Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

IPCA subirá 0,4 ponto percentual com dólar alto

Segundo economistas, esse deverá ser o efeito sobre a inflação, caso o câmbio permaneça acima de R$ 2,20.

A recente alta do dólar, que passou de R$ 2,00 em meados de maio e permanece, insistentemente, acima de R$ 2,20, ainda não terá todo seu impacto sentido nas próximas divulgações do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Mas economistas garantem, que essa elevação de 10% já é suficiente para causar um efeito inflacionário de 0,4 ponto percentual nos próximos dois trimestres.

Com isso, boa parte das projeções que indicavam que o IPCA fecharia o ano abaixo de 6% está sendo revista. Até há poucas semanas, poucos eram os economistas que bancavam o patamar atual do dólar. Agora, muitos acreditam que este pode terminar 2012 acima até mesmo de R$ 2,25.

Segundo Alessandra Ribeiro, economista da Consultoria Tendências e responsável pelo cálculo, somente em agosto a variação cambial deve afetar o IPCA. Outros indicadores, que medem a inflação no atacado, por exemplo, devem absorver antes essa alta. "Ainda não vimos os efeitos nos IGPs (Índices Gerais de Preços, cálculados pela Fundação Getúlio Vargas). Mas isso deve aparecer rapidamente", avalia.

Segundo ela, a desvalorização do real está anulando o efeito desinflacionário das commodities - que em sua maioria estão em queda - que poderia surtir efeito nos preços. Desde o início da alta do dólar, o índice CRB (Commodity Research Bureau), que mede a variação de matérias-primas cotadas em bolsa, valorizou 10,3% quando convertido para o real.

Apenas esse movimento, o das commodities, já seria o suficiente para elevar o IPCA em 0,3 ponto percentual. "Seria pior se as commodities não estivessem em queda", avalia Ribeiro.

Para sexta-feira, quando será divulgado o IPCA-15, uma prévia do índice fechado do mês, Ribeiro espera uma alta de apenas 0,13%, o que, se confirmado, será uma desaceleração drástica ante junho, quando o indicador preliminar mostrou elevação de 0,38%.

Ela credita a baixa valorização dos produtos a dois fatores: transportes e alimentação em domicílio. "A evolução desses dois itens deve resultar em uma inflação tranquila para esses últimos 30 dias", explica.

Artigos de higiene e limpeza sofrem forte impacto

Elina Nunes, técnica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), conta que os primeiros itens no varejo a subir são os de higiene pessoal e limpeza. Segundo ela, muitos insumos químicos utilizados pela indústria nacional são importados, o que contamina os preços. Eletroeletrônicos têm o mesmo problema. 

Além deles, adubo, fertilizantes e outros insumos agrícolas também dependem da cotação do dólar. Até mesmo a ração animal, composta basicamente por milho e soja, dois dos alimentos mais comercializados nas bolsas mundo afora, sofre com a desvalorização da moeda brasileira. Este é o início de um efeito cascata que afeta praticamente todos os alimentos no país. Desde o pãozinho francês, feito a base de trigo ou milho, até o complexo de carnes.

Ela brinca que os desdobramentos da desvalorização cambial são tantos que até mesmo produtos que o próprio IBGE descartaria sofrem com a alta do dólar. "O mais curioso é a ração animal, seja na pecuária ou para animais domésticos. São feitos de produtos nacionais, mas como são commodities, acompanham o mercado internacional", diz.

Os efeitos cambiais podem demorar até um ano para serem completamente absorvidos, diz Eulina. "Tudo depende muito do momento da economia. Algumas empresas precisam segurar os repasses, porque a demanda não está tão sólida assim. Dessa forma, os efeitos podem ser diluídos em muitos meses", explica.

Essa é a tese de José Márcio Camargo, economista-chefe da consultoria Opus. Para ele, o nível de atividade deve cair nos próximos meses. Como consequência, empresários tendem a segurar os preços para tentar garantir a demanda. "Isso pode mitigar os efeitos da desvalorização do real. Mas caso os produtos importados subam, os nacionais devem acompanhar, aproveitando essa diferença", afirma.

Embora Camargo preveja um possível impacto do dólar na inflação em apenas três meses , ele acredita que os efeitos serão ainda maiores do que o calculado por Alessandra, da Tendências. "Até meados de 2014, essa elevação do dólar pode incrementar até 0,7 ponto percentual na inflação", projeta. Com isso, Camargo diz que a inflação oficial pode terminar o ano acima de 6%, perigosamente próxima do teto estipulado pelo Banco Central, de 6,5% em 12 meses.

Fonte: Brasil Econômico

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