Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Correntistas aumentam dor de cabeça dos bancos espanhóis


Numa manhã de agosto, Eugenio Nuñes Cobás irrompeu numa agência bancária desta cidade costeira com quase quarenta outros clientes. Eles gritavam: "Ladrões! Ladrões! Ladrões!". Eles então voltaram para a rua e atiraram ovos na fachada, forçando a agência a fechar naquele dia.

Nuñes tinha vindo à agência do Novagalicia Banco SA durante oito meses com um cartaz dizendo: "Todas as minhas economias estão presas no Novagalicia até 2999". O aposentado de 70 anos disse: "Eu deveria é estar em casa brincando com meus netos. Mas estou aqui toda semana, lutando pelas minhas economias".

Nuñez foi um dos mais de 700.000 correntistas espanhóis que colocaram dinheiro — em alguns casos tudo que economizaram a vida inteira — em ações preferenciais de alto retorno e títulos de dívida subordinados emitidos por seus bancos. Quando a crise econômica eclodiu na Espanha, o valor desses ativos despencou, tornando praticamente impossível revendê-los.


Muitos clientes agora dizem que foram enganados, que os funcionários da agência garantiram a eles que os complexos instrumentos financeiros eram tão seguros quanto depósitos. Alguns bancos ofereceram aos clientes a opção de trocar as ações preferenciais por depósitos ou ações comuns, mas a União Europeia, que está emprestando dinheiro para a Espanha revitalizar seus bancos, proibiu esses negócios para bancos resgatados pelo governo, inclusive o Novagalicia. O banco divulgou um pedido de desculpas público e concordou em arbitrar milhares de queixas dos clientes.

O Ministro da Fazenda, Luis de Guindos, descreveu os papéis no parlamento como "instrumentos complexos para investidores institucionais. O problema não é o instrumento em si. [...] O problema é que eles foram dados a pessoas que não entendem esses produtos".

Esse impasse constrangedor entre bancos e clientes está minando mais ainda a confiança num sistema financeiro que ainda está se recuperando da fuga de capital e das perdas resultantes do estouro da bolha imobiliária. O setor bancário está ficando cada vez mais dependente dos empréstimos de emergência do Banco Central Europeu. Até o fim de agosto, os bancos espanhóis tomaram emprestado 412,6 bilhões de euros (US$ 538 bilhões) do BCE, cerca de um terço de todo o dinheiro concedido pelo BCE a bancos europeus.

O fiasco das ações preferenciais remonta aos primeiros dias da crise financeira. Os bancos da Espanha precisavam de capital depois que a bolha imobiliária estourou e inúmeros empréstimos ficaram inadimplentes. Investidores internacionais, preocupados com as perdas nos créditos imobiliários, relutavam em comprar ações de bancos espanhóis. Assim, os maiores bancos do país usaram sua ampla rede de agências para vender novas ações preferenciais para os clientes.

O produto parecia atraente. As ações preferenciais sempre geraram juros maiores que os depósitos regulares. Por exemplo, em meados de 2009, o Caixa Galicia — que depois se fundiu com o Novagalicia Banco — estava oferecendo ações preferenciais a juros de 7,5%, mais do que os 4,05% que pagava a quem punha sua poupança em depósitos de 18 meses.

Alguns clientes e gerentes de agência dizem que clientes foram informados que poderiam vender suas ações quando quisessem, sem serem penalizados por sacar alguns tipos de depósitos. Os bancos pretendiam encontrar compradores que pagassem todo o valor de face.
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Os bancos logo levantaram seus níveis de capitalização ao vender 11,4 bilhões de euros em ações preferenciais em 2009. No total, foram vendidos 22 bilhões de euros em ações.

"Se um cliente queria vender, apareciam outros cinco querendo comprar", diz Pedro Alberto San Millán, gerente do Novagalicia no município de Cangas.

Mas, em 2010, quando os empréstimos podres dispararam na Espanha, o número de pessoas dispostas a comprar ações preferenciais encolheu. Alguns bancos, inclusive o Novagalicia, venderam ações a clientes antigos.

"Os reguladores fizeram vista grossa, e os bancos se aproveitaram", diz Franciso López Lubián, professor de finanças da faculdade de administração Instituto de Empresa. "O cidadão comum que entregou suas economias ao seu banco foi enganado."

As autoridades espanholas do mercado financeiro disseram este ano que estão investigando potenciais irregularidades em 11 dos 19 bancos que venderam ações preferenciais.

A Associação dos Bancos Espanhóis, que representa os bancos comerciais com ações em bolsa, diz acreditar que os bancos venderam instrumentos financeiros "corretamente", mas, se forem identificadas irregularidades, espera que os reguladores penalizem os bancos envolvidos. A Confederação dos Bancos de Poupança, que representa bancos de poupança como o Novagalicia, não quis comentar.

Os reguladores proibiram as vendas no fim de 2010, forçando os bancos a criar um mercado secundário transparente para as ações. Mas, com os distúrbios no setor bancário da Espanha, poucos investidores se dispuseram a comprar ações dos clientes que queriam vender. No mercado secundário, algumas ações preferenciais foram negociadas com descontos de até 70%.

No ano passado, vários bancos, entre eles o Novagalicia, foram resgatados pelos contribuintes espanhóis. As ações preferenciais emitidas por esses bancos pararam de pagar juros e tornou-se impossível vendê-las. Um porta-voz do Novagalicia disse que o banco se comprometeu a nunca mais vender produtos complexos para depositantes. O Novagalicia contratou um auditor para examinar casos individuais e, quando os problemas são identificados, o banco concordou em arbitrar prontamente esses casos e a reembolsar clientes em 48 horas.

Um porta-voz do banco disse que, até 4 de outubro, mais de 3.500 das 29.000 solicitações de arbitragem recebidas até agora haviam sido resolvidas, todas em favor dos clientes.

Em Moaña, o aposentado manifestante Nuñes ganhou em 21 de setembro sua arbitragem contra o Novagalicia. Sua conta de poupança recebeu de volta os 60.000 euros que ele havia colocado em títulos subordinados.

O dinheiro não vai ficar lá muito tempo, insiste Nuñes. "Eu vou sacar", diz ele. "Eles me disseram que eles haviam mudado, mas, depois disso, não posso mais confiar neles."

Fonte: The Wall Street Journal


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