Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Dólar afunda. Fim da crise?

É possível listar várias explicações, todas ótimas, para o tombo feio sofrido ontem pelo dólar, mas elas parecem, mesmo no seu conjunto, insatisfatórias.

A moeda derreteu 1,9%, cotada a R$ 2,2240. Para se ter uma ideia, somente a queda de ontem anulou toda alta de 1,57% acumulada nos dez primeiros dias úteis de julho.

Tanto as razões fundamentalistas quanto as decorrentes do jogo de mercado ajudam a entender a baixa. Mas, por sua surpreendente magnitude, a desvalorização intrigou os operadores.

Acabaram-se os problemas brasileiros e de repente o país voltou a atrair os investidores internacionais?

Está certo que os investidores estrangeiros reduziram suas posições compradas nos pregões de derivativos cambiais da BM&F em US$ 780 milhões do dia 11 (total comprado de US$ 9,68 bilhões) para o dia 12 (US$ 8,9 bilhões).

Mesmo assim, esse ajuste seria insuficiente para amplificar a baixa, até porque a diminuição da aposta contra o real por parte dos fundos externos foi compensada pelo aumento das posições compradas dos fundos nacionais, de US$ 17,96 bilhões para US$ 18,82 bilhões em idêntico período. 

A melhor explicação para a escorregada do dólar foi encontrada por estrategistas de instituições agressivas segundo os quais, como o Banco Central está firmemente determinado a impedir que o dólar ultrapasse a barreira de R$ 2,30 e como do exterior não vem incentivos a estripulias especulativas, o mercado desistiu de peitar o BC.

Diante dessa capitulação (que pode ser, porém, apenas temporária), os exportadores que aguardavam por preços crescentemente maiores, decidiram desovar os seus contratos de câmbio. E se o BC garante que de R$ 2,30 o dólar não passa, os fundos de hedge globais especializados no ‘iene carry trade' já podem buscar a rentabilidade nominal dos juros brasileiros, a terceira maior do mundo (e os campeões mundiais, Venezuela, com taxa de 15,63%, e Argentina, com 11,38%, são monoliticamente rejeitados pelos investidores internacionais).

As justificativas fundamentalistas para a queda do dólar ante o real têm peso evidente: a China cresceu 7,5% no segundo trimestre do ano, abaixo da expansão de 7,7% registrada no primeiro, mas, dentro das previsões médias, rechaçou o temor de uma desaceleração mais acentuada.

E, sabe-se, o crescimento do PIB brasileiro como um todo acompanha, para cima ou para baixo, o deslocamento das commodities. O mercado percebe que o governo chinês, empenhado em tornar o crescimento mais organicamente saudável e, portanto, consistente no longo prazo, não está disposto, porém, a chancelar uma desaceleração muito expressiva.

A outra informação, também de natureza macroeconômica, que agiu no sentido de esfriar o ímpeto do dólar veio dos Estados Unidos.

As vendas do comércio varejista foram decepcionantes em junho. Elas evoluíram 0,4%, exatamente a metade do que previam os analistas. E, ainda por cima, a alta de maio foi revisada para baixo, de 0,6% para 0,5%. A tendência persiste de baixa no acumulado de doze meses.

Os templos do consumismo americano, as lojas de departamentos e de eletrônicos, foram os destaques negativos. Se a população não consome mesmo com as taxas de juros próximas de zero, vai demorar muito para a inflação chegar perto da meta do Federal Reserve (Fed), de 2%.

E, nos EUA, alguns economistas de renome temem as consequências econômicas negativas da inflação muito baixa mais do que as da inflação muito alta. Há um autêntico pavor de que os EUA caíam na armadilha japonesa da estagnação e da deflação. A frustração com as vendas feitas pelo varejo em junho encobriu o bom dado industrial também divulgado ontem. A sondagem de manufatura Empire States, realizada pelo Fed de Nova York, avançou de 7,84 em junho para 9,46 em julho, quando os analistas esperavam um queda para 5.

Antes da divulgação do dado de vendas varejistas, os ‘yields' dos títulos de 10 anos do Tesouro americano chegaram a subir, no mercado secundário, de 2,59% na sexta-feira para até 2,64%. Mas depois desabaram até 2,54%. Daniel Tarullo, diretor do Fed com voto no Fomc, ajudou a serenar os ânimos.

Em discurso, frisou que a política monetária americana persistirá acomodatícia mesmo depois de ter sido iniciado o programa de redução das facilitações quantitativas. O Fed não terá pressa em subir o juro mesmo quando for alcançada a meta de desemprego de 6,5% (hoje está em 7,6%).

Não parece de fato um cenário que indique a possibilidade de o Fed iniciar já em sua reunião de setembro o fatídico cronograma de diminuição das compras mensais de títulos, como ainda preveem algumas instituições. Os mais recentes alertas do Fed parecem jogar para 2014 o momento mais adequado para a redução da oferta de liquidez extra. Há, portanto, bastante tempo para os hedge funds ganharem os juros brasileiros, não só os terceiros maiores do mundo mas, melhor ainda, em ascensão.

A operação utilizada é o ‘iene carry trade', que consiste em tomada de empréstimos em moeda japonesa e aplicação em reais atrelados à Selic. Para que o negócio dê a rentabilidade esperada será preciso que a moeda brasileira pare de se desvalorizar. O ideal é que se valorize para que, à Selic, se agregue a apreciação cambial.

Tais operações são fechadas no mercado de balcão internacional mas tem uma das pontas atada aos pregões de câmbio da BM&F. E, como são em grandes volumes, acabam contaminando as cotações à vista.

Os juros futuros longos acompanharam a melhora da cena externa e o afundamento do dólar. O contrato para janeiro de 2015 recuou a 9,48%, de 9,62% na sexta-feira. A taxa para janeiro de 2017 cedeu de 10,83% para 10,60%.

O contrato mais curto, para a virada do ano, retrocedeu pouco, de 8,80% para 8,78%, engessado pela expectativa de divulgação, na quinta-feira, da ata do Copom realizado na semana passada.

Fonte: Brasil Econômico

Nenhum comentário:

Postar um comentário