A pessoa mais importante nas videoconferências de divulgação de resultados dos bancos, que começam amanhã com o J.P. Morgan Chase JPM +1.16% e o Wells Fargo, WFC +2.61% será alguém que nem estará presente: Ben Bernanke, o presidente do Federal Reserve, o banco central americano.
Um aumento rápido e acentuado nas taxas de juros de longo prazo desde o início de maio, alimentado por comentários do presidente do Fed, está apresentando desafios e oportunidades para os maiores bancos americanos, que lutam para superar a baixa procura por empréstimos, uma economia fraca e uma série de novos regulamentos que estão corroendo os lucros.
O desempenho das ações dos bancos será em boa parte definido pela maneira com que eles se adaptam à subida dos juros, que "realmente pegou os banqueiros desprevenidos", disse Christopher Marinac, analista bancário da firma FIG Partners LLC, de Atlanta.
O salto de um ponto percentual inteiro nos juros de longo prazo, o maior aumento desde 2010, já dizimou US$ 31 bilhões em ganhos contábeis nas carteiras de investimentos dos bancos até o fim de junho, segundo dados do Fed.
Ao mesmo tempo, alguns executivos de bancos disseram que a subida dos juros de longo prazo lhes permite elevar o preço dos novos empréstimos comerciais, um sinal animador para um setor atingido nos últimos anos por margens muito reduzidas na área de crédito. As taxas médias para os empréstimos comerciais de dez anos a juros fixos aumentaram de 3,3% ao ano em abril para 3,9% em junho, segundo a firma de software e dados bancários Automated Financial Systems Inc.
Os bancos americanos são muito sensíveis às mudanças nos juros, já que qualquer alteração pode afetar seu custo de captação e o quanto podem cobrar para emprestar aos clientes.
Os analistas geralmente acreditam que os maiores bancos, como J.P. Morgan e Bank of America, BAC +0.41% estão melhor posicionados para enfrentar o aumento dos juros porque suas carteiras de títulos são mais direcionadas para instrumentos de prazo mais curto, e seus segmentos de banco de investimento e operações de mercado podem se beneficiar da alta.
Por outro lado, muitos bancos menores são mais vulneráveis porque normalmente investem seu dinheiro por períodos mais longos, ficando expostos a mudanças bruscas nos juros.
Mas até mesmo os grandes bancos, que estão mais protegidos dos aumentos das taxas, reconhecem que levariam anos para recuperar os prejuízos causados por um salto significativo.
Se as taxas de curto e longo prazo subissem três pontos percentuais, seriam necessários dois ou três anos de ganhos com a rentabilidade de empréstimos e investimentos para o JP Morgan compensar os estimados US$ 15 bilhões em prejuízos contábeis que sua carteira de títulos sofreria, segundo o banco. Essas perdas, por razões contábeis, não teriam efeito relevante nos lucros totais do maior banco dos Estados Unidos.
O Bank of America, o segundo maior do país, levaria três anos para compensar os US$ 11 bilhões em perdas contábeis esperadas se os juros de curto e longo prazo subissem em apenas um ponto percentual, segundo um cálculo baseado em observações feitas pelo diretor financeiro Bruce Thompson durante uma recente teleconferência com investidores.
Os banqueiros que estão ansiosos para que as taxas aumentem ainda mais reconhecem os perigos dessas oscilações rápidas que atormentaram as instituições financeiras em décadas passadas. Em 1994, um aumento repentino gerou grandes prejuízos para uma série de bancos, corretoras de valores e fundos de hedge.
O risco do aumento dos juros está se tornando um ponto importante para os reguladores americanos. O Fed, pela primeira vez este ano, incluiu um cenário de risco de juros nos seus "testes de estresse" anuais para os maiores bancos do país. Estes foram solicitados a avaliar como se sairiam numa situação envolvendo aumento dos preços ao consumidor e subida acentuada nos juros de curto prazo.
Nenhum dos 18 maiores bancos americanos concluiu que seu nível de capital cairia abaixo do mínimo regulamentar nesse cenário.
O Zions Bancorp ZION +0.68% ., um banco de médio porte de Salt Lake City que tem US$ 54 bilhões em ativos, alertou os investidores numa apresentação recente sobre o que aconteceria ao capital do setor como um todo se as taxas de longo prazo aumentassem em três pontos percentuais.
A quantidade de capital em poder do setor cairia entre US$ 200 bilhões e US$ 250 bilhões após impostos, ou seja, em 17% do capital ordinário tangível existente no sistema bancário, segundo a apresentação feita aos investidores numa videoconferência.
Isso resultaria em US$ 2 trilhões de redução na capacidade de empréstimo, disse o diretor de Relações com Investidores do Zions, James Abbott. "Já vimos esse filme várias vezes," acrescentou ele.
David Zalman, diretor-presidente do Prosperity Bancshares, um banco de médio porte com sede em Houston e US$ 16,1 bilhões em ativos, disse que já antevê críticas se os ganhos anteriores na carteira de títulos do banco, de US$ 8 bilhões, se transformarem em prejuízos. Mas a longo prazo, "precisamos que as taxas aumentem para ganharmos mais dinheiro", disse ele.
Alguns bancos menores já estão ajustando seus preços. Kevin Cummings, diretor-presidente do Investors Bancorp Inc. ISBC 0.00% em Short Hills, no Estado de Nova Jersey, que administra US$ 13 bilhões em ativos, disse que quando as taxas de longo prazo subiram, sua equipe decidiu aumentar o preço de certos empréstimos para imóveis comerciais e apartamentos.
Lee Roberts, diretor de operações do VantageSouth Bank, de Raleigh, Carolina do Norte, disse ter notado que os concorrentes Wells Fargo e BB&T BBT -0.03% revisaram para cima o preço de certos negócios e disseram aos clientes que os termos atuais não podem se manter por muito mais tempo. O Wells não quis comentar. Uma porta-voz do BB&T disse que "determinamos os preços em negociações individuais com clientes".
As taxas para empréstimos "estão subindo", disse Scott Shay, presidente do conselho do Signature Bank, banco de Nova York com US$ 18,5 bilhões em ativos. "Se um banco não está aumentando suas taxas, francamente, está fechando os olhos."
Fonte: The Wall Street Journal
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