Por mais que a equipe econômica tente enfatizar somente o lado positivo, há uma recado importante nos números das contas externas brasileiras a ser absorvido e admitido pelo governo.
O novo patamar de câmbio que começou a se estabelecer a partir de meados de maio pode, sim, ajudar a reverter a forte e rápida deterioração da balança comercial do país, a conta que registra as vendas lá fora e as compras de importados.
Mas isso demandará um tempo que pode ser crucial para a presidente Dilma Rousseff. Alguns economistas estimam o prazo em um ano, antes de o governo poder alardear o benefício que o real desvalorizado traz para as contas externas, sobretudo com aumento dos ganhos nas vendas ao exterior.
Com isso, na melhor das hipóteses, esse benefício se daria no início da campanha pela reeleição. Até lá, o que os números indicam é uma economia que aumenta a sua exposição ao mercado financeiro internacionais num período de grandes incertezas no mundo.
O dólar operava em baixa por volta das 12h desta terça-feira (23). No mercado à vista --referência no mercado financeiro--, a moeda americana caía 0,25%, a R$ 2,223. O dólar comercial --usado no comércio exterior-- também tinha queda, de 0,40%, a R$ 2,225.
VULNERABILIDADE
No primeiro semestre deste ano, o deficit das contas externas somou US$ 43,5 bilhões contra US$ 25,3 bilhões no mesmo período de 2012, puxado por uma piora de US$ 10 bilhões no saldo da balança comercial.
Isso se traduz em mais vulnerabilidade. Será o fim do mundo? "Será um período difícil", avalia Zeina Latiff, sócia da Gilbraltar Consulting.
E mais uma vez, a palavra chave será confiança nessa transição. "Se o governo estiver certo e houver interesse dos investidores nas concessões, isso trará impacto favorável no fluxo cambial", diz a economista.
Nesse caso, a melhora da entrada de dólares no país viria num cenário em que o humor dos investidores não anda muito favorável aos países emergentes, dando um certo alívio.
Até agora, a desvalorização do real não ajudou nem a frear o ímpeto consumista dos brasileiros em viagens ao exterior. Foram US$ 12,3 bilhões deixados lá fora pelos turistas do Brasil em seis meses.
Em junho, apesar do câmbio já estar no patamar de R$ 2,2, isso não arrefeceu. O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel, espera um impacto maior no segundo semestre do ano.
Os números preliminares de julho ainda não dão indicação de recuo, segundo o próprio BC.
ESTABILIDADE
Para o economista Roberto Padovani, o quadro é difícil mas não catastrófico porque o deficit nas contas externas deverá se estabilizar em torno de 3,5% do PIB (Produto Interno Bruto). Atualmente, o valor acumulado em doze meses está em 3,17% do PIB.
O fundamental, para o economista, é garantir que investidores estrangeiros venham. É isso que irá dar fôlego à economia e garantirá os investimentos necessários para aumentar competitividade, crescimento e mais exportações no futuro.
"O Brasil passa por um momento em que a confiança é fundamental e isso passa por regras econômicas claras, inflação em queda, contas externa estabilizadas."
Vale lembrar que diante da pressão para recuperar a credibilidade abalada com sucessivas manobras contábeis para garantir cumprimento da meta fiscal, ontem, o governo anunciou um corte adicional de R$ 10 bilhões no Orçamento deste ano. No entanto, o ajuste pouco ajudou, já que foi baseado em grande parte em reestimativas de gastos e não em cortes efetivos.
Fonte: Folha de S. Paulo
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