A ata da reunião da semana passada do Copom do BC trouxe novidades importantes para os mercados de juros e câmbio.
Os recados mexem com os comportamentos dos dois ativos porque a ata traça um horizonte desprovido de dúvidas apenas até o próximo encontro, no dia 28 de agosto.
Nele, sinalizou taxativamente a intenção de fazer mais uma elevação de 0,50 ponto na Selic, dos atuais 8,5% para 9%.
Depois disso, tudo fica nebuloso. As próximas decisões - e aqui entra a grande surpresa da ata - irão depender do comportamento de duas variáveis incertas: a taxa de câmbio e a confiança de famílias e empresas na economia.
Pela primeira vez o BC introduziu esses dois fatores de preocupação. Reconheceu francamente que a desvalorização do real é fonte de pressões inflacionárias e que a falta de confiança na economia está minando o crescimento.
Para atacar os efeitos nocivos sobre a inflação da alta do dólar estará disposto a continuar apertando a política monetária. Mas admite que o segundo fator atua para segurar a expansão da Selic. O BC tem como agir para debelar os dois problemas.
E terá de fazê-lo até a reunião de 9 de outubro. No câmbio, persistirá com suas intervenções de oferta de hedge cambial por meio de swaps e medidas destinadas a atrair capitais externos. Para não ter de subir a Selic no ritmo de 0,50 ponto também em outubro, não poderá deixar que o dólar passe de R$ 2,27.
E para restaurar a confiança da sociedade na economia, sua tarefa consiste em entregar o IPCA deste ano longe do teto de 6,5% da banda inflacionária.
Por que R$ 2,77 configuram o teto aceitável para o dólar do ponto de vista do combate à inflação? Não foi apenas para estimular o aprimoramento das análises técnicas das cem instituições que alimentam o boletim Focus de dados que o BC criou a categoria chamada oficialmente de Top 5.
Ela é composta pelas cinco instituições que mais acertam previsões. O destaque conferido a esse grupo de elite revela que o BC leva muito a sério as projeções feitas por ele quando elabora as suas próprias e planeja as suas ações. E o que as Top 5 estão dizendo? Elas, na mediana de curto prazo, preveem IPCA fechado este ano de 5,73%, se a Selic subir a 9,25% e se o dólar não ultrapassar R$ 2,27.
Traduzindo: se o BC conseguir segurar a moeda americana nos atuais patamares, poderá no Copom de 9 de outubro encerrar o atual ciclo de alta com uma elevação de apenas 0,25 ponto.
Com isso, conseguirá que o IPCA de 2013 fique abaixo dos 5,84% de 2012. Essa é a grande meta inflacionária do BC: ele não quer e não está trabalhando para que o IPCA desça ao centro de 4,5% da meta. Irá se contentar com uma taxa acumulada menor que a do ano passado.
Sem dúvida, será uma expressiva vitória para quem, no primeiro semestre do ano, foi acusado de leniência no controle da inflação por permitir que, em vários meses, a taxa acumulada em 12 meses furasse o teto de 6,5% da banda inflacionária.
Os mercados de câmbio e juros parecem ter entendido direitinho os recados do BC. Como a curva futura de juros está praticamente ajustada às sinalizações do BC - de alta da Selic de 0,50 ponto em agosto e de 0,25 ponto em outubro -, as taxas dos contratos futuros de CDI negociados na BM&F quase não se mexeram.
O contrato para a virada do ano permaneceu estável em 8,75%. A taxa para o que vence em janeiro de 2015 evoluiu levemente de 9,36% para 9,40%. E o contrato longo, favorito dos estrangeiros, cedeu de 10,44% para 10,41%.
O mercado futuro de CDI irá se movimentar doravante de olho nas duas variáveis-chefe definidas pelo Copom. As taxas futuras subirão se o BC não tiver êxito em sua missão de reter o dólar aquém dos R$ 2,27.
Ou subirão menos mesmo que isso aconteça se os indicadores de confiança persistirem revelando o baixo-astral de consumidores e empresários.
Ontem, para reforçar os sinais emitidos pela ata, o BC mudou sua estratégia de intervenção no câmbio. Escolheu o mesmo dia de divulgação da ata para informar ao mercado que as rolagens dos swaps cambiais que vencerão em agosto, num total de US$ 5,72 bilhões, serão feitas separadamente. Ontem, ele renovou 20 mil contratos, no valor de US$ 995 milhões.
E hoje fará outro leilão de rolagem também envolvendo 20 mil contratos. Ao invés de rolar todos os vencimentos de uma vez só, como fez em ocasiões anteriores, o BC optou por fatiar os lotes. A desconcentração confere maior poder de fogo às suas intervenções, pois aumenta a sua presença no mercado sem a necessidade de emitir papéis novos.
Foi o que se viu ontem. Quando o dólar ameaçava se desgarrar logo cedo - foi cotado a R$ 2,2383, com valorização de 0,51%, porque indicadores positivos sobre a economia americana estavam provocando alta dos juros dos títulos de 10 anos do Tesouro americano -, anunciou o leilão de rolagem, e o dólar baixou para R$ 2,2195. A moeda fechou em queda de 0,09%, cotada a R$ 2,2250.
A estratégia do BC pode dar certo se os mercados internacionais permanecerem convencidos da sinceridade demonstrada pelo presidente do Federal Reserve (Fed), Ben Bernanke. Ontem, na sessão de perguntas e respostas que se seguiu ao seu discurso no Senado americano, corrigiu o que havia dito na entrevista posterior à reunião do comitê de política monetária do Fed de 19 de junho.
Nesta entrevista, abalando os mercados, disse que a redução do "quantitative easing" começaria no último trimestre de 2013 e terminaria no fim do primeiro semestre de 2014. Ontem, garantiu que não há nenhuma data marcada para o início da diminuição dos estímulos.
O saldo dos indicadores americanos do dia foi positivo. Dois dados otimistas contrabalançaram um terceiro, negativo. Os pedidos de seguro desemprego caíram de 358 mil para 334 mil na semana passada, uma redução mais acentuada do que o patamar de 345 mil esperado pelos analistas.
Já é alguma coisa quando as empresas diminuem as demissões. A sondagem de manufatura do Fed da Filadélfia também surpreendeu positivamente. O índice subiu de 12,5 em junho para 19,8 em julho quando o mercado projetava queda para 8. Já os indicadores antecedentes do Conference Board decepcionaram. A variação foi nula no mês passado, ante previsão de uma pequena alta de 0,2%.
Fonte: Brasil Econômico
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