Por Júlio Gomes de Almeida*
Cada vez mais vão se tornando claras as diferenças entre as políticas dos países mais agressivos no comércio exterior e o Brasil.
A chamada globalização serviu para a diversificação econômica e a potencialização do crescimento desses países que, nesse percurso, promoveram aberturas em suas economias e aumentaram em muito suas importações.
O Brasil também promoveu a abertura comercial e nos últimos anos teve extraordinário crescimento das importações. A diferença com relação aos países de maior êxito não reside aí, mas sim, do outro lado.
Nas outras experiências a evolução nas exportações suplantou o avanço das importações. Em outras palavras, os países abriram suas economias e importaram mais, porém seu objetivo foi o de exportar mais ainda.
E lograram ter êxito porque incentivaram o desenvolvimento de setores de maior intensidade tecnológica e agregação de valor, não descuidaram do câmbio, celebraram bons acordos de comércio e se aproximaram vantajosamente das cadeias globais de valor construídas pelas grandes empresas internacionais.
No nosso caso, a despeito de uma significativa ampliação do comércio regional e da importância do Mercosul para as exportações de maior valor agregado, permanecemos distantes dos principais fluxos do comércio mundial (salvo quanto às commodities agrícolas e minerais), nos afastamos das cadeias globais e a valorização extraordinária do real dizimou a competitividade das exportações de bens não primários.
Resultado: se o país era superavitário no comércio exterior desses bens em 2007 no montante de US$ 19 bilhões, nos anos que se seguiram à crise mundial passaria rapidamente à condição de muito deficitário. Em 2012, o déficit atingiu US$ 50 bilhões e no primeiro semestre de 2013, segundo dados do IEDI, que adota uma classificação setorial da OCDE, chegou a US$ 33 bilhões, devendo alcançar US$ 60 bilhões no ano todo.
Nesse período, as importações brilharam: mesmo com a retração da economia em 2009 e o baixo crescimento do PIB em 2011 e 2012 o aumento médio anual foi de 14,3%, contra 3,9% para as exportações. Para 2013, com dados para o primeiro semestre, a situação pode ser considerada mais grave devido à queda das exportações (0,3%), enquanto as importações subiam 5,5%.
Chama à atenção a magnitude do recuo das vendas ao exterior de bens de alta e média-alta tecnologia (-6%), contra um forte aumento das importações desses mesmos bens (8%). Ainda que se possa lembrar que as compras de produtos de maior intensidade tecnológica apresentam um lado positivo porque ajudam na atualização da produção doméstica, a queda livre das exportações dos produtos de maior tecnologia é de todo desastrosa.
Enquanto a economia mundial o fenômeno China em especial - amparava a valorização das commodities primárias, as consequências deste antimodelo de comércio exterior sobre as contas externas brasileiras eram limitadas, mas esse não é mais o caso. Abrir por abrir a economia e fazer por fazer acordos comerciais não mudará esse quadro. Resta o caminho muito mais difícil de preservar um câmbio competitivo, incentivar a modernização industrial e melhorar a produtividade, a infraestrutura, a tributação e o custo de capital.
São estes os fatores fundamentais para assegurar uma maior e mais positiva inserção externa da economia brasleira.
*Julio Gomes de Almdeia é professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.
Fonte: Brasil Econômico
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