Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Eike Batista: da ascensão à queda

A renúncia de Eike Batista da presidência e do conselho de administração da MPX, empresa de energia do conglomerado criado pelo empresário, é mais um capítulo da crise que assola o outrora homem mais rico do Brasil, à luz de perspectivas menos otimistas para o futuro da economia do país.
Em fato relevante divulgado na quinta-feira, a MPX informou ao mercado que uma assembleia geral será convocada em breve para deliberar sobre a saída de Batista e a alteração da denominação social da companhia. Uma oferta de ações inicialmente prevista também foi cancelada e substituída por um aumento de capital privado.
Por trás da decisão, há uma tentativa de acalmar o mercado e interromper a sangria que já lhe custou grande parte de sua fortuna.
Segundo a agência financeira Bloomberg, Batista era, em março de 2012, o oitavo homem mais rico do mundo, com um patrimônio estimado em US$ 34,5 bilhões (R$ 78 bilhões em valores atuais). Agora, tem "apenas" US$ 2,9 bilhões (R$ 6,5 bilhões).
Por ser um de seus ativos mais valiosos, a MPX tem importância vital no plano de reestruturação do conglomerado EBX, que reúne quase duas dezenas de empresas criadas pelo empresário.
A intenção inicial seria vender a MPX e a MMX (mineração) para amortizar parte das dívidas de outras companhias do grupo.
Mas segundo o jornal Valor Econômico, estaria em curso um plano maior, de desmembramento do conglomerado, que incluiria a venda de empresas inteiras, diluições de participações e renegociações de dívidas.
A Batista caberia "uma participação minoritária nos maiores empreendimentos ou uma ou outra empresa de menor expressão do grupo", informa o diário em uma reportagem publicada na quinta-feira.

Decepção
No início da semana, a forte queda das ações da OGX (petróleo) puxou para baixo o desempenho da Bovespa, a bolsa brasileira, que se descolou dos mercados internacionais.
Os investidores reagiram mal ao anúncio de que a empresa interromperia a produção nos campos de Tubarão Azul, na Bacia de Campos (Rio de Janeiro), no ano que vem por inviabilidade econômica.
A declaração contribuiu para aumentar ainda mais a crise de confiança que vinha pairando sobre as empresas de Batista, na esteira da deterioração do cenário macroeconômico brasileiro.
Segundo a consultoria Economática, apenas no primeiro trimestre de 2013, as seis companhias de capital aberto (ou seja, negociadas na bolsa) do empresário (OGX, MMX, MPX, OSX, LLX e CCX) registraram um prejuízo total de R$ 1,154 bilhão, alta de 539% em relação ao mesmo período do ano passado.
Essas mesmas empresas tinham até o fim do ano passado uma dívida líquida de cerca de R$ 15 bilhões, de acordo com dados da Thomson Reuters.
Um levantamento do Valor Econômico mostrou que, juntas, as seis companhias perderam R$ 110 bilhões em valor de mercado desde seu melhor momento na bolsa até a cotação encerrada no final de junho.
As empresas têm hoje um valor de mercado aproximado de R$ 9 bilhões.
Já um cálculo feito pelo jornal O Estado de São Paulo mostra que quem investiu R$ 5 mil na OGX em 2008, quando a empresa abriu seu capital, teria hoje somente pouco mais de R$ 200.

Ascensão
Mineiro de Governador Valadares, Eike Fuhrken Batista ganhou projeção nacional como o empresário que melhor encarnou a euforia internacional com a economia brasileira, uma das menos atingidas pela crise financeira de 2008.
Com um estilo arrojado de fazer negócios e considerado visionário por seus pares, ele aproveitou-se do apetite chinês por commodities e da abundância de matérias-primas no Brasil para vender o otimismo com que investidores de todo o mundo viam o país.
O pano de fundo era positivo. O pré-sal havia sido descoberto e milhares de brasileiros ascenderam à classe média.
Ambicioso, Batista apostou alto. Fluente em cinco línguas, o filho de um ex-ministro de Minas e Energia e ex-presidente da Vale durante o governo militar montou um império de empresas em diversos setores, do petróleo ao entretenimento.
Para concretizar sua ideia, no entanto, o empresário precisava de capital novo. O caminho encontrado foi a abertura de suas empresas na bolsa de valores, por meio de IPO’s (Oferta inicial de ações, na sigla em inglês), realizados entre 2006 e 2010.
O ponto alto veio com o início da negociação dos papéis da OGX. Foi o maior IPO da história da Bovespa. Até pouco tempo, a OGX era considerada a principal empresa do conglomerado.
O discurso de Batista também ganhou acolhida entre os bancos, que lhe emprestaram dinheiro. Segundo um relatório divulgado recentemente pelo banco de investimentos americano Merrill Lynch, somente bancos públicos, como o BNDES e a Caixa Econômica Federal, estão expostos em cerca de R$ 4,9 bilhões e R$ 1,4 bilhão, respectivamente, ao conglomerado EBX.
Em junho de 2011, ele deu uma entrevista à BBC inglesa em que previa "20 anos de crescimento contínuo para o Brasil".

Vida pessoal
Estrategicamente ou não, a vida pessoal do empresário também colaborou para construir o mito em torno de sua personalidade, o de um empreendedor nato, inspiração para milhões de brasileiros.
Por muito tempo casado com a ex-modelo Luma de Oliveira, musa do Carnaval carioca, com quem teve dois filhos, Thor e Olin, o empresário aparecia com frequência no noticiário brasileiro e internacional.
Além do dia a dia da administração de seu império, também encontrava tempo para divulgar ações principalmente em prol da cidade que o acolheu, o Rio de Janeiro, como a despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas, a reforma do tradicional Hotel Glória, e a construção de Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) em comunidades carentes.
Também mantinha estreito contato com políticos. Em setembro de 2012, o empresário emprestou um jato ao governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, para uma festa no Sul da Bahia, promovida pelo dono da construtora Delta, Fernando Cavendish, condenado meses depois por desvio de verba federal.
Recentemente, uma das empresas do grupo, a IMX, de entretenimento, venceu a licitação para administrar o Maracanã pelos próximos 35 anos. O leilão foi cercado de polêmicas, uma vez que a própria companhia havia sido responsável pelo estudo de viabilidade econômica do estádio.

Queda
Para economistas, a crise atravessada pelo império de Batista ganhou força a partir do momento em que investidores perceberam que os resultados de suas empresas não corresponderiam às suas promessas.
Nesse contexto, o anúncio feito recentemente pela OGX foi um duro golpe na saúde financeira do grupo. O campo de Tubarão Azul, que deverá interromper suas operações no ano que vem, era até então o único produtor de petróleo da empresa. Inicialmente, a companhia previa reservas de até 110 milhões de barris no local.
"Havia uma confiança do mercado na capacidade empreendedora (de Eike). Tudo isso acabou quando empresas como a OGX acabaram não entregando os resultados", afirmou à BBC Brasil Sérgio Lazzarini, professor do Insper.
Os economistas ouvidos pela reportagem da BBC Brasil descartaram, por ora, um efeito direto sobre o PIB por causa do revés de Batista, mas lembraram que a crise da EBX pode contribuir para piorar um cenário de instabilidade macroeconômica.
"Não acredito que os negócios (do grupo X) afetem diretamente o PIB brasileiro, mas são mais uma marca negra dentro de um contexto econômico ruim. Dependendo do cenário, podem estimular a fuga de capitais não no longo prazo, mas sim no curto”, disse Samuel Aguirre, da consultoria FTI em São Paulo.

Fonte: BBC Brasil

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