País precisa melhorar o controle de suas finanças públicas, e alterar seu modelo econômico, hoje baseado no consumo, avalia Shelly Shetty, diretora da agência de classificação de risco.
Apesar de reconhecer os avanços econômicos realizados pelo Brasil nos últimos anos, com o desemprego e a taxa de juros em seus menores níveis históricos, e o alto nível das reservas internacionais, a Fitch entende que algumas questões, como a referente às finanças públicas do governo, ainda impedem que o país seja agraciado com uma classificação "A".
"O Brasil tem espaço para subir na categoria triplo B, mas não achamos que está preparado para um A. O país não tem um histórico de inflação, de estabilidade macroeconômica igual aos outros países classificados com o rating 'A'", afirmou Shelly Shetty, diretora sênior de ratings soberanos para América Latina da Fitch Ratings, que participou nesta quinta-feira (18/10) do evento "Mercados Emergentes 2012", promovido pela agência de classificação de risco, em São Paulo.
"O Brasil ainda tem o que fazer em relação à estabilidade da economia e combate a corrupção", ponderou Shetty.
As finanças públicas, na avaliação da diretora, são o calcanhar de Aquiles da economia brasileira, que tem um alto nível de despesas junto a um investimento público aquém do necessário.
Para Shetty, o país precisa mudar seu modelo econômico, que hoje é baseado no consumo da população, e redirecioná-lo com o intuito de propiciar um crescimento que encontre apoio nos investimentos que precisam ser tirados do papel.
Embora tenha diversificado sua economia, a diretora da agência ressalta que a dependência do país às commodities, que beira os 50%, é outro ponto que ainda o distancia de um rating "A", já que os países com essa classificação tem uma relação PIB/commodities em torno de 11%.
As autoridades brasileiras, segundo Shetty, devem seguir monitorando o crescimento do crédito no país atentamente, já que foi um fenômeno que ocorreu de maneira muito rápida, e não se sabe ao certo qual será a reação da nova classe média a um período mais prolongado e acentuado de retração da economia com aumento do desemprego.
"É importante o Brasil não estimular demais a economia, que pode conduzir a problemas fiscais", ponderou a diretora da agência.
O Banco Central (BC) do Brasil, que é de "primeira classe" na avaliação da Fitch, tem a seu dispor as ferramentas necessárias, como um câmbio flexível, para reduzir o risco do país às volatilidades internacionais.
"O Brasil pode depreciar o real para aguentar um choque externo", disse Shetty. "Se houver um choque de liquidez, claramente as autoridades poderão reagir".
De acordo com a diretora da Fitch, ações positivas nos ratings do país estão atreladas a uma melhora no arcabouço fiscal do governo, que precisa reduzir sua dívida, e a um desenvolvimento no mix de política monetária, que permita um crescimento robusto, e sem inflação.
Por outro lado, pressões negativas podem ocorrer caso a dívida governamental seja elevada.
"Além disso, o setor financeiro tem muitos passivos, o que claramente pode gerar uma pressão", destacou Shetty.
Fitch não acredita em pouso forçado da China
Desde 2010, o governo do gigante asiático optou por uma política monetária e creditícia austera, o que permitiu um controle da inflação, e que dá agora às autoridades da região um espaço para manobras, para que possa administrar um pouso suave de sua economia, disse Andrew Colquhoun, diretor sênior de ratings soberanos para Ásia da agência de classificação.
"A China tem escopo para flexibilidades, as finanças públicas estão abaixo de pares como Brasil e Índia", afirmou Colquhoun. "Em termos de política monetária, a China ainda tem poder de fogo".
De acordo com o diretor da agência, o caminho que o Brasil precisa tomar, de voltar seu modelo econômico do consumo para o investimento, é justamente o contrário do que precisa ser feito pela economia chinesa, que tem quase 50% de sua atividade voltada para investimentos.
"A China parece usar o capital de forma menos eficiente do que seus pares. A cada dólar investido, o retorno no PIB é menor do que o verificado na Índia ou no Brasil", ponderou Colquhoun.
Não é de hoje que são ouvidos relatos de grandes elefantes brancos no gigante da Ásia, com a construção de pontes que levam nada a lugar nenhum, e a inauguração de shoppings centers de alto padrão que vivem às moscas.
"O modelo que eles têm não pode avançar mais do que já avançou".
Caso o investimento siga com uma taxa de expansão acima de outros vértices da economia, logo sua representatividade irá ultrapassar a da poupança no país, o que fatalmente irá acarretar em um déficit na balança de pagamento, fato esse que as autoridades chinesas não devem querer pagar para ver, na opinião de Colquhoun.
O diretor da Fitch ressaltou que essa alteração da política não é um fenômeno sem precedentes na economia mundial.
Na década de 1970, recorda o especialista, o Japão passou por um processo semelhante, quando o país crescia a taxas semelhantes às apresentadas recentemente pela China, até que veio o choque de petróleo, quando os nipônicos tiveram de buscar um modelo pautado no aumento da renda de sua população.
Subsidiárias latino-americanas poderão ter ratings acima de suas matrizes
Com a crise da Europa, e o momento mais positivo entre os emergentes, a Fitch não descarta um cenário no qual as subsidiárias da América Latina de bancos da Espanha, como o Santander e o BBVA, tenham uma classificação de rating acima de suas matrizes.
As subsidiárias do Santander no Brasil, Chile e México já respondem por mais da metade da receita total da matriz espanhola, e foi esse capital proveniente da América Latina que permitiu à matriz aumentar sua base de capital criar um colchão de liquidez para cobrir seus empréstimos, segundo Franklin Santarelli, diretor-executivo de instituições financeiras para América Latina da Fitch.
"Os IPOs do Santander na América Latina são a melhor forma de o banco monetizar seus ativos sem perder seu controle. É um processo normal", disse Santarelli.
Fonte: Brasil Econômico
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