O crescimento acima do esperado da economia americana no segundo trimestre aumentou a percepção no mercado de que o Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, deve começar a reduzir o estímulo econômico naquele país já em setembro, o que poderia diminuir o volume de dólares investidos em países como o Brasil.
Para injetar recursos na economia, a autoridade monetária americana recompra mensalmente desde 2009 US$ 85 bilhões em títulos emitidos pelo governo. E parte desse dinheiro se reverte em investimentos financeiros, inclusive em mercados emergentes, como o brasileiro --que tendem a ser reduzidos se o incentivo monetário for cortado.
Diante de indicadores econômicos positivos nos EUA, o Fed já afirmou que pretende encerrar o programa de estímulo em meados de 2014, mas deixou incerto quando o processo terá início.
Com a expansão do PIB dos EUA anunciada nesta quarta-feira (31), o dólar disparou em relação ao real logo após a abertura do mercado, com a moeda americana chegando a R$ 2,30 --nível que foi atingido pela última vez em março de 2009--, forçando o Banco Central a atuar pesadamente no câmbio.
A autoridade promoveu três leilões de swap cambial tradicionais --que equivalem à venda de dólares no mercado futuro-- injetando ao todo US$ 2,248 bilhões no mercado de câmbio.
A medida não foi suficiente para conter a alta do dólar à vista --referência para as negociações no mercado financeiro--, que, às 12h36, subia 0,95%, cotado em R$ 2,297 na venda. No mesmo horário, o dólar comercial --utilizado no comércio exterior-- avançava 0,78%, para R$ 2,298.
"O movimento está ligado diretamente aos Estados Unidos", diz Paulo Gala, estrategista da Fator Corretora. "Puxado pelo consumo, o crescimento dos EUA foi um pouco melhor que o esperado e mostra que a economia americana está engatando. Dados positivos do mercado de trabalho divulgados hoje nos EUA também contribuem para essa análise", completa.
De acordo com Gala, um possível corte antecipado nos estímulos econômicos nos EUA, a princípio, traria impactos negativos aos demais países, como o Brasil.
"Os dados devem ser suficientes para que o Fed comece a cortar seu programa de estímulo já em setembro. O impacto disso no Brasil seria uma pressão maior para a subida da taxa de juros no longo prazo e uma maior desvalorização do real em relação ao dólar, uma vez que os recursos tendem a deixar o país em direção aos EUA, reduzindo a oferta da moeda americana em nosso mercado e pressionando sua cotação para cima", explica.
Hoje termina mais um encontro do Fed nos EUA e, no meio da tarde, o mercado vai conhecer a decisão do BC americano tanto sobre o programa de estímulo quanto para a taxa de juros no país --atualmente em seu menor patamar histórico, perto de zero.
"Quando o Fed encerrar seu programa de estímulo nos EUA, é provável que ele também aumente a taxa de juros por lá, o que deixaria os títulos do Tesouro americano, que são remunerados por essa taxa e considerados de baixo risco, mais atraentes aos investidores. Apenas a perspectiva de que isso deverá acontecer já está causando migração de recursos dos países emergentes, como o Brasil, para os EUA", diz Hamilton Alves, estrategista do BB Investimentos.
Em meio a esse cenário, o Ibovespa, principal índice de ações da Bolsa brasileira, registrava queda de 0,53% às 12h36, para R$ 48.302 pontos. O índice acumula ganho em torno de 1,8% em julho e caminha para fechar seu primeiro mês positivo no ano.
"Mas, se o Fed disser hoje que vai começar a cortar o estímulo já em setembro, o Ibovespa pode perder esse ganho acumulado em julho no último dia do mês", alerta Alves.
Fonte: Folha de S. Paulo
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