008. Cinco dias antes de a quebra do Lehman Brothers arrastar o mundo a uma crise da qual ainda não se recuperou, o Copom subiu a Selic de 13% para 13,75%. Depois teve de ir reduzindo a taxa até chegar a 8,75% ao mesmo tempo em que inundava o mercado de liquidez através de medidas macroprudenciais.
No aguardo do Copom, os juros quase não se mexeram ontem nos contratos mais curtos negociados no mercado futuro da BM&F. A taxa para o fim do ano subiu de 8,78% para 8,79%. Mas as taxas longas caíram, refletindo a perspectiva de um aperto monetário mais brando. O contrato com vencimento em janeiro de 2015 caiu de 9,58% para 9,51%. E a taxa para janeiro de 2017 cedeu de 10,87% para 10,81%.
O mercado de câmbio deu trabalho ao BC. A moeda subiu até R$ 2,2810, exigindo a venda, pela autoridade, de 29,7 mil contratos de swaps cambiais, no valor de US$ 1,48 bilhão. Mesmo assim, o dólar contrariou aqui a queda internacional (de 0,77%, de acordo com o Dollar Index) e fechou com valorização de 0,44%, cotado a R$ 2,2730. O câmbio operou excitado até a divulgação, às 15 horas, da ata da reunião de 19 de junho do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc).
Os "comprados" em dólar futuro esperavam a confirmação, em ata, da disposição do Fed de iniciar a redução do volume de compras mensais de títulos já no fim do ano, prolongando-se até meados de 2014, conforme cronograma que foi passado à imprensa em coletiva após o encontro de junho pelo presidente Ben Bernanke. Pois a ata desmentiu Bernanke.
Apenas metade dos membros do Fomc manifestou-se favoravelmente ao início do programa de redução de liquidez ainda este ano. A outra metade prefere colher mais dados sobre o comportamento da economia, sobretudo sobre a recuperação dos empregos. Ou seja, o Fed está rachado e os juros dos títulos do Tesouro americano podem ter disparado sem razão do dia 19 para cá.
A ata diz duas coisas: em algum momento (o Fomc não sabe quando, pode ser este ano ou no próximo) irá começar a diminuir os estímulos; essa redução não será feita concomitantemente a uma elevação dos juros básicos (primeiro, cortará os incentivos e, muito tempo depois, iniciará um movimento de alta dos "fed funds", a taxa equivalente à Selic brasileira).
Há uma forte componente especulativa na alta doméstica do dólar. O fluxo cambial foi negativo em US$ 780 milhões na semana passada, segundo dados divulgados ontem pelo BC. O comportamento positivo da conta comercial - superávit de US$ 582 milhões - não conseguiu neutralizar os efeitos sobre a cotação do dólar das saídas de capital pela conta financeira. Esta ficou negativa em US$ 1,36 bilhão.
A saída de estrangeiros do mercado financeiro doméstico foi o gatilho da valorização de 1,21% registrada pelo dólar no acumulado da semana passada, mas o avanço foi magnificado pelo crescimento das posições compradas montadas por fundos externos nos mercados futuros de dólar da BM&F, de US$ 4,84 bilhões no mesmo período.
Apenas no pregão de segunda-feira, as posições compradas em dólar dos estrangeiros foi elevada em US$ 490 milhões. Superam agora US$ 8,8 bilhões. Se a essa posição em favor do dólar dos hedge funds globais for somada a carregada na mesma direção pelos fundos de investimentos nacionais (de US$ 18,01 bilhões) tem-se uma aposta contra o real de impressionantes US$ 26,82 bilhões.
Já passou da hora de o Ministério da Fazenda inibir a formação de posições compradas por meio do IOF. Elas não são a origem da disparada do dólar, mas atuam como uma caixa de ressonância destinada a fabricar lucros.
Da perspectiva do comportamento da balança cambial do início do ano até o dia 5 de julho, ainda prevalece um saldo líquido positivo, ou seja, entraram mais dólares do que saíram, o que tira fundamentação técnica à escalada do dólar e transfere os motivos para o terreno das expectativas adversas e da especulação.
De janeiro até julho (dia 5), a saída de recursos pela conta financeira (-US$ 8,69 bilhões) foi largamente compensada pela entrada através da conta comercial (US$ 17,44 bilhões).
Fonte: Brasil Econômico
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