Setor privado vê cenário de incertezas e faz poucos avanços em produtividade no país
Gargalos em infraestrutura, insegurança sobre o fornecimento de energia elétrica, atrasos nos investimentos públicos e escassez de mão de obra especializada compõem um cenário de incertezas que vem inibindo os investimentos privados.
E, sem aumento da capacidade produtiva e ganhos de produtividade, a expansão registrada pela economia brasileira em anos recentes (7,53% em 2010, 6,10% em 2009 e 5,17% em 2008), baseada no consumo, deixou como rastro a pressão inflacionária persistente.
"O empresário investe se tiver expectativas positivas, como, por exemplo, de que o consumo crescerá", lembra o economista Otto Nogami, consultor de economia da Associação Brasileira de Importadores de Máquinas e Equipamentos Industriais (Abimei).
"Contudo, a ênfase do governo em incentivar o consumo levou ao endividamento da população, o que dá indicações de que as compras não podem se manter como dínamo da economia."
Além do mais, as empresas enfrentam insegurança em relação à capacidade de escoar a produção, pois o país apoia a logística em rodovias, e boa parte da rede está em má condição, lembra a economista Julia Ximenes, consultora da Federação do Comércio de São Paulo (Fecormercio-SP).
O mesmo vale para os portos e outras estruturas de transporte e logística.
As incertezas também se referem às condições para produzir. O fornecimento de energia elétrica não se consolida.
E o país ainda ressente a baixa capacitação dos profissionais. "De que adianta investir, agregando tecnologia no processo, se não há mão de obra capacitada para manipular as técnicas incorporadas ao processo de produção?", questiona Nogami.
A carência de pessoal - e a consequente necessidade de trazer profissionais estrangeiros para o país - pode ser verificada em níveis de altíssima especialização - engenharia e informática, por exemplo - e também em níveis técnicos, como é o caso de soldadores, que os estaleiros têm buscado no exterior.
"As indústrias química e naval estão trazendo gente da Coreia ", diz Nogami.
Enfrentamento
As barreiras ao investimento privado exigem solução de médio e longo prazo, destacam os economistas, mas o governo vem se ocupando mais de iniciativas com efeitos pontuais, como os benefícios fiscais focados em alguns setores.
O atraso nas obras públicas, como por exemplo aquelas que estão no bojo do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) também dão um aceno negativo para o empresariado, que não percebe o compromisso com avanços nos problemas estruturais do país.
"O governo tem problemas fiscais e um compromisso de manter o superávit primário (economia para pagamento de juros da dívida), o que amarra as possibilidade de gastos", lembra Nogami. Além disso, o Estado tem pouca eficiência na aplicação de recursos.
Assim, forma-se uma espiral perniciosa: sem contar com avanços estruturais, o setor privado se mantém inibido em relação a investimentos e deixa de ganhar produtividade, o que impede uma resposta eficiente à demanda, único fator que vem garantindo alguma expansão da economia brasileira.
A tese encontra eco na maioria dos especialistas, mas não é consenso. A falta de investimento não necessariamente implica inflação futura, pois a demanda também é atendida por importações, defende Mauro Rochlin, professor do Ibmec.
Além do mais, aponta, a indústria ainda tem capacidade ociosa. "A utilização não chegou ao teto. A capacidade, hoje, está em nível parecido com o 2009. O país tem espaço para crescer 4% sem pressionar os preços industriais", conclui.
Fonte: Brasil Econômico
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