Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

"Porcos selvagens" atacam Real

Ao abrandar seu discurso em favor de um aperto monetário, o Fed permitiu ontem uma recuperação dos mercados de risco.

As taxas dos títulos de 10 anos do Tesouro americano oscilaram entre 2,55% e 2,64%, ante 2,63% na véspera, e fecharam a 2,57%. Os efeitos sobre o Brasil foram elevação de 2,51% do índice Bovespa, para 46.626,26 pontos, e desvalorização de 0,62% do dólar, cotado a R$ 2,2590.

O mercado futuro de juros da BM&F resistiu à onda de otimismo vinda do exterior. Como o Copom sinalizou convicta e temerariamente a intenção de fazer mais uma alta de 0,50 ponto na taxa Selic em sua reunião de agosto, o pregão da BM&F manteve-se circunspecto.

A taxa para a virada do ano quase não saiu do lugar (caiu de 8,80% para 8,79%), enquanto os contratos longos subiram. Para janeiro de 2015, o juro avançou de 9,52% para 9,59% e, para janeiro de 2017, de 10,82% para 10,86%.

A ata da última reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), ao desnudar sem constrangimentos a divisão paralisante entre os membros "hawks" (os falcões sempre dispostos a enxugar a liquidez) e os "doves" (as pombas incansáveis em defender estímulos pró-crescimento) sinalizou que nenhuma decisão está tomada e ela talvez não venha a acontecer este ano.

O recado da ata foi reverberado pelo presidente da instituição, Ben Bernanke, em entrevista após o discurso pronunciado em comemoração aos 100 anos do Fed. No seu estilo deliberadamente vacilante, propenso a morder e a soprar em seguida, próprio de quem gosta de cultivar interpretações dúbias, Bernanke disse que o "futuro previsível", ou seja, os meses pela frente em relação aos quais dá para se ter algum grau de visão clara, recomenda a manutenção de uma política monetária "altamente acomodatícia". E há membros do Fed capazes de sustentar a ideia que o volume de recompras mensais de títulos públicos e hipotecas, de US$ 85 bilhões, não é tão "acomodatício" assim.

Logo depois, atenuando a sua percepção precedente, garantiu que a inflação chegará em algum momento à meta do Fed, de 2%, o que exigirá providências "hawkish". Em maio, o acumulado da inflação em 12 meses foi metade disso. Mas o Fed só começará a pensar efetivamente em subir a taxa básica de juros (hoje entre zero e 0,25% ao ano) quando a taxa de desemprego recuar dos atuais 7,6% para 6,5%. Isso nem de telescópio ainda se vê.

Só se poderá falar em aperto monetário americano quando a taxa básica iniciar um movimento de alta? Não é bem assim. Quando o Fed começar a recomprar uma quantidade de títulos em volume inferior aos atuais US$ 85 bilhões por mês, a oferta de liquidez se tornará menor. Como todo movimento de aperto visa justamente reduzir, em algum nível, a quantidade de dinheiro em circulação, a retirada dos estímulos já irá configurar o início de uma contração. Mesmo antes que isso venha a ocorrer, o próprio mercado já ajusta os juros presentes à expectativa de alta futura.

Há um ano, as taxas dos T-Notes de 10 anos estavam em 1,38% e foram avançando muito lentamente à medida em que surgiam indícios de que o Fed ensaiava uma mudança de discurso até chegarem em 1,6% no início de maio. A partir do dia 15 de maio, os discursos de membros do Fed foram ficando cada vez mais ríspidos e a taxa passou a evoluir aos pulos até bater na máxima de 2,76% logo após a entrevista de Bernanke de encerramento da reunião do Fomc de 19 de junho.

Essa escalada da treasury de 10 anos fez o estrago visto na taxa de câmbio brasileira, em combinação com a percepção dos investidores estrangeiros de que a economia brasileira exalava doença ao juntar, em uma mesma maca de hospital, crescimento em baixa, inflação em alta, declínio assustador do superávit comercial, aumento do déficit em transações correntes do balanço de pagamentos, dicotomia entre uma política monetária contracionista e uma fiscal expansionista. E o dólar valorizou-se ante o real 14% do dia 15 de maio até o pico de R$ 2,28 anteontem.

O tom mais comedido do Fed visa a reduzir a intensidade da alta do T-Notes de 10 anos. A intenção parece ser a de puxar a taxa para mais perto do patamar de 2,5%, pois se ela continuasse a subir contaminaria negativamente a incipiente retomada da economia americana. E o Fed teria de prolongar os estímulos por mais tempo do que desejaria, talvez até o final de 2014. A grande dúvida é: se o Fed conseguir segurar o avanço das treasuries, a cotação interna do dólar voltará a um nível mais civilizado, entre R$ 2,10 e R$ 2,20? 

Será preciso antes que os hedge funds globais desmontem as posições compradas que estão armando nos pregões de derivativos cambiais da BM&F. Melhor dizendo, será preciso antes que os investidores de fora parem de aumentar suas posições compradas. Apenas nos dois primeiros pregões desta semana (os dos dias 8 e 10, já que o do dia 9 não abriu), elas subiram US$ 1,15 bilhão.

Passaram de US$ 8,32 bilhões no dia 5 para US$ 9,47 bilhões na quarta-feira. Está na hora do Ministério da Fazenda tomar alguma providência para brecar essa especulação altista. Será preciso moderar o apetite daquele bando do mercado que o presidente do Fed de Dallas, Richard Fisher, ex-gestor de hedge fund, chama de "porcos selvagens", criaturas sempre dispostas a atacar assim que detectam uma fraqueza ou um cheiro ruim. Exagero? Enquanto o dólar caiu ontem mundialmente 1,52%, aqui cedeu 0,62% à vista e tão-somente 0,26% no futuro.

Fonte: Brasil Econômico

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