SÃO PAULO, 23 Out (Reuters) - O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, defendeu nesta terça-feira que o momento é de continuar investindo e consumindo no país e avaliou que os impulsos dados à atividade econômica nos últimos meses ainda não se refletiram em sua totalidade.
Segundo ele, a economia brasileira já está ganhando velocidade e a atividade crescerá em torno de 4 por cento em termos anualizados no segundo semestre e em 2013. E tudo isso num cenário de inflação sob controle.
"É um momento de olhar mais para dentro e, independentemente do ambiente internacional, continuar investindo e consumindo no país dentro de um ambiente de absoluta estabilidade tanto no sistema financeiro quanto na economia em geral", afirmou Tombini ao participar de evento em São Paulo com empresários.
Tombini disse o sentimento dos agentes econômicos no Brasil tem sido particularmente afetado pela crise internacional, e isso tem comprometido as decisões de investimento.
"O canal que mais tem afetado o desempenho da economia (...) é o que flui via sentimento das famílias e, principalmente dos empresários", avaliou o presidente do BC, acrescentando que o recuo nos investimentos no curto prazo "repercute no médio e longo prazos em um menor ritmo de expansão da oferta agregada".
Tombini disse que a expectativa de crescimento no país se ampara na sustentação da demanda doméstica, com a taxa de desemprego em envies historicamente baixos, e nos impulsos econômicos promovidos pelo governo.
O BC estima que o Produto Interno Bruto (PIB) crescerá este ano 1,6 por cento.
INFLAÇÃO CONVERGINDO
O mercado vê que a inflação se afastando cada vez mais do centro da meta oficial, de 4,5 por cento pelo IPCA. Além disso, demonstra dúvidas sobre como a política monetária será conduzida em 2013. Uma parte acredita que o BC manterá a Selic na atual mínima histórica ao longo de todo o próximo ano. Outra parte acredita que ela pode ser elevada.
"Nos próximos anos, a política monetária continuará sendo conduzida tendo como foco, exclusivamente, o compromisso com a estabilidade de preços", disse ele, destacando ainda a importância do regime de metas de inflação adotado há 13 anos no país --com oito anos consecutivos de cumprimento das metas.
Tombini disse a evolução da inflação sugere que os impactos de choques de oferta -- como o aumento dos preços das commodities por conta da seca nos Estados Unidos -- já foram transmitidos, em grande parte, para os preços ao consumidor, e os impactos remanescentes tendem a ser menores.
"Em síntese, quero reafirmar que a inflação no Brasil está sob controle e se desloca na direção da trajetória de metas, ainda que de forma não linear", repetiu ele.
EUROPA, CHINA E EUA
No cenário internacional, o presidente do BC voltou a afirmar que a perspectiva continua sendo de baixo crescimento econômico por um período prolongado, e que a Europa continua sendo a principal fonte de preocupação, mesmo com os avanços registrados nos últimos tempos.
Tombini disse ainda que é exagerada a percepção de que a economia brasileira é dependente da China, cuja economia deve se desacelerar com um "pouso suave".
"Não há como ignorar, entretanto, que o fraco desempenho da economia mundial e, em especial, a desaceleração do ritmo de crescimento da economia chinesa, ao contribuírem para o recrudescimento do comércio internacional, também impactam o desempenho da economia brasileira", afirmou ele.
Sobre os Estados Unidos, Tombini destacou que a principal insegurança está no campo fiscal, com peso sobre as decisões de gastos das famílias e de investimentos de empresas norte-americanas.
O presidente do BC afirmou ver ainda "alguns sinais de recuperação" da economia dos EUA, citando como exemplo o mercado imobiliário, com retomada das vendas, redução de estoques, recuperação de preços e aumento do crédito.
No entanto, ele ponderou que "essa melhora nos indicadores parte de um patamar extremamente baixo, não havendo ainda sinais consistentes de que se trata de um processo sustentável".
Tombini refutou ainda a possibilidade do Brasil adotar a política monetária de países desenvolvidos, com abundância de recursos e taxas de juros negativas por longo prazo.
"Não estamos correndo risco de deflação. Temos que preservar o benefício de termos ancorado nossas expectativas de inflação por meio de políticas robustas e críveis", acrescentou.
SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL
Tombini voltou a afirmar ainda que o Sistema Financeiro Nacional (SFN) é sólido e que a autoridade monetária tem aperfeiçoado suas avaliações.
"O processo de aperfeiçoamento da regulação prudencial e da supervisão do sistema financeiro é um processo contínuo, sem fim, e precisa acompanhar as inovações que são incorporadas a todo dia pelos mercados", afirmou ele.
Na semana passada, o BC fez uma intervenção no banco BVA, a quinta ação desse tipo nos últimos dois anos.
Fonte: Reuters Brasil
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