Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Em meio à crise, parte da Europa prospera com crescimento, emprego e baixa dívida


O menor nível de desemprego desde os anos 1990, contas públicas saudáveis, ótimo crédito do governo nos mercados, inflação sob controle e crescimento econômico estável.
A descrição acima poderia ser a de vários países do mundo antes da crise econômica internacional que começou em 2008. Mas ela se encaixa também no cenário atual de alguns países da Europa que, em meio à pior recessão do continente desde o final da Segunda Guerra, estão em relativa prosperidade.

Enquanto o sul europeu agoniza, nações ao norte mantêm alguns índices comparáveis ao pré-crise, mostrando que a recessão está aumentando a desigualdade dentro do bloco econômico regional.
A Alemanha é um dos países que mais se destaca na Europa do norte. No começo deste ano, quando a Europa começava o segundo mergulho da sua recessão, o desemprego alemão alcançou o menor patamar desde a reunificação do país, em 1990.
A previsão do FMI é de que a economia alemã vai crescer 0,9% este ano. O índice pode parecer baixo, mas em termos absolutos significa US$ 32 bilhões – quase o mesmo valor do Brasil, cuja previsão de crescimento é de 1,5% em 2012. Já as economias de Grécia, Espanha e Itália vão contrair US$ 90 bilhões neste ano.
Um dos motivos do bom desempenho alemão é que o país consegue continuar exportando mesmo em meio à crise. Dados deste mês da Associação de Câmeras de Indústria e Comércio (DIHK) indicam que as exportações alemãs vão crescer 4% este ano, quando a Europa voltou a desacelerar.
"As exportações alemãs são muito diversificadas e não dependem apenas de um mercado", explica à BBC Brasil o economista Ilja Nothnagel, da DIHK. "Enquanto outros países europeus como Portugal exportam um quarto da sua pauta para apenas um parceiro comercial, neste caso a Espanha, a Alemanha concentra pouco as exportações. A França, maior destino das exportações alemãs, recebe apenas 9,5% da pauta. Então quando vem a crise, a Alemanha está melhor posicionada do que os demais."
Ele diz que tanto as exportações quanto o mercado interno tiveram papel importante em manter o baixo nível de desemprego. Desde o começo do ano, o desemprego alemão não ultrapassou 5,6% - quase metade da média da União Europeia e no mesmo nível que a taxa brasileira.
"O bom desempenho da economia alemã é liderado pelas exportações, mas também há uma porção grande de empregos que depende do mercado interno", diz Nothnagel.
"Tivemos uma mudança importante que surgiu durante a crise. O desemprego só aumentou um pouco durante a crise, porque entrou em vigor um novo esquema do governo."
O esquema permite que empresas cuja produção cai abaixo de 60% - por falta de pedidos - possam recorrer à ajuda do governo. Nesses casos, o empregador usa seus trabalhadores em apenas 60% do tempo e paga essa proporção do salário. O resto é coberto pela agência de trabalho do governo.
"No momento em que os pedidos crescessem novamente, bastava a empresa usar seus trabalhadores em turno integral. Isso manteve o desemprego bastante baixo na Alemanha. A reação às quedas e aumentos de pedidos ficou bastante rápida, e também não havia grandes custos demitindo e recontratando pessoas."

'Pleno emprego' austríaco

Em termos de desemprego, um país se destaca ainda mais do que a Alemanha. A Áustria possui uma taxa de 4,5% - a menor de toda a Europa. Um contraste enorme com a Espanha, onde um em cada quatro trabalhadores está sem emprego.

Alguns economistas argumentam que o índice austríaco é tão baixo que o país pode ser considerado em situação de pleno emprego.
A empresa de construção civil Strabag - uma das maiores empregadoras do país - atua em toda a Europa. Durante a crise, o número de empregados variou em quase todos os países onde a empresa atua. No entanto, a Strabag emprega praticamente o mesmo número de pessoas há quatro anos - 10 mil.
"A Áustria não foi afetada tão fortemente pela crise. Nós ainda temos um setor de tecnologia de ponta, relativamente baixo endividamento público e um sistema fiscal que facilita o empreendedorismo. A Áustria é um porto seguro em comparação com outros países europeus", disse à BBC Brasil a porta-voz da empresa, Diana Klein.
Ela afirma que mesmo com o alto número de pessoas já empregadas no país, a empresa ainda tem espaço para novos funcionários. No momento, há uma demanda na Áustria por trabalhadores com nível universitários, como engenheiros civis e matemáticos.
Enquanto o mercado austríaco se mantém estável, em outros países há grande flutuação na força de trabalho. Países como República Checa e Hungria estão com desemprego em alta devido ao impacto da crise europeia na construção civil. Já em mercados que passam por booms imobiliários neste momento - como Polônia e Alemanha - a Strabag está recrutando novos funcionários.

Dívida sueca


O baixo endividamento público citado pela empresa austríaca é um dos fatores que ajudou outro país do norte da Europa a mitigar os impactos da crise europeia.
A dívida pública da Suécia corresponde a 38,5% do seu PIB, uma das mais baixas da Europa.
Um estudo do economista Lars Calmfors, da Universidade de Estocolmo, afirma que após uma grave crise fiscal nos anos 1990, o país passou por uma grande reforma para reduzir o nível do seu endividamento, com medidas de austeridade e metas rígidas de gastos público.

Duas Europas

O país 'ideal' tem:
  • o desemprego da Áustria: 4,5%
  • o crescimento econômico da Eslováquia: 2,6% em 2012 (previsão)
  • o endividamento da Estônia: 6% do PIB
  • o juro em título do governo da Alemanha: 1,4%
O país dos 'pesadelos' tem:
  • o desemprego da Espanha: 25%
  • o crescimento econômico da Grécia: -4,7%
  • o endividamento da Grécia: 165%
  • o juro em título do governo da Grécia: 18%
Dados: Eurostats, Trading Economics, FMI e Banco Mundial.

Grande parte dessas medidas - como reforma do sistema de pensões e responsabilidade fiscal - são semelhantes às que estão sendo impostas a países do sul da Europa. A diferença é que elas foram feitas na Suécia em um momento em que a economia global estava em expansão.
"O principal benefício (para a população) é que não precisamos passar por medidas de austeridade fiscal em períodos de recessão na economia global. Nós tivemos espaço até para estímulo fiscal durante a recessão de 2008 e 2009, e não precisamos cortar gastos públicos ou aumentar impostos", disse Calmfors, à BBC Brasil.
"Veja o caso do Reino Unido, da Irlanda e do sul da Europa. Eles tiveram que adotar verdadeiros programas de austeridade fiscal que reduziram a demanda e contribuíram para crescimento muito baixo ou até negativo. Nós evitamos isso e tivemos até um pouco de estímulo."
A economia da Suécia teve forte contração no primeiro momento da crise, com queda de 5,5% em 2009, mas já em 2010 o país cresceu 6,6%.
Outra vantagem da baixa dívida pública é que o país pode tomar empréstimos mais baratos no mercado internacional, pois - com riscos menores - os juros cobrados nos seus títulos são mais baratos.
Atualmente, os títulos de 10 anos da dívida sueca pagam juros de 1,5% ao ano. Já o governo da Grécia – cuja dívida é 165% de seu PIB – só consegue empréstimos a juros na faixa de 18% ao ano - comparável ao cobrado por cartões de crédito.

Fonte: BBC Brasil



Nenhum comentário:

Postar um comentário