Pesquisa do CEBDS mostra que serviços ecossistêmicos começam a entrar na agenda do setor de negócios do país, mas obstáculos nas estratégicas corporativas ainda atrapalham a incorporação do tema nas empresas
Uma nova pesquisa do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) revelou nesta segunda-feira (15) que a valorização dos serviços ecossistêmicos (SE) – alimentos, água doce, fibras, produtos químicos, madeira, medicamento, regulação do clima – está começando a ganhar espaço nas grandes empresas brasileiras.
O relatório, intitulado “Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos: a experiência das empresas brasileiras”, foi lançado durante a Conferência sobre Biodiversidade (COP11) , na Índia, e fez o levantamento de dados de 22 grandes empresas de dez diferentes setores da economia – energia, serviços, mineração, papel e celulose, óleo e gás, holding multissetorial, agrícola, química, equipamentos e cosméticos (Figura 1).
A pesquisa apontou que, em 2011,a maioria das empresas (67%) discutiam internamente o tema SEs, sendo parcialmente integrado às suas estratégias de negócios. Em 2012, a maioria (65%) continuou discutindo o tema, mas metade dos respondentes apontaram que essas discussões não estavam integradas nas estratégias da empresa.
Segundo o documento, o que leva as empresas a incorporarem os SEs aos seus sistemas de gestão são as oportunidades para os negócios, a dependência dos negócios em relação aos SE, a melhoria da imagem e a redução de riscos. Das companhias que participaram da pesquisa, 47% afirmam ter realizado em 2012 a valoração dos SEs, um crescimento de 15% em relação ao ano anterior.
Em 2012 os SEs apontados como mais relevantes pelos participantes foram água doce, regulação dos fluxos de água e controle de erosão, enquanto bioquímicos, valores éticos e espirituais e alimentos eram os menos relevantes (Figura 2).
“Depois de se debruçar sobre inventários em temas como água e carbono, agora o setor empresarial começa a se aprofundar neste novo campo. As companhias que entenderem que a restauração e manutenção desses serviços são essenciais para o bom funcionamento dos seus processos e, de forma proativa, liderarem as discussões, apresentarão uma vantagem competitiva em relação a futuras regulamentações que impactarão o setor privado”, comentou Marina Grossi, presidente executiva do CEBDS.
“Ao conhecer o real valor econômico de um ecossistema, uma empresa pode fazer, por exemplo, uma previsão de quanto irá realmente ter de prejuízo com a perda ou diminuição desse espaço. Com isso, pode definir estratégias para a conservação desse serviço natural”, observou Fernanda Gimenes, coordenadora da Câmara Temática de Biodiversidade e Biotecnologia do CEBDS.
Como exemplos de ações de valoração dos serviços ecossistêmicos são citados o Banco do Brasil, que tem um programa para o uso racional da água, a Caixa Econômica Federal, com um programa para conservação das florestas e manutenção dos SE, a ETH Bioenergia, com um projeto de recuperação de áreas degradadas, e a Natura, com a utilização sustentável de produtos e serviços da sociobiodiversidade.
Mas ainda há muitas barreiras nas empresas para a realização de avaliações sobre os SE, que, de acordo com o documento, são a falta de entendimento do valor de uma avaliação de SE para a empresa, a não valorização desta estratégia, o desconhecimento de ferramentas para tal, a não exigência de regras regulatórias, a falta de equipes capacitadas para realizar este trabalho, o desconhecimento sobre SE e a falta de recursos.
Para ultrapassar estes obstáculos, o relatório do CEBDS aconselha que sejam oferecidos programas de capacitação, o levantamento de dados e pesquisa sobre biodiversidade e serviços ecossistêmicos, a promoção de diálogos com especialistas, a avaliação das ferramentas disponíveis, e finalmente, o estreitamento do diálogo para o alinhamento das expectativas entre diferentes setores e empresas.
Externalidades
Os danos ao meio ambiente provocam prejuízos de até US$ 6,5 trilhões ao ano na economia mundial e pelo menos um terço deste valor poderia ser evitado caso governos e empresas investissem, anualmente, US$ 45 bilhões na conservação da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos.
Segundo o programa Princípios para Investimentos Responsáveis, conduzido em parceria com as Nações Unidas, estima-se que três mil empresas no mundo foram responsáveis por externalidades ambientais negativas no valor de US$ dois trilhões em termos de valor presente líquido em 2008. Tais externalidades ameaçam os próprios negócios e são representadas pela emissão de gases de efeito estufa (69% do total), super utilização e poluição da água, emissões particuladas, lixo e super exploração de madeira e recursos pesqueiros.
Fonte: Instituto CarbonoBrasil/CEBDS
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