Em março, a jornalista Maria Vargas deu à luz o pequeno Tomás, tornando-se mãe aos 34 anos. Para ela, o primeiro filho veio na hora certa, com um relacionamento maduro e uma carreira estabelecida.
"Estou com meu marido há 12 anos, mas esperei porque priorizei minha vida profissional", afirma Maria, que é micro-empresária no Rio, sócia da empresa de comunicação Documenta.
"É uma realidade da vida contemporânea. Toda a minha turma é assim. São mulheres que sempre priorizaram os estudos, a profissão, e sempre pensaram na carreira".
A tendência das brasileiras de adiar o projeto da maternidade para depois dos 30 se reflete em novos dados do Censo de 2010 divulgados nesta quinta-feira pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Na média nacional, a idade média com que mulheres têm filhos teve um pequeno aumento, de 26,3 a 26,8 anos.
Mas quando são considerados os grupos de mulheres com maior escolaridade e renda, vê-se que a maternidade hoje se concentra entre os 30 e 34 anos, sobretudo em áreas urbanas.
Para Fernando Albuquerque, gerente do projeto de Dinâmica Demográfica do IBGE, o aumento da idade média para a fecundidade está ligado ao aumento da renda e do nível de escolaridade no país e à maior participação da mulher nas atividades econômicas.
"A mulher não tem mais filho tão cedo porque isso já vai atrapalhar toda a sua vida, tanto escolar quanto profissional. Ela adia esse filho para depois que se formar e se estabelecer no mercado de trabalho", considera.
Mobilidade social
Dados do IBGE mostram que a idade média das mães brasileiras vinha caindo desde os anos 1970, quando era de 29,9 anos, contra os 26,8 anos atuais. A idade média era mais avançada, mas isso não significa que as mulheres começassem a ter filhos mais tarde.
Segundo Albuquerque, a média tardia refletia uma realidade em que era comum as mulheres terem mais filhos, ao longo de mais tempo. Com a maior independência da mulher e a redução dos índices de natalidade, essa idade média vinha caindo um pouco a cada década, entre 1970 e 2000.
Mas os resultados do Censo 2010 divulgados nesta quarta-feira indicam uma nova tendência de aumento da idade pela primeira vez desde 1970, puxado pelo grupo de mulheres que espera mais para ter filhos - seja pelo trabalho, vida acadêmica ou outros fatores.
"A ascensão social é mais fácil de ser realizada quando a mulher tem uma família pequena ou mesmo não tem filhos", diz Albuquerque. "As mulheres de classe mais baixa que têm muitos filhos provavelmente param de estudar e têm mais dificuldade de entrar no mercado de trabalho."
Antes de ter sua filha, a professora Franciane Zanetti Campanerut quis concluir sua pós-graduação em ensino de ciências, ganhar experiência dando aulas (é professora de química e biologia em São Paulo) e economizar para comprar seu carro e apartamento.
Há nove anos com o marido, ela já convivia com pressão da família e tinha esgotado a cota de desculpas para adiar a maternidade.
Em agosto, aos 33 anos, ela teve Laila, que amamentava ao conversar por telefone com a BBC Brasil de sua casa em São Paulo.
"Apesar de eu ter um pouco mais de escolaridade, isso não garante um salário exorbitante, não garante bens. É preciso lutar, fazer financiamentos. E agora com filho o orçamento fica mais apertado, então era necessário que essas coisas já estivessem organizadas", diz.
Tanto Franciane quanto Maria tiveram que buscar um equilíbrio entre o tempo que investiriam na profissão e o relógio biológico. Queriam trabalhar, estudar, mas não queriam esperar até depois dos 35 anos para ser mãe, com medo de não conseguir engravidar.
Mas Maria considera que a escolha sobre o momento de ter o filho cabe mais à mulher, que acaba acumulando mais funções do que o homem quando a criança nasce.
"A mulher abre mão de muito mais coisas", considera. "Eu tive que parar de fazer ginástica, terapia e aulas de inglês, senão não teria tempo com meu filho".
Renda e escolaridade
Os dados do Censo 2010 mostraram que a taxa de fecundidade no Brasil (o número médio de filhos por mulher) baixou de 2,38 em 2000 para 1,90 na nova pesquisa. Pela primeira vez, ficou abaixo do chamado nível de reposição, a média de 2,1 filhos que garante que o número da população continue estável.
Embora os índices de natalidade no Nordeste ainda sejam os maiores do país (2,47), Albuquerque destaca que mesmo em Estados como o Piauí e a Paraíba, a média de filhos ficou abaixo do nível de reposição, em 1,97.
Mas independentemente da região do país, a taxa de fecundidade cai de forma consistente à medida que o nível de escolaridade aumenta.
Entre as mulheres sem instrução ou com ensino fundamental incompleto, a taxa é de 3,09 filhos por mulher, enquanto as mais com ensino superior completo têm 1,14 filho em média.
Entre estas últimas, a maternidade tem seu pico entre os 30 e 34 anos. Já entre os grupos de menos escolaridade, a concentração se dá entre os 20 e 24 anos.
A renda também é uma variável importante. Nos domicílios com rendimento abaixo de 1/4 de salário mínimo per capita, a média de filhos é de 3,9.
Já em casas onde a renda é superior a 5 salários mínimos por pessoa, a média é de menos de um filho por mulher (0,97), e elas também tendem a ter filhos depois dos 30 anos.
Fonte: BBC Brasil
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