Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Europa que poupa foge da Europa que deve


Risto Murto, diretor de investimentos do fundo de pensões Varma Pension Mutual Insurance Co., está satisfeito ao ver que o Banco Central Europeu agora diz estar pronto para lutar contra a crise do euro comprando dívida do governo de países em dificuldades como a Espanha.

Mas não está satisfeito a ponto de fazer o mesmo. E isso significa que os líderes europeus podem ter mais dificuldades pela frente.


O Varma é o maior investidor da Finlândia. O fundo administra 34 bilhões de euros (US$ 43,9 bilhões) e é responsável pelas poupanças para a aposentadoria de cerca de 870.000 finlandeses. Durante vários anos após a criação do euro em 1999, os investidores do norte da Europa, como o Varma, espalharam seus ativos por todo o continente, ajudando a criar estabilidade econômica no sul, uma região mais pobre.

No entanto, preocupados com o alto endividamento da Grécia, os executivos do fundo venderam seus títulos de dívida do governo grego em 2008 e 2009, antes do estouro da crise da união monetária. No ano seguinte, eles adotaram uma nova política.

Nós "comunicamos ao conselho que vamos parar de investir em qualquer país problemático", diz Murto. Nada de Grécia, nem Portugal, Irlanda, Itália ou Espanha. Em meados de 2010 o conselho definiu uma nova diretriz para investimentos em títulos soberanos: só nos poucos países com grau de investimento AAA — principalmente Alemanha, Holanda e Finlândia.

De acordo com alguns indicadores, as coisas vêm melhorando para a combalida zona do euro. A nova estratégia do BCE, sob o comando do seu pragmático presidente Mario Draghi, vem ganhando aplausos gerais. Sua intenção de comprar dívida acalmou os mercados e emissões recentes da Espanha e da Itália tiveram boa aceitação.

Há evidências de que alguns investidores estrangeiros estão voltando aos poucos.

Mas a medida definitiva do sucesso do BCE virá a longo prazo: Será que o banco consegue convencer os investidores estrangeiros que dirigem as grandes reservas de dinheiro da zona do euro, como, por exemplo, seguradoras e fundos de pensão, a voltarem a se interessar seriamente pela Espanha e a Itália? Esses dois países precisam de muito dinheiro: este ano os dois deverão emitir, em conjunto, cerca de 300 bilhões de euros em dívida soberana.

A principal preocupação desses investidores é com a probabilidade de reaver seu dinheiro, e eles continuam muito cautelosos.

"Não estamos considerando ativamente voltar para esse mercado", diz Murto.

Durante a maior parte da existência da moeda comum, os países do norte da Europa geraram poupança: eles produzem mais do que consomem. Os do sul criaram déficits. O sistema financeiro integrado do euro emprestou as poupanças do norte para os necessitados do sul.

Isso agora cessou, e basta olhar para a Finlândia para perceber como é difícil recomeçar. Com 5,4 milhões de habitantes, a Finlândia é um país pequeno. Seus fundos de pensão não poderiam, sozinhos, salvar a Espanha, com seus 46 milhões de pessoas, mesmo que quisessem. Mas suas finanças sólidas e vastas poupanças, dado o tamanho do país, fazem dela um termômetro das atitudes do norte da Europa.

A Alemanha, a Holanda e a Finlândia são o núcleo do núcleo. Juntamente com o minúsculo Luxemburgo, são os únicos países da zona do euro considerados AAA por todas as grandes firmas de classificação de crédito.

Embora o tamanho da Alemanha faça com que sua voz seja mais ouvida nos debates sobre a política da zona do euro, os finlandeses podem ser mais alemães do que os próprios alemães. Eles também têm uma economia baseada nas exportações. Eles se irritam com gastos excessivos do sul da Europa. Os finlandeses são tão apegados ao rigor fiscal que o déficit orçamentário do seu governo nunca excedeu, na era do euro, o limite estabelecido para o bloco, de 3% do PIB. A Alemanha ultrapassou esse limite na maioria dos anos. A dívida do governo finlandês é de apenas 50% do PIB; a da Alemanha é de mais de 80%.

Até a economia relativamente saudável da Finlândia sofreu na crise. Ela teve uma ligeira contração no segundo trimestre, aumentando a tensão sobre o custo dos resgates de outros países.

Os finlandeses são poupadores. Helsinque é uma capital próspera, mas discreta. Seus severos edifícios de pedra têm adornos modestos. O metrô é rápido, porém mais antigo do que, digamos, o reluzente metrô de Atenas. O moderno sistema finlandês de poupança previdenciária começou no início dos anos 60 como um esforço conjunto entre o governo, os sindicatos e os empregadores para guardar dinheiro para as aposentadorias.

Hoje, o governo define os benefícios e determina os níveis de contribuição, que agora chegam, em média, a cerca de 23% dos salários. O dinheiro fica fora das mãos do governo, o que é raro. O empregador pode optar por administrá-lo por conta própria, mas muitos o entregam a gestores profissionais de pensões, como a Varma ou a Ilmarinen.

O sistema finlandês garante aos aposentados um pagamento fixo de aposentadoria. Esse tipo de sistema está no cerne da Estado de bem-estar social europeu.

"A diferença é que temos mutio dinheiro", diz Reijo Vanne, diretor de análise econômica da Aliança Finlandesa de Pensões, um grupo setorial.

Os ativos de previdência da Finlândia totalizam cerca de 150 bilhões de euros, ou 75% do PIB, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, sediada em Paris. Os holandeses, os maiores poupadores, têm ativos de pensão de quase 140% do PIB. Nenhum outro país da zona do euro chega perto.

O sistema finlandês de pensões "é um ponto forte na sociedade", diz o economista Murto, cuja tese de doutorado trata da crise bancária da Finlândia do início dos anos 1990. "Nós podemos fazer um acordo confiável ao longo de gerações."

A Finlândia entrou na União Europeia em 1995 e foi um dos países fundadores do euro, em 1999. Nos primeiros dias da moeda comum, parecia não ter importância onde o dinheiro era investido. "Era um portfólio realmente muito diversificado, e o mercado interno não era a Finlândia, mas sim toda a zona do euro", diz Murto.

Hoje é de grande importância saber onde investir. Quem emprestar ao governo alemão por 10 anos receberá juros de pouco mais de 1,6% ao ano. Emprestando à Espanha, o retorno é de cerca de 5,5%. Isso significa que um título do governo espanhol é um investimento fantástico, se a Espanha sobreviver à crise; ou então um péssimo investimento se os títulos, como aconteceu com os papéis gregos, acabarem inadimplentes.

Avaliar qual é a melhor opção envolve suposições sobre o humor do eleitorado alemão e dezenas de outras questões muito distantes da costumeira análise dos dados financeiros feita pelos investidores. "Há tantos riscos políticos", lamenta Murto.

"Se não for necessário", pergunta ele, "será que alguém deve correr esse risco?"

Fonte: The Wall Street Journal

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