Não é de hoje que a China vem puxando a taxa de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Desde a crise de 2008, o peso do crescimento da economia chinesa no âmbito internacional tem ganhado maior importância ao passo que o desempenho dos países desenvolvidos faz o caminho inverso, contraindo-se. Os últimos números sobre o PIB trimestral chinês — que caiu de 7,7% no primeiro trimestre de 2013 para 7,5% no segundo, devido, principalmente, a uma significativa queda das exportações e a um menor crescimento industrial —, junto a um cenário de incertezas e de fraco crescimento da economia mundial, contribuem para que a expectativa de uma retomada econômica global fique mais distante. Nesse contexto, as perguntas que ficam são: será possível o dragão asiático sofrer quedas ainda mais relevantes nos próximos anos? E, em que medida o Brasil seria afetado, sendo a China o principal mercado de destino das exportações brasileiras?
Fernando Veloso, pesquisador da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia (FGV/IBRE), acredita que uma maior desaceleração da economia chinesa — abaixo dos 7,5% atuais —, é inevitável, seja por motivos domésticos ou devido a mudanças na conjuntura internacional. Segundo ele, há algumas razões para isso. Uma delas é a consolidação do processo de urbanização, a qual levará a perda de fôlego da taxa de investimentos, hoje com valores acima de 45%. A consequência, aponta, é a redução de transferência de trabalhadores de atividades menos produtivas, como a agricultura, para mais produtivas, como serviços e indústria. Outros motivos, destaca Veloso, são a margem menor de crescimento econômico com base no aumento das exportações, uma vez que a economia mundial também está em desaceleração; a provável redução da expansão do crédito (atualmente em 200%), sinalizado pelo Banco Central chinês, que reduziu a provisão de liquidez, resultando em forte aumento da taxa de juros no mercado interbancário; e a intenção de implantar várias reformas com o objetivo de reduzir a participação do Estado na economia e aumentar o papel do mercado na alocação de recursos. “Embora o governo dificilmente vá adotar medidas expansionistas como em 2009, acredito que sejam adotadas ações para atenuar a desaceleração, tal como anunciou o primeiro-ministro chinês na semana passada”, pondera.
Diante desse quadro, Lia Valls, também pesquisadora da área de Economia Aplicada do IBRE, avalia que o ritmo mais lento do crescimento da China não irá afetar fortemente o Brasil. Isso porque o principal motor da economia brasileira, segundo ela, é o mercado interno. “Em 2012, a participação das exportações totais no PIB do Brasil, foi de 10,8%, sendo a China o principal destino das exportações com sua participação no PIB brasileiro registrando 1,8%. Logo um menor crescimento da economia chinesa não pode ser considerado o fator primordial para uma possível desaceleração do PIB brasileiro”, ressalta. No entanto, a economista alerta que em um cenário no qual os pilares do crescimento doméstico do Brasil não estão em larga expansão, a desaceleração da China, aliada ao fraco desempenho de mercados como Estados Unidos, Argentina e Europa, pode, sim, contribuir para o baixo desempenho da economia nacional. “Apesar do aumento do volume de exportações brasileiras para a China em 8,5% entre o primeiro semestre de 2012 e o de 2013, as quedas em mercados importantes como Estados Unidos e União Europeia levaram a um déficit comercial de U$S 3 bilhões nesse primeiro trimestre. Nesse caso, a desaceleração da China tende a reduzir a contribuição do país para as exportações brasileiras num cenário no qual o país registra quedas em mercados importantes”, salienta.
Fonte: IBRE/FGV
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