SÃO PAULO, 24 Jan (Reuters) - Animados com sinais recentes de queda da inadimplência e com maior demanda de recursos para projetos de infraestrutura, os bancos privados iniciaram 2013 mais dispostos a emprestar, movimentação que aponta para uma expansão menos assimétrica do crédito, embora a liderança deva seguir com os estatais.
Abertamente ou de forma reservada, Bradesco, Itaú Unibanco e Santander Brasil, cujas carteiras de financiamento cresceram numa velocidade anual ao redor de 10 por cento até setembro, mostram apetite para mais neste ano.
"Não vamos voltar ao patamar de 25 a 30 por cento de crescimento anual, porque o crédito já atingiu uma maturidade em relação ao PIB, mas é razoável supor um crescimento da ordem de 15 por cento este ano", disse o executivo de um grande banco comercial nesta semana.
Em encontros com investidores, executivos desses bancos têm revelado esperar que suas carteiras evoluam cerca de 15 por cento neste ano, em linha com o ritmo dos bancos públicos. Os motivos são a expectativa de maior crescimento da economia e a avaliação de que o pico dos calotes ficou para trás.
"O cenário de inadimplência está melhorando", disse à Reuters recentemente o diretor-executivo do Bradesco Octávio de Lazari Júnior, responsável pela área de empréstimos e financiamentos, no dia em que o banco anunciou um aumento de quase 20 por cento no crédito disponível para clientes.
No Itaú, o movimento vem após o banco ter passado por um freio de arrumação em 2012 na carteira de automóveis.
O presidente mundial do Santander, Emilio Botín, tornou nesta semana pública a expectativa para o banco no Brasil --de alta de cerca de 15 por cento no crédito--, após encontro com a presidente Dilma Rousseff. O banco também promete até 5 bilhões de reais para projetos de infraestrutura.
O movimento pode atenuar a pressão do governo, que há quase um ano vem apertando os bancos a ampliar a oferta de crédito para acelerar a economia, mas a cobrança só foi respondida pelos próprios bancos estatais.
Na opinião de alguns analistas, o Bradesco já vai mostrar essa aceleração nos resultados do quarto trimestre, que será divulgado na segunda-feira, abrindo a temporada de balanços. Essa liderança tem a ver com o fato de o banco da Cidade de Deus ter começado já entre julho e setembro passado a reduzir levemente o índice de inadimplência.
Como conjunto, no entanto, a aceleração dos bancos privados deve aparecer com menos força, pois os demais devem ter acelerado apenas em meados de dezembro, também por terem percebido mais tarde a queda dos calotes.
Relatório do Banco Central referente a novembro mostrou que a participação dos bancos privados nacionais e dos estrangeiros ainda caiu no crédito livre.
Os estatais Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, que vinham num ritmo de expansão anual ao redor de 25 e 40 por cento até setembro, respectivamente, movimento puxado por incentivo ao consumo, devem desacelerar este ano, em parte refletindo a base de comparação mais forte.
Ambos estimam ter alcançado participações de mercado semelhantes às do fim de 2009, no auge da campanha anticíclica do governo para tentar incentivar o consumo e amortecer os efeitos da crise financeira após a quebra do Lehman Brothers.
A ofensiva mais recente em linhas de maior risco deve ter feito os estatais terem chegado ao pico dos calotes por volta de novembro, segundo o executivo do setor. O índice de inadimplência, medido pelo saldo de operações vencidas com mais de 90 dias, caiu levemente em novembro, após quatro meses no recorde de 5,9 por cento, segundo o BC.
INFRAESTRUTURA
Com maior competição das instituições financeiras privadas no crédito ao consumo, BB e Caixa estão voltando seus canhões para projetos de infraestrutura. Em reuniões com banqueiros neste começo de ano, Dilma tem pedido mais ação no financiamento de longo prazo e, caso isso não aconteça logo, o governo colocará BB e Caixa nesse mercado, disse uma fonte à Reuters.
Analistas estão vendo essa movimentação de bastidores com cuidado. Em relatórios, analistas de UBS e HSBC alertaram que o recrudescimento da concorrência, temperada por possíveis novos cortes de juros, pode provocar quedas nas margens dos bancos e, consequentemente, nas ações.
Fonte: Reuters Brasil
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