Durante anos, investidores de commodities tinham uma decisão fácil: era só comprar qualquer coisa que a China estivesse comprando. Agora, com o crescimento chinês perdendo força e, com ele, a demanda por matérias-primas, os investidores estão tendo um pouco mais de trabalho.
Alguns já se afastaram de commodities que dependem muito da demanda chinesa, tais como materiais básicos, algodão e soja. Outros estão procurando áreas que vão continuar a crescer não importa o que aconteça com a China, tais como o mercado de gás natural nos Estados Unidos. E alguns estão simplesmente desistindo completamente de commodities.
Esses movimentos são uma grande mudança no mercado de commodities. O aparentemente insaciável apetite da China por matérias-primas foi a locomotiva do boom de commodities dos últimos anos, levando a enormes ganhos de preço para petróleo, algodão e outros produtos. Agora, investidores têm de descobrir quais commodities são mais vulneráveis, à medida que a segunda maior economia do mundo reduz a marcha.
A estratégia de simplesmente comprar o que a China precisa já não vale mais", disse Na Liu, um consultor de estratégia chinesa do banco Scotia Capital e fundador da firma de gestão de ativos CNC Asset Management Ltd.
Lui calcula que as commodities que estão com excesso de oferta são as que têm mais risco. Ele está aconselhando clientes a ficarem longe de alumínio, zinco, níquel e aço. Mas diz que uma escassez de cobre e grãos vai ajudar a aumentar os preços.
Outros estão concentrados na demanda. A China é o principal contribuinte para o crescimento mundial da demanda por materiais industriais e muitos produtos agrícolas, como algodão e soja. O país hoje responde por 42% de todo o uso de materiais básicos no mundo. sem a China, o resto da demanda mundial por alumínio, cobre, chumbo, níquel, estanho e zinco teria caído 2,6% no segundo trimestre deste ano, em vez de ter subido 2,3%, segundo Marina Rousset, uma pesquisadora do Fundo Monetário Internacional.
Mas o impacto do país em mercados como o de petróleo e ouro é menos pronunciado. A China responde por menos de 11% do consumo mundial de petróleo bruto, um distante segundo lugar em relação aos EUA, que usa 20%, segundo a Agência Internacional de Energia. No mercado do ouro, a China e a Índia estão parelhas, com a Índia tendo consumido mais ouro no segundo trimestre, segundo o Conselho Mundial do Ouro.
Jeffrey Sherman, um gerente de carteira de commodities da DoubleLine Capital LP, que administra US$ 45 bilhões em ativos, agarra-se a esses números. Por essa razão, ele está pessimista com os metais básicos, tais como cobre e chumbo. O fundo não tem exposição a essas commodities e está considerando fazer apostas de que os preços vão cair se as condições econômicas mundiais continuarem a piorar.
"O grande período de alta para a China já ficou para trás", diz Sherman. "Não vamos ver as taxas de crescimento de dois dígitos novamente', disse ele.
A DoubleLine está se voltando aos mercados de combustíveis, que ele vê como menos vulneráveis à desaceleração da economia chinesa. Ele diz que a inundação de dinheiro resultante das políticas de bancos centrais, associada a tensões geopolíticas no Oriente Médio, vão manter os preços em alta.
A preocupação quanto à China se reflete nas fortes saídas de investimentos em fundos mútuos de commodities. Nos primeiros sete meses deste ano, os fundos de commodities tiveram uma saída líquida de quase US$ 6 bilhões, enquanto no mesmo período de 2011 tiveram ingresso líquido de US$ 7,8 bilhões, segundo o Barclays. Os saques foram alimentados pela "particular sensibilidade das commodities à China, onde temores de um pouso forçado [...] continuam no alto da lista de preocupações de investidores", escreveram analistas do banco britânico numa nota aos clientes.
Em agosto, só 2% dos investidores pesquisados expressaram interesse em fundos de commodities focados na China, que costumam investir em soja, borracha e minério de ferro, uma queda em relação aos 15,4% do começo deste ano, segundo a Bringhton House Associates, LLC, uma firma americana que pesquisa tendências entre investidores.
Claro que a influência da China em muitos mercados ainda é enorme, e o país continua a crescer. A Economia chinesa deve crescer de 7% a 8% este ano, menos do que sua média anual de 10% dos últimos dez anos. Um novo pacote de estímulo do governo pode levar a ganhos de preços em algumas commodities.
"Ainda é um crescimento forte, mas é bem menor do que aquilo com que todo mundo se acostumou", disse Ric Deverell, diretor mundial de pesquisa de commodities do Credit Suisse.
Fonte: The Wall Street Journal
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