Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Aposta de recuperação do Japão tem efeitos mundiais

Por quase duas décadas, o Japão tem sido amplamente irrelevante para a economia mundial. O país ficou preso em uma órbita de decadência, um espetáculo deprimente, mas com poucos impactos para outros países.

Para o bem ou para o mal, esse período agora está no fim.

O governo do primeiro-ministro Shinzo Abe embarcou numa aposta de alto risco para escapar da ameaça de crescimento irrisório e queda nos preços usando uma combinação de gastos governamentais, crédito fácil e uma ambiciosa reforma na tradicional economia japonesa.
Se a chamada "Abeconomia" for bem-sucedida, a então terceira maior economia do mundo pode reemergir como um importante motor de crescimento num momento em que a Europa está estagnada e a China se desacelera. Se ela falhar, a montanha de dívidas do governo japonês pode desmoronar e afetar a economia global.

"Ela definitivamente tem potencial para ser um grande choque", diz Michael Manetta, economista da Roubini Global Economics. "Em termos de comportamento de mercados de capitais, ela provavelmente seriaparecida ao que vimos depois do [colapso do] Lehman Brothers."

O Fundo Monetário Internacional tem apoiado os esforços do Japão para desatar o crescimento. Uma recuperação japonesa seria "claramente uma vitória para a economia global", diz Jerry Schiff, chefe da missão do FMI para o Japão. "Ela seria um benefício significativo em um momento em que não há muitos condutores do crescimento global."

Ao mesmo tempo, as preocupações sobre o que poderia acontecer se a Abeconomia desandar estão aumentando. O FMI listou recentemente essa possibilidade como um dos maiores riscos da economia global.

Um possível cenário de desastre econômico: o tamanho da dívida do governo do Japão, que é de quase 150% o PIB do país, é muito maior do que de qualquer uma das grandes economias. Os investidores até agora continuam emprestando ao governo japonês a taxas de juros bem baixas, o que permite que ele pague seus compromissos com facilidade.
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Mas se o crescimento não se materializar, os investidores podem começar a duvidar da capacidade do governo de pagar. "O risco é de os investidores passem a se preocupar com a sustentabilidade da dívida e exigir taxas de juros mais altas", escreveu o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, este mês.

Para evitar um calote, o governo pode pressionar o banco central a continuar comprando a dívida, processo que poderia desencadear hiperinflação. A queda nos padrões de vida dos japoneses, uma crise bancária e um aumento nos juros poderia ter efeitos na região e afetar a já frágil economia mundial.

"Um grande aumento nos rendimentos [dos títulos de dívida do governo japonês] pode ter importantes efeitos globalmente", disse Schiff, do FMI. "Tem potencial de afetar a economia global de uma forma não trivial."

De fato, os economistas advertiram por anos que a dívida do Japão é insustentável. Mas os investidores têm dado de ombros, em grande parte porque até 95% da dívida é mantida pelos próprios japoneses, famosos pela sua parcimônia, por meio de bancos, seguradoras e fundos de pensão.

Em algum momento, no entanto, o mercado doméstico de dívida ficará saturado e novos títulos do governo terão de ser comprados por investidores estrangeiros, que são mais volúveis. No prazo de três ou quarto anos, as poupanças das famílias devem começar a cair à medida que mais japoneses se aposentam.

"Se eles não tiverem as coisas resolvidas até lá, será bem difícil, porque a demanda natural [por títulos do governo] que tem sido sustentada pelas economias das famílias vai começar a evaporar", diz Manetta.

O governo de Abe já disparou a primeira das suas "três flechas": indicou um novo presidente para o banco central, que inundou a economia de dinheiro. A segunda flecha, a política fiscal, foi apenas parcialmente disparada. Foi dado início a um estímulo fiscal, mas não foi anunciado ainda um plano de médio prazo para elevar impostos e reduzir gastos.

Para um impacto maior na economia, Abe precisa usar a terceira flecha, pois as medidas em ação até agora tiveram pouco efeito.

O FMI quer mudanças muito mais profundas para encorajar as mulheres a participar da força de trabalho, tornar mais fácil a demissão de trabalhadores mais velhos e desregulamentar o setor agrícola e de serviços.

Se a terceira flecha falhar, a Abeconomia irá provavelmente desandar e conseguir apenas uma pilha ainda maior de dívida.

A Abeconomia representa a melhor — e provavelmente última — chance para o Japão evitar uma crise de dívida que poderia voltar a adiar a recuperação mundial.

Fonte: The Wall Street Journal

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