Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

BCs do mundo se armam para impedir bolhas financeiras

No elegante bairro de Gangnam em Seul, na Coreia, que ficou famoso com o popular vídeo clip de Psy, um astro da música pop, as restrições governamentais sobre os empréstimos imobiliários congelaram um mercado onde o preço dos imóveis vinha subindo até 25% ao ano.

Em Toronto, no Canadá, o preço dos imóveis reverteu uma rápida ascensão e caiu durante cinco meses, depois que o governo mudou as regras de modo a aumentar, efetivamente, os pagamentos mensais para os novos empréstimos.
Mas em Tel Aviv, Israel, o preço dos imóveis continuou sua escalada, com um aumento de 11% em relação ao ano passado para um apartamento de três quartos, mesmo depois que o banco central elevou o valor mínimo da entrada e tornou os empréstimos hipotecários menos atraentes para os bancos.

Os banqueiros centrais de muitos países estão acompanhando com interesse essas experiências, entre eles Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos. Ele e seus colegas de todo o mundo, escaldados pela pior crise financeira em 75 anos, estão buscando maneiras de refrear as farras de empréstimos antes que elas se transformem em bolhas, e incentivar os credores a reforçar suas defesas antes que chegue a próxima crise.

Aumentar os juros para desencorajar os empréstimos há muito é considerado uma arma brutal, porém eficaz. Mas não é um passo que os bancos centrais queiram dar quando a inflação é baixa ou o desemprego é alto — como acontece hoje em muitos países.

Assim, alguns bancos centrais estão experimentando direcionar-se apenas para os bolsões de excessos financeiros. Como as bolhas financeiras muitas vezes envolvem o mercado imobiliário, e como esse setor esteve no centro da última crise, muitos estão se concentrando em controlar a alta dos preços de imóveis residenciais restringindo os empréstimos hipotecários.

A habitação não é o único foco: no ano passado a Indonésia proibiu empréstimos para compra de motocicletas com entrada zero, por exemplo, e Coreia do Sul impôs taxas para desencorajar os bancos a acumular dívida de curto prazo em dólares.

Até o momento, os resultados dessas medidas em todo o mundo são bastante desiguais. Em alguns países as experiências estão produzindo os efeitos desejados, enquanto em outros isso não ocorre.
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Como o objetivo dos novos instrumentos é proteger a totalidade do sistema financeiro e da economia, os economistas se referem a eles como macroprudenciais. Isso os distingue dos microprudenciais, relativos à fiscalização tradicional que visa garantir a segurança e solidez de cada banco, individualmente.

No momento, essas preocupações são bastante hipotéticas para os EUA, Europa e Japão. Por ora, seus bancos centrais estão tentando incentivar os empréstimos. Mas a promessa do Fed de manter o juro baixo por muito tempo — enquanto o desemprego continuar alto e a inflação baixa — já provocou a volta de alguns tipos de empréstimos arriscados que precederam a crise de 2008.

Após a crise, o Congresso americano ampliou a autoridade do Fed e de outros órgãos reguladores, mas não lhes deu todos os poderes que os bancos centrais de alguns países têm, como o de definir a entrada mínima para uma compra. Mas Bernanke opinou favoravelmente sobre uma abordagem mais direcionada: "A incorporação explícita de considerações macroprudenciais na estrutura nacional de supervisão financeira representa uma importante inovação no nosso modo de pensar (...) que está passando a predominar no exterior, bem como nos EUA".

O conceito deixa alguns economistas inseguros. "As ferramentas macroprudenciais são novas, e pouco se sabe sobre sua eficácia", diz Olivier Blanchard, economista-chefe do FMI, que publicou 23 artigos sobre o assunto nos últimos três anos.

As técnicas acenderam um debate entre os banqueiros centrais, órgãos reguladores e acadêmicos quanto à viabilidade de lograr o que seus defensores prometem. Alguns consideram a palavra "macroprudencial" um eufemismo para a prática, bastante desacreditada, de permitir que o governo decida para onde o capital deve fluir. Mas os defensores dizem que o resultado de deixar tudo por conta dos mercados foi a pior crise financeira em várias gerações.
"Muitos julgavam que era adequado esperar uma crise eclodir e então limpar o estrago", diz Kim Choong-soo, presidente do banco central da Coreia do Sul. "[Mas] a crise que enfrentamos foi tão grande, e teve um impacto tão enorme sobre nós, que começamos a acreditar que a prevenção pode custar menos."

Subjacente à boa parte do debate está a questão de saber quando as ferramentas macroprudenciais devem ser usadas em vez de aumentos mais amplos das taxas de juros, medida que raramente é popular. Alguns críticos lembram que o excesso de dinheiro fácil já produziu inflação no passado, e temem que as ferramentas sejam uma desculpa para desperdiçar o tempo com aumentos nos juros.

Adair Turner, até recentemente o principal regulador financeiro da Grã-Bretanha, contrapõe que "a taxa de juro necessária para desacelerar uma alta nos preços dos imóveis provavelmente é tão elevada que iria arrasar com algum outro setor da economia, muito antes de conseguir abrandar o boom imobiliário".

Embora atraentes para alguns em teoria, os novos instrumentos podem revelar-se politicamente traiçoeiros na prática. Usar as taxas de juros para direcionar uma economia é uma medida que, embora por vezes controversa, é amplamente aceita pelos mercados, bancos, políticos e pelo público em geral. Ao contrário, dificultar para as famílias a compra da casa própria não é nada popular.

Quando o banco central de Israel elevou a entrada mínima para imóveis para 30%, fixou em 25% para os que compravam sua primeira casa. Stanley Fischer, que deixou a presidência do banco em 30 de junho, atribui isso a "razões puramente políticas".

"É inconcebível", disse Moshe Gafni, membro do Parlamento israelense, falando a Fischer em uma audiência, "que um jovem casal não possa ter um apartamento porque não é rico".

Fonte: The Wall Street Journal

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