A desaceleração da China preocupa o mundo, que teve no país asiático seu principal motor de crescimento econômico nos últimos anos, mas não deve assustar o Brasil, dizem especialistas.
Ao contrário: se souber explorar as oportunidades geradas pela transição chinesa, o Brasil poderá reduzir a desigualdade qualitativa da relação com o país, seu principal parceiro comercial.
Especialistas ouvidos pela Folha dizem, porém, que, para isso, o Brasil terá de "fazer seu dever de casa".
Isso significa ajustes macroeconômicos e recuperação da infraestrutura para elevar a competitividade, além de mais agressividade para entrar no mercado chinês.
Os planos do governo chinês de ampliar a classe média do país, a fim de mover o foco do crescimento econômico de exportações para o consumo doméstico, criam novos mercados para produtos brasileiros, sobretudo os industrializados.
A pauta de venda do Brasil para a China é dominada por matérias-primas, com pouco espaço para manufaturados. Dos 20 primeiros da lista, 5 não são commodities.
Do outro lado da corrente, os 20 produtos mais vendidos pela China para o Brasil são manufaturados com valor agregado, como máquinas e tecnologias.
Esse desequilíbrio mudará se a indústria brasileira souber aproveitar o potencial de consumo chinês, diz Claudio Frischtak, consultor do CEBC (Conselho Empresarial Brasil-China).
"Se o governo chinês for bem-sucedido no processo de expansão da classe média, e a probabilidade é grande, a primeira implicação para o Brasil é a diversificação de sua pauta de exportação."
Para Frischtak, é uma conclusão óbvia, já que os gostos dos emergentes chineses não serão diferentes das classes médias de outros países.
Um exemplo citado por ele é o setor de cosméticos, dos quais o Brasil é um grande produtor, mas tímido exportador para a China.
DESACELERAÇÃO
O discurso do governo chinês é que a economia deve ser mais dependente do consumo interno e menos das exportações, mesmo que a consequência seja um crescimento mais moderado.
Um dos sinais dessa desaceleração (provocada também por fatores externos, como a menor demanda de países emergentes e desenvolvidos) é que as importações chinesas recuaram 0,7% em junho. As exportações caíram 3,1% na maior queda desde dezembro de 2009.
Ex-embaixador da China no Brasil, Chen Duqing diz não acreditar numa desaceleração abrupta que afete a economia brasileira. Ele lembra que a China "tem uma demanda rígida" por commodities e prevê que o volume de importação não deve cair.
Chen concorda que é o momento de diversificar a pauta de exportações brasileiras para a China. Mas afirma que isso depende tanto da ação mais efetiva do governo para promover o país como de um espírito empreendedor do setor privado.
"Tem coisa que não dá para fazer pela internet. Tem de vir para cá e fazer amizade."
Fonte: Folha de S. Paulo
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