Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Ação do BC mostra uma China vacilante

Os líderes da China estão tendo dificuldade não só para acalmar os mercados e redirecionar a economia do país, mas para lidar com rumores que surgiram devido à ausência de uma comunicação clara, mostram entrevistas e documentos internos aos quais o The Wall Street Journal teve acesso.

O Banco Popular da China — ou PBOC, na sigla em inglês — instigou a falta de liquidez que fez dispararem as taxas de juros chinesas nas últimas semanas porque concluiu que não tinha outra alternativa diante do que considerava um crescimento descontrolado do crédito, mostram documentos internos.
Mas a falha em deixar isso claro contribuiu para um surto de ansiedade no mercado — num momento em que preocupações com a desaceleração da economia já havia afugentado parte do capital estrangeiro e sinais vindos do banco central americano também estavam redirecionando os fluxos globais.

Críticos dizem que manobras obscuras do BC chinês expuseram a inexperiência das autoridades para prever como os mercados — domésticos e estrangeiros — interpretariam suas ações.

"Até as políticas mais bem intencionadas podem tumultuar os mercados se falta transparência às comunicações do banco central", diz Eswar Prasad, especialista em China da Universidade Cornell.

Tais inquietações são um terreno novo para um governo e um partido mergulhado em segredos. Uma análise dos bastidores dos eventos caóticos das últimas duas semanas, incluindo informações que não tinham sido antes divulgadas, revela um governo procurando uma maneira de conter a disparada no crédito, mas também inseguro sobre como fazê-lo e que, no final, culpou rumores do mercado por parte do problema que ajudou a criar.
[image]
Desde o começo de junho, o PBOC procurou forçar os bancos chineses a parar de emprestar para os chamados "shadow banks" (ou bancos-sombra) — um conjunto de firmas fiduciárias, casas de penhora, empresas de leasing e outras instituições que formam o sistema de crédito paralelo da China e que financiaram pesadamente projetos imobiliários e de infraestrutura que podem nunca dar retorno, dizem economistas dentro e fora da China.

Para conseguir isso, o BC reteve fundos do mercado interbancário, onde os bancos emprestam uns aos outros e a algumas instituições alternativas, criando um aperto de crédito que empurrou as taxas de juros para cima.

Em 20 de junho, os líderes chineses receavam que o aperto do crédito estava fugindo ao controle. As taxas de juros do overnight bateram em 30% ao ano naquele dia. Um boato que circulava em Xangai de que o Bank of China Ltd. 601988.SH -1.48% não havia honrado um pagamento no mercado interbancário foi reforçado por uma notícia no site de um jornal. Cerca de 8 da noite daquele dia, o Banco da China fez um comunicado negando o boato.

Para os líderes do governo, aquilo não foi suficiente. O vice-premiê Ma Kai, que supervisiona o BC, ordenou que a agência de segurança da China começasse uma investigação, disseram pessoas a par da decisão. "O foco [da investigação] era a origem do boato", disse uma das pessoas. Não está claro qual ação, se alguma, vai resultar disso.

Porta-vozes do Ministério da Segurança Pública, do Conselho do Estado e do Banco da China não responderam a repetidas solicitações de comentários.

Desde 2009, o endividamento doméstico na China vem crescendo tão rápido que se aproximou das bolhas de crédito que já geraram recessões nos Estados Unidos, Europa, Japão e Coreia. Neste ano, o BC e os reguladores bancários restringiram sem sucesso as regras de crédito. Nos primeiros cinco meses de 2013, o crédito doméstico, chamado na China de financiamento social total, subiu 52% em relação a 2012.

Segundo minutas de uma reunião do PBOC em 19 de junho, examinadas pelo WSJ, o BC estava especialmente preocupado com o fato de, nos primeiro dez dias de junho, os bancos chineses terem elevado os empréstimos em 1 trilhão de yuans (US$ 163 bilhões) — um volume que o BC afirmou "nunca ter visto na história".

Na reunião, o PBOC indicou que o BC precisava enviar um claro alerta aos bancos de que não poderiam contar com o PBOC se tivessem problemas de caixa e que o BC não afrouxaria suas políticas monetárias apesar do crescimento lento da economia, segundo as minutas.

Mais tarde naquele dia, o Conselho de Estado, o órgão máximo do governo afirmou num comunicado que manteria o suprimento de dinheiro a um nível "razoável", mas que queria que os bancos emprestassem mais para "setores emergentes estratégicos".

A mensagem do Conselho de Estado foi significativa, em parte, porque não disse que o objetivo do governo era acalmar os mercados. "Isso foi um sinal de que o governo vai continuar os ajustes que está fazendo" e não vai ceder às expectativas de estímulo, disse Lu Feng, vice-diretor da Escola Nacional de Desenvolvimento da Universidade de Pequim, um importante centro de estudos.

Receoso de que os bancos não receberiam a mensagem, o PBOC ligou para alguns deles enquanto decidia dar a eles mais fundos. A mensagem do BC era: "Aqui estão mais fundos, mas usem com inteligência", segundo um executivo do banco a par das conversas.

Mesmo assim, em 24 de junho, a bolsa chinesa registrou sua maior queda diária em quase quatro anos, contribuindo para um declínio geral nas bolsas e commodities do mundo.

Na reunião seguinte do Conselho de Estado, em 26 de junho, os líderes do país tentaram acalmar os mercados de novo, dizendo que tinham que "estabilizar" as expectativas dos mercados. As ações do BC e do Conselho de Estado ajudaram a baixar os custos de captação no interbancário chinês, com a taxa de recompra de sete dias indo de 11,62% ao ano em 20 de junho a 5,43%. Mas ela ainda está longe da faixa normal de 3% a 4%. Mas analistas esperam que ela continue alta como um alerta para os bancos reformarem suas práticas de empréstimos.

Fonte: The Wall Street Journal

Nenhum comentário:

Postar um comentário