Uma re união de autoridades financeiras aprofundou, em vez de diminuir, os conflitos entre algumas das maiores economias, levantando novas dúvidas sobre a capacidade dos reguladores de dar grandes passos para acelerar a recuperação global.
As autoridades europeias iniciam esta semana uma cúpula importante após intensas discussões em Tóquio sobre os danos da austeridade. Uma disputa territorial entre a China e Japão, a segunda e a terceira maiores economias do mundo, foi levada à conferência sem nenhum sinal de resolução, gerando um novo risco para o crescimento mundial. Muitas das autoridades do universo financeiro se concentraram em acusar os EUA, a maior economia do mundo, de colocar uma nova nuvem sobre os mercados mundiais por não pôr em ordem sua bagunça orçamentária.
Durante a crise financeira de 2008, as reuniões do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial foram usadas para angariar apoio para ações coletivas, incluindo estímulos coordenados e resgates de bancos. Na última reunião anual, que terminou ontem, os reguladores passaram a bola para futuras reuniões, apesar de um alerta do FMI de que o mundo está perigosamente se aproximando de uma recessão.
"As reações tardias à crise, especialmente na zona do euro, levaram ao acúmulo de problemas intratáveis", disse Guido Mantega a outros ministros da Fazenda reunidos no sábado. "Neste estágio, não há — se é que houve em algum momento — soluções fáceis."
Os formuladores de políticas enfrentam uma série de escolhas difíceis nas próximas semanas:
Os chefes de Estado europeus, que se reúnem quinta e sexta-feira em Bruxelas, precisam decidir como resgatar, mais uma vez, a economia profundamente abalada da Grécia antes que o país fique sem dinheiro no próximo mês, correndo o risco de ser expelido da zona do euro. O ministro da Fazenda da Suécia surpreendeu ao sugerir em Tóquio que essa poderia ser a melhor solução. Os líderes também pressionarão a Espanha para que aceite um pacote de resgate antes que os investidores partam para o ataque e criem uma nova rodada de instabilidade do mercado depois de semanas de relativa calma.
A China precisa encontrar formas de conter um declínio no crescimento econômico, apesar da dificuldade de se chegar a um consenso político durante a mudança de liderança, que acontece uma vez a cada década e começará em novembro. Pequim vai mostrar na quinta-feira o grau de seriedade da desaceleração econômica ao divulgar os números mais recentes do PIB.
Os EUA têm menos de três meses para resolver um impasse no corte do déficit orçamentário antes que altas de impostos e cortes de gastos automáticos entrem em vigor e empurrem a economia de volta à recessão. O Japão tem um prazo ainda menor: o país precisa superar a paralisia política para resolver uma batalha sobre o teto da dívida até o fim de novembro, um problema que começa a abalar os mercados aqui.
Muitas autoridades reunidas em Tóquio admitiram que uma nova onda de pavor nos mercados financeiros pode ser necessária para forçar mais ação em áreas como a zona euro.
"Os mercados estão fazendo seu trabalho", disse o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard. "Eles assustam os políticos [e os levam] a fazer a coisa certa [...] Estou relativamente otimista de que vamos chegar lá. Se vai ser suave ou não, teremos que ver".
Quando a crise financeira eclodiu em 2008, a cartilha global para os formuladores de políticas econômicas era mais clara: resgatar os sistemas financeiros, afrouxar a política monetária e lançar programas governamentais de estímulo. Hoje, suas opções são muito mais limitadas, já que precisam cortar os orçamentos e reformar suas economias subjacentes, apesar do profundo descontentamento do público com essa desaceleração mais recente, mesmo depois de quatro anos de esforços para combater a crise.
"O clima da economia mundial azedou", disse o presidente do banco central israelense, Stanley Fischer. "As expectativas não são muito positivas no momento."
Os bancos centrais adotaram medidas sem precedentes para apoiar o crescimento, indo até o limite de seus poderes. Agora, a bola está no campo de políticos que evitaram ações radicais sobre questões polêmicas durante anos. Para salvar a recuperação, eles precisam superar rapidamente grandes obstáculos políticos em casa para conseguir qualquer avanço em questões econômicas.
"É importante que fiquemos à mesa e trabalhemos nessas questões", disse ontem a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, no discurso de encerramento da reunião.
Nos dias anteriores, os políticos passaram muito tempo apontando o dedo uns para os outros, em parte para esquivar-se da culpa, em parte para pressionar os colegas a tomar medidas.
"A Europa não é a única região onde há preocupações econômicas", disse Ewald Nowotny, membro da diretoria do Banco Central Europeu. "Eu senti pelo menos o mesmo grau de nervosismo sobre o precipício fiscal dos EUA como sobre os desdobramentos na Europa."
O secretário do Tesouro americano, Tim Geithner, reconheceu que os EUA precisam de uma abordagem mais "equilibrada" para reduzir seu déficit e dívida durante vários anos, mas também disse que a economia americana enfrenta "ventos contrários da Europa". Embora ele tenha elogiado a zona do euro por ter elaborado uma estratégia para superar seus problemas, acrescentou: "O que importa é como isso será aplicado na prática".
O presidente do BCE, Mario Draghi, disse que um "otimismo prudente" sobre a economia da Europa é aconselhável, oferecendo uma visão um pouco mais positiva sobre as perspectivas da zona do euro do que o FMI.
Mas os desentendimentos entre as autoridades da zona do euro se ampliaram em Tóquio, à medida que esquentava o debate sobre como alterar o foco do bloco na austeridade fiscal.
O FMI quer que a Grécia seja autorizada a ter mais tempo para cumprir suas metas de redução do déficit, e alguns líderes europeus sugeriram apoio a essa flexibilidade nesta semana. A Alemanha, no entanto, se recusa a relaxar sua insistência de que um aperto no cinto fiscal é o caminho certo para seus vizinhos do sul, particularmente a Grécia.
A Grécia afirmou que ficará sem dinheiro antes do fim de novembro, forçando uma decisão por parte da UE nas próximas semanas sobre um novo resgate ou reestruturação da dívida para manter o país na zona do euro.
Fonte: The Wall Street Journal
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