Por Patrícia Stefani*
Uma característica marcante da crise econômica iniciada em 2008 foi a queda brutal experimentada pelo comércio internacional. Calcula-se que sua contração como proporção do PIB tenha sido da ordem de 30% e que o volume do comércio mundial tenha retraído cerca de 20% em relação ao seu pico pela primeira vez desde o pós-guerra.
Dentre as causas principais para esse quadro, duas são de destaque. A primeira está relacionada à queda da demanda de bens transacionáveis, principalmente de duráveis. A segunda explicação está ligada ao que se define como fricções de comércio, que incluem desde problemas de escassez de crédito para o financiamento das atividades exportadoras até medidas protecionistas.
Estudos indicam que a importância relativa de cada uma delas depende da região analisada. No caso da Europa e Estados Unidos, quase que a totalidade da queda no comércio esteve ligada ao choque de demanda, com o comércio se recuperando lentamente.
Embora o comércio mundial tenha recuperado o nível pré-crise, no caso da Europa os números recentes apontam para um quadro ainda preocupante, com as importações da Zona do Euro tendo se retraído em mais de 7% em termos reais nos últimos doze meses.
Com relação a outros países importantes para o comércio mundial, as fricções comerciais explicam a maior parte da retração comercial experimentada em 2008-2009 na China e no Japão.
No caso japonês, esse fenômeno está muito ligado à questão da restrição ao credito enfrentada pelas empresas exportadoras devido aos problemas no setor bancário. A China foi, nesse período, um dos países que mais aumentaram as barreiras temporárias à importação, segundo dados do Banco Mundial.
Como China, EUA e Europa têm grande peso no comércio global e são parceiros importantes para o Brasil, o prognóstico desanimador para a recuperação das economias da zona do euro, a desaceleração da economia chinesa e a fraca recuperação americana tornam o quadro preocupante.
Vale destacar que, segundo o último relatório trimestral de inflação do BCB, as exportações brasileiras para a União Européia caíram 8,4% e mantiveram-se estáveis para a China de janeiro a agosto.
No entanto, tentar proteger a fatia de mercado das empresas nacionais e reduzir as importações através de barreiras ao comércio não parece ser o caminho mais frutífero, principalmente quando se impõem restrições sobre as importações de bens intermediários e de capital.
Existem inúmeras evidências que mostram que o comércio internacional tem um impacto positivo sobre a produtividade das firmas domésticas, principalmente pela importação de insumos de produção.
Além disso, evidências apontam para a existência de uma complementaridade entre a importação de insumos, que tende a reduzir o preço dos mesmos, e o incentivo que as empresas têm em investir em inovação tecnológica, dada a queda nos custos de produção.
Assim, embora o quadro macroeconômico mundial seja preocupante, quer pelo fraco desempenho das economias avançadas, quer pelo aumento das medidas de proteção comercial, é importante que as medidas adotadas para estimular a economia nacional no curto prazo tenham a cautela necessária para não prejudicarem as empresas e a economia no longo prazo.
*Economista da Ideias Consultoria
Fonte: Brasil Econômico
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